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/ sexta-feira, novembro 22, 2024
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‘Estávamos esperando a morte em Gaza’: uma conversa com dois palestinos repatriados de Gaza

Jovem palestina mostra pingente com ilustração de bandeira palestina - Camila Araujo
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Parte do grupo de 32 repatriados vindos de Gaza, Mohamad Farhat e Shahed Al-Banna falam sobre chegada ao Brasil

Eram 19h quando Shahed Al-Banna deu a sua última entrevista, na Base Aérea Brasileira, em Brasília, nesta terça-feira, 14 de novembro. A jovem de 18 anos é uma dentre os 32 brasileiros e palestinos repatriados pelo Brasil vindos de Gaza.

“Alguém tira foto minha assim sendo famosa”, brincou Shahed, diante de uma dezena de câmeras e microfones apontados para ela. A repatriada ficou conhecida no noticiário por ser uma das vozes brasileiras que relataram nas redes sociais o dia a dia sob bombardeio israelense.

Fruto de um esforço diplomático do governo brasileiro, a operação de resgate foi consumada quando o grupo pousou no Brasil na noite de segunda-feira, 13 de novembro. Pela manhã, já na terça, tiveram um dia de vacinação e atendimento social e psicológico. No período da tarde, quatro deles toparam conversar com a imprensa.

Shahed declarou que não vai ficar calma até que todos os brasileiros e a outra parte de sua família que está na Faixa de Gaza sejam evacuados. “Esse é meu plano agora e eu não vou ficar calma até eles saírem de lá”, disse, destacando que os demais repatriados também deixaram familiares no território palestino.

A Operação Voltando em Paz é a maior missão de retirada de civis de zonas de guerra e conflitos operada pela Força Aérea Brasileira (FAB). Foram 1.477 repatriados, sendo 1.462 brasileiros. Além disso, vieram para o país 53 animais domésticos.

O governo afirma que os repatriados receberão CPF, carteirinha do SUS e terão direito de se inscrever no Cadastro Único. A intenção é que os ministérios da Justiça, Direitos Humanos, Desenvolvimento Social e Saúde, junto de agências da ONU, realizem um processo de acolhida, para atender necessidades e demandas.

Dentre o grupo que chegou ao Brasil, 22 são brasileiros, sete são palestinos com Registro Nacional Migratório (RNM) e outros três são palestinos familiares próximos dos demais integrantes. Entre eles, 17 crianças, nove mulheres e seis homens.

Na recepção da imprensa, os repatriados estavam acompanhados por membros da Força Nacional do SUS, um programa que realiza missões de apoio a situações de desastres naturais.

Débora Noal, psicóloga especializada em desastres e eventos climáticos, orientou as e os repórteres presentes: é preciso ter cuidado com perguntas que possam gerar gatilhos.

Segundo ela, o estado emocional dessas pessoas é extremamente sensível e o período de estabilização pode levar cerca de 30 dias. “Boa parte das crianças tiveram dificuldade para dormir essa noite e fizemos um plantão de 24 horas para acompanhá-las”, disse, acrescentando que até o barulho de aviões voando foi motivo para desconforto.

“Algumas crianças estão apontando para aviões no céu e dizendo ‘bomba, bomba'”, relatou a psicóloga.

“Estávamos esperando quem era o próximo a morrer”

Mohamad Farhat tem 43 anos e foi repatriado com sua família – a esposa, que tem o RNM, e seus quatro filhos.

“Meu primeiro país é a Palestina, mas agora o Brasil também é meu país”, disse ele, acrescentando que “todas as pessoas aqui estão lidando com a gente de uma maneira muito digna e isso é respeitável”.

Ele mencionou a recepção do presidente Lula na noite desta segunda, quando o grupo de repatriados desceu do avião da Força Aérea Brasileira (FAB). “Vivenciamos uma cerimônia maravilhosa das pessoas nos recebendo. Foi muito positivo para nossos sentimentos, e traz uma sensação de segurança em relação ao nosso novo futuro.”

O plano de Mohamad é seguir com sua família para São Paulo. Ele é um entre os 24 repatriados que vão para a capital paulista, sendo que metade vai para casa de parentes e a outra metade para um abrigo. Uma pessoa seguirá para Novo Hamburgo (RS), uma para Cuiabá (MS), duas para Florianópolis e quatro permanecerão em Brasília.

Ainda sobre a situação em Gaza, Farhat comenta que lá se sentia como se a qualquer momento pudesse morrer. “Nós nos tornamos números”, disse. “Estávamos esperando quem era o próximo a morrer”, acrescentou, contando ainda que perdeu uma tia e diversas outras “pessoas amadas” no conflito.

“Quando a gente dormia… na verdade, a gente não tem dormido em Gaza. Mas, uma vez que conseguimos ficar em uma casa, o tempo todo pensamos que a casa poderia ser destruída sobre nossas cabeças ou atacada a qualquer momento.”

A repatriação de Mohamad e dos demais membros do grupo demorou 12 dias desde que os primeiros estrangeiros e familiares começaram a ser autorizados a sair de Gaza. Quando finalmente foi publicada, a lista original constava o nome de 34 pessoas mas, segundo um comunicado do Itamaraty, duas delas desistiram da repatriação, permanecendo em Gaza.

Com a operação concluída e após manter um discurso moderado sobre o massacre israelense contra o povo palestino, Lula subiu o tom nas críticas contra Israel, comparando o estado sionista com o Hamas e condenando “atos de terrorismo”.

“O estado de Israel também está cometendo vários atos de terrorismo ao não levar em conta que crianças e mulheres não estão em guerra”, disse o presidente. “Tem mais de 1,5 mil crianças desaparecidas que certamente estão no meio dos escombros.”

O número de mortos em Gaza superou 11 mil, desde o dia 7 de outubro, de acordo com o Ministério da Saúde em Gaza. Desse total, 5 mil são crianças.

www.brasildefato.com.br/Fonte: BdF Distrito Federal

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