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/ sábado, julho 6, 2024
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Adilson: unidade entre empresários e trabalhadores amplia o clamor contra juros absurdos

Adilson Araújo, presidente da CTB. Foto: CTB
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Em entrevista exclusiva para o HP, Adilson Araújo, presidente da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil), fundamentou a proposta de unidade entre nós, os trabalhadores, e empresários da indústria, aclamada no Seminário Nacional em Defesa da Reindustrialização do Brasil, realizado no dia 11 de junho, sob seu patrocínio. “Chegou a hora de ampliar o coro contra as taxas de juros absurdas”, afirmou.

Adilson defendeu o legado deixado por Getúlio Vargas e a necessidade de “nos apropriarmos dessa experiência”, que possibilitou que o Brasil, durante 50 anos, tivesse o PIB que mais cresceu no planeta. Declarou que a política macroeconômica definida no Consenso de Washington arrochou principalmente os trabalhadores, mas também arruinou a burguesia industrial.

 

Leia a seguir a entrevista integral:

HP – Qual o saldo que a CTB espera com a realização desse debate entre as confederações de trabalhadores e a CNI?

Adilson Araújo – É chegada a hora de ampliar o coro contra as taxas de juros absurdas e pôr fim à autonomia do Banco Central. Um banco central precisa estar em sintonia com o presidente eleito, que defende menor taxa de juros, maior oferta de crédito para estimular os investimentos privados. Esse precisa ser o clamor Nacional: fora Roberto Campos Neto.

HP – E as propostas?

Adilson – O seminário objetivou também aprofundar o debate sobre a necessidade da reindustrialização do país e estratégias para o novo projeto Nacional de Desenvolvimento. Retomar, com celeridade, o Programa de Aceleração do Crescimento atribuindo valor nos investimentos, com compras do Estado prioritariamente às empresas de conteúdo nacional, créditos para indústria a juros decentes.

HP – Os sindicalistas estão propondo unidade com os empresários no árido terreno macroeconômico?

Adilson – No Consenso de Washington’: juros altos para alimentar capital especulativo externo, câmbio livre e política de cortes para fazer superávit primário, só quem está ganhando são os bancos e rentistas. A opção pela manutenção de uma taxa básica de juros elevada tanto restringe o consumo como inviabiliza toda e qualquer possibilidade de retomar a rota de crescimento, assim como os investimentos. A gente sabe que uma taxa de juros do tamanho que se pratica no Brasil só serve para alimentar o apetite e a ganância daqueles que seguem sugando os cofres públicos, até porque para muitos empresários fica mais lucrativo comprar títulos da dívida pública do que investir na produção. Não acreditamos que o Brasil vá retomar a sua capacidade produtiva patrocinando uma taxa de juros maior do que a dos países em guerra. A manutenção dessa política de juros altos só serve para alimentar o ranço rentista e a financeirização.

HP – E a questão da independência do BC?

Adilson – Discutimos também essa questão. De fato, cobrar redução da taxa de juros, ou reclamar que é muito elevada, é um tanto contraditório com a defesa da autonomia do Banco Central. O BC tem seu dinamismo, todavia não pode ser um entrave para a postulação de um projeto Nacional de Desenvolvimento, definido nas urnas. Não há como empoderar um governo democrático popular sobre as amarras do Banco Central.

HP – E qual o horizonte dessa política?

Adilson – A política econômica brasileira já serviu de modelo para inúmeros países. Durante 50 anos, de 1930 a 1980, o Brasil surpreendeu o mundo com o maior crescimento no PIB de todo planeta. É preciso reconhecer o que fez Getúlio Vargas e a importância e o papel que tem a indústria no desenvolvimento nacional. É preciso discutir de que modo a gente pode se apropriar dessa rica experiência. Ela, adaptada à nova realidade patrocinada pelas mudanças tecnológicas, certamente servirá como base fundamental para que a gente sacuda a poeira e dê a volta por cima. Eu penso que o evento é promissor nesse sentido. Ele nos vocaciona a compreender que vai ser muito bom travar a luta de resistência e conscientizar o povo do quanto reindustrializar o país faz bem para a democracia, a soberania e a nação brasileira.

HP – E aí? Tem jogo?

Adilson – Nós reconhecemos que a quem mais interessa essas mudanças na política econômica são aos trabalhadores, porque é quem mais sofre com o desemprego, a informalidade, a ausência do Estado na educação, saúde e segurança. Mas se você se coloca no lugar do industrial, vê que também para ele é uma questão de sobrevivência. A indústria está definhando.

O neoliberalismo está empurrando o Brasil para trás, vamos virar exportadores de produtos primários. Nós temos um enorme potencial para desenvolver nossas forças produtivas: a autossuficiência na exploração do petróleo através do Pré-sal, a vasta diversidade e capacidade de produzir energias limpas e renováveis de baixo carbono, o nosso potencial marítimo da Amazônia Azul, são alguns exemplos.

É fundamental que a gente enxergue que é possível recuperar esse tempo perdido, até porque o abandono dessa política colocou o Brasil num posto de estagnação.

HP – Como seria essa unidade?

Adilson – Não é a primeira vez que buscamos construir um pacto para salvar o país. Repito: É preciso compreender que o Brasil precisa retomar o trilho do desenvolvimento e a participação possível nessa hora é exatamente compreender que, para o Brasil dar um salto de qualidade, tem que romper com essa política macroeconômica excludente. Um pacto entre o Estado Nacional e o setor produtivo, em aliança com a sociedade e a classe trabalhadora é mais do que necessário para os desafios contemporâneos. É exatamente enxergando essas dificuldades que nós precisamos ajustar os ponteiros.

www.horadopovo.com.br/CARLOS PEREIRA

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