Por: Alex Saratt.
A grande mídia brasileira veiculou – com uma ponta de regozijo e outra de recriminação – o dado que aponta que os beneficiários do programa de transferência de renda e erradicação da miséria conhecido por Bolsa Família gastaram cerca de 3 bilhões de reais nas apostas dos chamados “bets” – fenômeno deletério que assola o país e fez do Brasil campeão mundial nesse tipo de jogatina.
O moralismo seletivo, parcial, distorcido e desconexo da realidade concreta serve para inflexões ideológicas marotas e maldosas, ocultando o verdadeiro caráter dessas operações fraudulentas e altamente lucrativas para os donos do capital.
Mascara inclusive a falência do próprio discurso e prática neoliberais, tão apegados às ideias motrizes do esforço individual, do trabalho duro e do empreendedorismo vencedor e infalível. A epidemia de bens se alastra na exata medida em que o crescimento da economia capitalista brasileira segue padecendo das suas mazelas históricas, a começar pela desigualdade e má distribuição de renda.
Nada mais previsível e óbvio do que esperar que uma multidão de subempregados, precários, desempregados e excluídos mire na “sorte grande” a oportunidade de – magicamente – vencer os perrengues de uma vida matizada pelos anos cruéis de golpismo, ultraliberalismo, bolsonarismo, negacionismo e outros “ismos” sempre acompanhados de desprezo pela vida, ruptura do tecido social, ganância desenfreada e exibicionismo material puro e simples.
Triunfo e decadência do sistema arquitetado e estruturado para manter as massas entre a miséria, resignação, fé religiosa e soluções mágicas, a emergência – no amplo sentido do termo – das bets exige um exame crítico e uma ação contundente para conter esse espólio da economia familiar e flanco para a lavagem de dinheiro, vício generalizado é sinônimo de contínua desvalorização do trabalho e do ser humano.
Aos que vendem o veneno seria de estranhar que oferecessem a cura. É preciso refutar a abordagem superficial, preconceituosa e mentirosa feita pela imprensa marrom e afirmar o papel regulador e de sanidade social do Estado, da Democracia e das leis para impedir que essa chaga siga tungando bolsos e esperanças do povo brasileiro.
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