Pesquisa do IPEA mostra que o impacto é maior mesmo quando elas ganham mais no trabalho fora de casa
Uma pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) reafirmou que a carga de trabalho doméstico para as mulheres brasileiras é superior a dos homens e a situação se repete nas atividades relacionadas a cuidados não remunerados.
O estudo Gênero é o que importa: determinantes do trabalho doméstico não remunerado no Brasil mostra que, apenas por ser mulher, uma pessoa já tem 11 horas a mais desse tipo de atividade na rotina semanalmente.
Elas também sofrem maior sobrecarga quando há presença de filhos, filhas e idosos e idosas acima de 80 anos na configuração familiar. O impacto das crianças pequenas nas jornadas femininas é o dobro em comparação ao que é registrado na rotina dos homens.
À medida em que filhos e filhas crescem, esse peso diminui e a chegada da adolescência alivia a carga de trabalho tantos das mães quanto dos pais. No entanto, o estudo aponta que apenas as meninas entre 15 e 18 anos contribuem para a redução das responsabilidades das mães.
O cenário muda de acordo com a idade das pessoas pesquisadas. Homens mais jovens, com idades entre 18 e 29 anos, participam mais dos trabalhos não remunerados. Embora os dados evidenciem as mudanças comportamentais, a estrutura tradicional de divisão sexual do trabalho no Brasil se mantém.
Nem mesmo quando as mulheres ganham mais que os homens no trabalho remunerado, a situação muda. Famílias com maior poder aquisitivo contratam bens e serviços que diminuem o peso do trabalho doméstico, mas para elas o impacto não surte efeito, segundo o estudo.
“Mesmo quando as mulheres respondem pela maior parte da renda dos casais, elas continuam sendo responsáveis pela maior quantidade de trabalho doméstico, comportando-se de forma “tradicional” no espaço doméstico como uma maneira de neutralizar os “desvios” no mercado de trabalho (onde ganham mais que seus companheiros). A educação é um equalizador das relações de gênero, mas seu efeito é também determinado por papéis de gênero e raça”, ressalta a pesquisa.
www.brasildefato.com.br/Nara Lacerda