O quinto episódio do podcast No Labirinto conta a história de um trabalhador rural que, após ser resgatado três vezes por fiscais do governo federal, virou agente comunitário no Maranhão para evitar que outras pessoas se tornassem vítimas desse crime
O MARANHENSE Marinaldo Soares Santos, 51, não sabia que estava sendo escravizado quando fiscais do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) realizaram uma operação de resgate em uma fazenda no município de Santa Luzia (MA), em 2007.
Ele e os colegas enfrentavam jornadas exaustivas, bebiam água suja com fezes de animais, comiam apenas farinha e feijão uma vez ao dia, e não recebiam salário. Além disso, eram mantidos sob vigilância constante e ameaçados pelo encarregado da fazenda. “O cara disse que se alguém denunciasse, não ia sair ninguém vivo dali”, relembra Santos.
Mas essa não foi a única passagem de Santos pelo ciclo do trabalho escravo. Em 2009, no sul do Pará, e em 2010, também no Maranhão, Santos seria novamente encontrado em condições de escravidão e resgatado por fiscais do governo federal.
O quinto episódio de No Labirinto – produção da Rádio Batente, a central de podcast da Repórter Brasil – investiga os motivos que levam trabalhadores a caírem mais de uma vez no ciclo do trabalho escravo.
“Ele sempre voltava na esperança de que não iria acontecer de novo, mas acontecia, né?”, conta Janiely, filha mais velha de Santos. Desde pequena, ela lidava com a ausência do pai, que passava meses fora de casa, sem saber seu paradeiro, muito menos quando voltaria.
O trabalho escravo ainda é comum entre trabalhadores rurais. Mas raramente eles são resgatados mais de uma vez pelas autoridades competentes, como aconteceu com Santos.
De acordo com o Observatório Digital do Trabalho Escravo no Brasil, apenas 1,73% dos 35.341 trabalhadores resgatados da escravidão no país entre 2003 e 2017 foram mais de uma vez vítimas desse crime. Nesse período, 613 trabalhadores foram resgatados pelo menos duas vezes, 22 foram resgatados três vezes e quatro foram resgatados quatro vezes.
“A gente compreende o quanto esse crime lacera a pessoa, o ser humano, porque tira a sua humanidade e faz com que ele não se reconheça como um ser de direito”, afirma Yonna Luma, do Centro de Defesa da Vida e dos Direitos Humano Carmen Bascarán, em Açailândia (MA). A organização atua na assistência a vítimas.
Desde o último resgate, quase 15 anos atrás, Santos passou a atuar como liderança comunitária, conscientizando trabalhadores sobre seus direitos. “No Centro de Defesa, me formei agente da cidadania e tenho satisfação em fazer parte desse grupo. Estou aqui, preparado para lutar para que ninguém mais seja escravizado”, afirma Santos.
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