Com os preços nas alturas, leite, óleo de soja e açúcar estão entre os produtos que lideram a lista dos que ficaram no carrinho dos supermercados. Entre janeiro e junho deste ano, 4,997 milhões de itens foram abandonados, segundo pesquisa
A quantidade de produtos deixados de lado na “boca do caixa”, por excederem a possibilidade de compras de consumidores nos supermercados, aumentou significativamente entre janeiro e junho deste ano. Cinco milhões (4,997 mil) de itens foram deixados pra trás. É um volume 16,5% superior ao primeiro semestre do ano passado, ou 704,9 mil itens a mais abandonados para impedir que a nota fiscal não fique além do orçamento.
Os dados para essas conclusões foram obtidas pelo acompanhamento do movimento de caixas de 982 supermercados de médio e pequeno porte do país. A amostra inclui estabelecimentos que atendem a todas as faixas de renda e que juntos faturam R$ 5 bilhões anuais.
O estudo reforça os indicadores de inflação, queda na renda, desemprego alto e persistent, aumento das famílias sob a ameaça cotidiana da fome e tem nome e sobrenome, Guedes e Bolsonaro.
“Um crescimento de 16,5% na quantidade de itens abandonados é altíssimo e reflete que muita gente deve estar tomando susto”, afirma Juliano Camargo, CEO e fundador da Nextop. Apesar de não ter uma série histórica longa desses dados, pela experiência acumulada no setor, ele acredita que a quantidade de itens devolvidos na boca do caixa não teria aumentado, se a inflação de alimentos estivesse controlada.
A pesquisa foi feita, a pedido do Estadão, pela Nextop e publicada no domingo (14). O estudo reuniu itens cancelados, isoladamente e também cupons fiscais inteiros, com aqueles produtos que o consumidor consultou o preço no caixa e desistiu da compra.
Os produtos que ficam para trás na boca do caixa atinge principalmente os pobres, mas também famílias de maior renda, segundo Camargo, “refletindo a inflação com itens básicos e supérfluos”. Ele faz essa afirmação com base num ranking de produtos mais devolvidos no primeiro semestre deste de ano.
Quem lidera a lista é o refrigerante, seguido pelo leite, óleo de soja, cerveja e açúcar. Dos dez itens que mais sobraram na boca do caixa, quatro são básicos – leite, óleo de soja, açúcar e farinha de trigo – e seis não tão essenciais – refrigerante, cerveja, molhos, biscoitos, hambúrguer e bebida láctea.
Quatro produtos mais abandonados no caixa – leite, óleo, cerveja e biscoito – também constam entre os dez que registraram as maiores quedas nas quantidades vendidas no varejo de autosserviço no primeiro semestre deste ano em relação a igual período do ano passado, segundo um levantamento realizado também a pedido do Estadão, pela NielsenIQ, consultoria que monitora o desempenho dos produtos nos supermercados.
A cerveja puxa a fila dos itens com maiores quedas de venda em volumes apurada pela consultoria com -15,6%, seguida pelo leite (-13,7%), cortes de frango (-11,6%), café em pó (-8,5%), legumes (-8,2%), óleo comestível (-7%), queijos (-6,5%), biscoitos (-5,1%), industrializados de carne (-2,8%) e cortes bovinos (-2,7%).
TAMANHO DA CRISE
Não por acaso, vários desses produtos estão entre os que mais registram altas de preços nos últimos meses, como leite, café, óleo, carnes, biscoitos, por exemplo, segundo o IPCA, a medida oficial da inflação do País.
O presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo (Ibevar), o economista Claudio Felisoni de Angelo, também atribui esse aumento de volume de produtos devolvidos à disparada da inflação nos últimos meses e ressalta. “O tamanho da pilha de produtos deixados no caixa pelo consumidor é a medida concreta do tamanho da crise que vivenciamos hoje”, afirma.
A freada brusca do consumidor na reta final das compras provoca um efeito em cascata na cadeia de abastecimento. O encalhe faz com que os supermercados comprem volumes menores das indústrias e esfriem o ritmo de produção e atividade. “Hoje o nível de estoques dos supermercados é o mais baixo dos últimos anos”, diz Camargo da Nextop.
Em julho, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), apurado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) registrou deflação de -0,68%, por causa dos corte de impostos nos combustíveis e na eletricidade.
No entanto, os preços da comida continuaram subindo e a inflação do grupo alimentação acelerou, indo de um aumento 0,80% em junho para 1,30% em julho. Neste ano até julho, os alimentos subiram 9,83% e, em 12 meses, 14,72%, ante o IPCA de 4,77% e 10,07%, respectivamente, acumulado em igual período.
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