Indigenista e jornalista foram mortos há um ano por se oporem a pescadores ilegais que atuavam na Terra Indígena
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Três réus no caso dos assassinatos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips serão julgados por um júri popular. A decisão é do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1) e foi proferida na última segunda-feira (2). O julgamento não tem data marcada.
Os acusados, Amarildo da Costa de Oliveira, Oseney da Costa de Oliveira e Jefferson da Silva Lima, viraram réus por duplo homicídio qualificado e ocultação de cadáver em julho de 2022. Os três estão presos e tiveram as prisões preventivas mantidas pelo juiz Wendelson Pereira Pessoa.
A procuradoria jurídica da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), organização para qual Bruno Pereira trabalhava quando foi morto, afirmou que a decisão já era esperada.
“Confiamos na Justiça e nas instituições do Brasil que estão envolvidas na resolução do caso. Aguardamos a continuidade das investigações e pedimos que a justiça seja feita”, declarou Eliésio Marubo, procurador da Univaja
Relembre o caso
Em junho do ano passado, Bruno Pereira e Dom Phillips se deslocavam de barco até o município de Atalaia do Norte (AM), quando foram emboscados e mortos a tiros por pescadores ilegais, que se opunham à atividade de monitoramento territorial conduzido pelo indigenista. A dupla ficou desaparecida por 10 dias, quando os corpos foram encontrados por indígenas, esquartejados, queimados e enterrados na mata.
Indigenista licenciado da Funai, Bruno Pereira foi exonerado de um cargo de chefia do órgão indigenista pelo então ministro da Justiça e atual senador Sérgio Moro (União). Ele decidiu então trabalhar diretamente para os indígenas da Univaja, onde chefiava o monitoramento de invasores da terra indígena Vale do Javari. Dom Phillips, jornalista britânico experiente em coberturas na região Norte, acompanhava o trabalho de Bruno, enquanto escrevia o livro Intitulado “Como salvar a Amazônia”.
Após as mortes, Bruno e Dom foram difamados pelo governo Bolsonaro. O ex-presidente declarou que eles morreram durante uma “aventura” e que não tinham autorização da Funai para adentrar a Terra Indígena Vale do Javari. As mentiras foram desmentidas por servidores de carreira do órgão indigenista. No governo Lula (PT), a Funai pediu desculpas formais às famílias das vítimas, e retirou do site uma nota difamatória relativa à morte da dupla.