Em março, 70,71 milhões de brasileiros estavam enrolados com cartão de crédito, com os maiores juros do mundo, e contas básicas como água, luz e gás de cozinha, aponta Serasa
O mais recente levantamento da Serasa, com dados de março deste ano, indica que a inadimplência no Brasil segue crescendo e atingiu 70,71 milhões de brasileiros em março, o que significa que quase metade da população adulta, ou 43,43%, não está conseguindo pagar suas contas com os bancos, os lojistas e – o que é mais gritante – com as contas básicas como água, luz e gás de cozinha.
Em cinco estados, o índice de inadimplentes ultrapassa 50% da população adulta: RJ AP AM, DF e MT. O menor índice se encontra no Piauí (36,67%).
Em relação a janeiro, mais 180 mil pessoas ingressaram esse contingente de brasileiros que estão enrolados com os juros extorsivos impostos pelos bancos, além das contas básicas corroendo o apertado orçamento familiar, fruto dos baixos salários, do subemprego e do elevado desemprego.
A maioria das dívidas segue com o cartão de crédito com os bancos impondo as mais altas taxas de juros, de 430% ao ano, assumindo o primeiro lugar (31,03%), seguido das contas básicas (22,02%), que em fevereiro estava em 21,76%, e em terceiro lugar, as dívidas no comércio varejista (11.29%).
Os juros altos, alavancados pela alta taxa básica de juros do Banco Central, que manteve a Selic em 13,75% na última reunião do mês passado, somado à inadimplência das famílias, vêm sendo apontados como fatores que inibem os investimentos do setor produtivo e o consumo das famílias. Sem demanda, o resultado é estagnação, queda na produção industrial, nas vendas do comércio e no volume de serviços e no aumento do desemprego.
“Quem tem dívidas atrasadas há mais tempo segue enfrentando dificuldade de sair da inadimplência em função dos juros elevados, que pioram as despesas financeiras”, disse a economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Izis Ferreira, ao divulgar a pesquisa da entidade sobre endividamento e inadimplência das famílias na semana passada.
Para o presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros), Jorge Nascimento, “taxas como as atuais desestimulam os consumidores que não conseguem incluir as parcelas de suas compras no orçamento familiar. Nosso setor vem aguardando há meses o início de uma política de redução pelo BC. A economia apresentaria resultados melhores”.
“As famílias têm dificuldade em cumprir seus compromissos financeiros e são afetadas pelo aumento do crédito rotativo do cartão, que é uma das principais formas de pagamento utilizada pelos consumidores”, observou o presidente da CDL/BH, Marcelo de Souza e Silva, ao criticar a manutenção da Selic em 13,75% pelo BC.
A pesquisa da Serasa aponta, também, o perfil dos inadimplentes: os brasileiros de 26 a 40 anos se destacam na faixa etária, representando 34,8% do total dos devedores. A faixa etária entre 41 e 60 anos representa 34,7%.
O valor médio de dívida por pessoa é de R$ 4.731,62. O volume total das dívidas atingiu R$ 334,5 bilhões.