Dados divulgados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostram que, nos últimos dez anos, a vida dos trabalhadores por aplicativos só piorou: eles trabalham mais para alcançar renda cada vez menor. Os dados apontam também que cada vez mais trabalhadores têm nas plataformas digitais a sua principal fonte de renda.
O estudo “Plataformização e Precarização do Trabalho de Motoristas e Entregadores no Brasil” aponta que de 2012 a 2022, o número de motoristas por aplicativo passou de 400 mil para 1 milhão e que o rendimento encolheu. Em 2012 o rendimento médio era de R$ 3.100 e, em 2022, os motoristas têm que trabalhar mais para alcançarem um rendimento médio de R$ 2.400.
O estudo aponta que o mesmo acontece com os entregadores por aplicativos. Em 2015, eram 56 mil entregadores com renda média de R$ 2.250,00. Esse número saltou para 366 mil em 2021, com renda média de R$ 1.650,00, com uma pequena melhora em 2022, quando passou para cerca de R$ 1.800.
Segundo o pesquisador Sandro Sacchet, o crescimento da chamada “plataformização” do trabalho levou à precarização do trabalho de motoristas e entregadores de aplicativos.
“O levantamento aponta que houve aumento da jornada de trabalho, chegando até a acima de 60 horas, o que vai na contramão de toda a tendência do mercado de trabalho, que foi de reduzir as jornadas de trabalho mais longas”, afirmou Sacchet. De acordo com ele, a jornada de trabalho dos motoristas autônomos é bem maior do que a média dos trabalhadores brasileiros.
“A expansão dos trabalhadores por meio de plataformas representa claramente um processo de precarização do trabalho representando uma menor renda, menor contribuição previdenciária e maiores jornadas”, avalia.
O estudo aponta ainda que a contribuição previdenciária dos trabalhadores por aplicativos também caiu. Enquanto os trabalhadores de maneira geral passaram a contribuir mais para o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), a contribuição de motoristas por aplicativos recuou de 47,8% em 2015 para 24,8% em 2023.
Para Sandro Sacchet, “antes, mesmo os motociclistas que trabalhavam com malotes e entregas, cerca de 40% ainda eram formais. No caso dos motociclistas no setor de Comércio e Alimentação, era alta a proporção de formais. Mas mesmo nesse setor, houve uma forte queda da formalização, mostrando que a competição da ‘plataformização’ acabou dificultando”.
De acordo com os pesquisadores e técnicos do Ipea que conduziram a pesquisa, mesmo o estudo concluindo que “o modelo de trabalho plataformizado se baseia em um vetor de precarização, representando, por um lado, menores patamares de renda, formalização e contribuição previdenciária, e, por outro lado, maiores jornadas semanais de trabalho”, muitos trabalhadores erroneamente ainda “reproduzem a narrativa (ou ideologia)” de que são “empreendedores de si mesmos”.
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