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/ sexta-feira, setembro 20, 2024
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Professor da UFMA explica o que é e os principais cuidados contra a febre do oropouche

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A Febre do Oropouche (FO) tem ganhado destaque como uma preocupação crescente em várias regiões da América Central e do Sul. De acordo com o Ministério da Saúde, a FO é uma doença provocada por um arbovírus (vírus transmitido por artrópodes) do gênero Orthobunyavirus, pertencente à família Peribunyaviridae.

O vírus Oropouche (OROV) foi identificado pela primeira vez no Brasil, em 1960, em uma amostra de sangue de uma preguiça (Bradypus tridactylus) capturada durante a construção da rodovia Belém-Brasília. Desde então, casos isolados e surtos foram registrados no Brasil, especialmente nos estados da região Amazônica. Além disso, surgiram relatos de casos e surtos em outros países da América Central e do Sul, como Panamá, Argentina, Bolívia, Equador, Peru e Venezuela.

A febre do oropouche se manifesta com sintomas como febre alta, dores de cabeça intensas, dores musculares e articulares, além de sintomas gastrointestinais. A doença pode causar grande desconforto e incapacidade temporária, impactando significativamente a qualidade de vida dos afetados.

Segundo dados do Ministério da Saúde, em 2024, foram registrados 7.236 casos de febre do oropouche em vinte estados brasileiros. A maior parte dos casos foi registrada no Amazonas e Rondônia. No Estado do Maranhão, a Secretaria de Estado da Saúde (SES) confirmou dezoito casos de FO, sendo um em Açailândia, um em Pinheiro, um em Santa Rita, dois em São Luís, quatro em Bacabeira e nove em Cidelândia.

A Universidade Federal do Maranhão (UFMA) tem se destacado na luta contra a febre do oropouche, informando a comunidade sobre os riscos e as medidas necessárias para evitar a contaminação. Para uma compreensão abrangente dos cuidados necessários e das formas de transmissão, o mestre em Entomologia e doutor em Zoologia, professor da UFMA José Manuel Macário Rebêlo, responde a algumas perguntas.

Confira a entrevista concedida à Diretoria de Comunicação da UFMA abaixo:

Diretoria de Comunicação – Como se contrai a febre do oropouche?

José Manuel Macário Rebêlo – O meio de transmissão natural é pela picada de fêmeas de maruins da espécie Culicoides paraensis (insetos da ordem dos dípteros e da família Ceratopogonidae). Esses insetos são muito pequenos, quando pousam em nossa pele para infligir a picada, parece um grão de pólvora, por isso, comumente são chamados de mosquito-pólvora. Como são muito frequentes nos manguezais, são conhecidos também pelo desígnio mosquito-do-mangue.

Existe transmissão alternativa da febre do oropouche?

De acordo com o Ministério da Saúde há a suspeita de que o vírus seja passado da gestante para o feto, por isso, é preciso manter a vigilância para a possibilidade de transmissão vertical do vírus Oropouche. Também há possibilidade de o vírus ser transmitido por outros maruins, além de Culicoides paraensis, e por outros insetos, como os mosquitos e pernilongos, mas isso só vai ser confirmado em pesquisas futuras.

DCom – Quais são os principais sintomas da doença?

JR – Os sintomas são parecidos com os de outras doenças transmitidas por mosquitos como zika virus e febre chikungunya ou seja: febre de início repentino, dor de cabeça, dores musculares e nas articulações, além de tontura, dor na parte posterior dos olhos, calafrios, náuseas e vômitos. Na maioria dos casos, manifestações, como febre e dor de cabeça persistem por duas semanas. Pode ocorrer sintomas mais próprios e, eventualmente, pode ocorrer a evolução de problemas mais graves como meningites ou meningocefalites.

DCom – Há exames que detectam a doença?

JR – O diagnóstico da febre do oropouche é clínico, epidemiológico e laboratorial. Na fase inicial da doença, o exame PCR (método de biologia molecular) é o mais indicado. Todo caso com diagnóstico de infecção pelo OROV deve ser notificado.

DCom – Qual o tratamento da febre do oropouche?

JR – Como outras arboviroses, não há tratamento para a doença. A prevenção é feita mediante a proteção contra o vetor (os maruins).

Quem é o reservatório?

No ciclo silvestre, animais como bichos-preguiça e macacos infectados funcionam com fonte da infecção para o vetor, enquanto, no ciclo urbano, os seres humanos são os mais infectados.

Curiosidade!

Essa arbovirose ou doença transmitida por vetores, foi descoberta na década de 60, mas ainda é pouco estudada no Brasil. A notificação epidemiológica dessa doença é muito difícil de ser demonstrada, pois a falta de diagnóstico preciso em hospitais fazem com que os casos sejam subnotificados, por isso foi negligenciada por anos. Agora está requerendo uma atenção especial, devido aos surtos isolados periódicos em populações humanas, principalmente, na região Norte (Pará, Amazonas, Tocantins, Acre, Amapá, entre outros) e Mato Grosso. Recentemente, apareceram casos espalhados pelo Maranhão.

DCom – Quais são os principais métodos de prevenção que a população pode adotar para evitar a propagação dessa doença?

JR – Como a doença é transmitida por maruins, o ideal é manter-se longe deles. Evitar o contato com áreas de grandes infestações (brejos, alagadiços, manguezal etc) e minimizar a exposição às picadas. Como medidas paliativas individuais, as pessoas podem usar repelentes, os mesmos indicados para os mosquitos e pernilongos, e seguir as recomendações do fabricante. Contudo é indicada a limpeza de terrenos e de locais de criação de animais domésticos, como estábulos e currais, nos arredores das casas, recolhimento de folhas e frutos que caem no solo e fezes de animais. Os maruins podem procriar nesses ambientes úmidos e ricos em matéria orgânica, além de corpos d’água próximos (brejos, alagadiços, manguezal).

DCom – Qual é a importância da educação pública e da conscientização para prevenir a propagação da doença?

JR – O controle de maruins é um grande desafio, e diversos métodos são empregados. Os inseticidas nem sempre são eficazes para controlar maruins. Aqueles que são altamente tóxicos não são mais recomendados. A aplicação de substâncias com baixa toxicidade (menos prejudiciais ao meio ambiente), incluindo os piretróides, derivados de produtos vegetais, mesmo que funcionem para mosquitos e pernilongos, parecem que não reduzem a abundância de maruins.

O manejo ambiental integrado parece que é uma boa opção. Pode ser adotado em áreas com infestações de maruins. Conforme o estudo executado por pesquisadores do LEV-UFMA, o processo de manejo envolve limpeza, retirada da folhagem do solo, poda de árvores para aumentar a penetração da luz, retirada de lixo e redução do aporte de matéria orgânica próximo às casas. Este método serve para reduzir ou eliminar potenciais áreas de reprodução, diminuindo o assédio de insetos aos moradores. A gestão ambiental é um processo barato e eficaz que pode e deve ser conduzido pelos habitantes locais das áreas focais. Essa estratégia de controle vetorial é incentivada pelo Ministério da Saúde, mas em conjunto com a vigilância epidemiológica e o controle entomológico (vetorial). No entanto todas as medidas de controle devem ser implementadas com cautela e requerem a integração de esforços por parte de vários setores governamentais (por exemplo, Secretaria do Meio Ambiente, Agricultura, Educação e Saúde), universidades e membros da população afetada. A pesquisa da doutora Bandeira (LEV-UFMA) sobre a influência do manejo ambiental nos Lençóis Maranhenses demonstrou que é possível reduzir a população de maruins e outros insetos vetores que se criam nos arredores das casas, adotando a limpeza como uma medida de controle vetorial. Abrigos ativos de animais domésticos, como chiqueiro, galinheiro, estábulo e curral são fortes atrativos para os maruins. A presença de animais domésticos e abrigos de animais, e a falta de gestão ambiental (limpeza) podem contribuir para uma maior infestação desses insetos indesejados. Então é preciso ficar vigilante quanto a esses aspectos. Atividades de educação ambiental e de saúde são muito úteis para ajudar as pessoas a se livrarem dos maruins e outros insetos.

Maruins no Maranhão?

As nossas pesquisas entomológicas realizadas no Estado do Maranhão resultaram no encontro de mais de quareta espécies de maruins, inclusive o Culicoides paraensis (o principal vetor da febre do oroupoche). Porém, nem em todos os lugares onde ocorreram casos de febre do oropouche, essa espécie está presente. As vezes devido à mobilidade das pessoas, um paciente pode adquirir o vírus num lugar e adoecer em outro. Essa é uma informação muito importante para a vigilância epidemiológica. É preciso procurar o vetor onde o paciente mora, se não encontrar, faz-se a busca por onde ele andou. Por outro lado, as pesquisas não devem ser direcionadas apenas para o Culicoides paraensis, é preciso procurar outras espécies de maruins e também os mosquitos culicídeos, pois Culicoides paraensis não é um maruim comum, não está em todos os locais de foco da doença.

Atenção!

A febre de oropouche é um problema de saúde pública, e deve ser mais estudada para que não seja confundida com outros tipos de doenças virais. Precisamos implantar urgentemente laboratórios com infraestrutura adequada e recursos humanos especializados.

www.blogmardenramalho.blogspot.com/Sarah Dantas

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