Produtos alimentícios subiram quase 10% em sete meses, prejudicando mais pobres
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Ir ao supermercado já está cerca de 10% mais caro hoje do que estava no início do ano. O preço dos alimentos e bebidas já subiu 9,83% nos primeiros sete meses de 2022, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O percentual é mais do que o dobro da inflação do período medida pelo Índice de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA): 4,77%.
Os dados de julho do IPCA e do aumento dos alimentos foram divulgados na quarta-feira (10). No mês, o país registrou deflação de 0,68%, ou seja, uma queda de preços. Mas os alimentos subiram 1,3%.
Só o leite leite longa vida subiu 25,46% em julho, tendo já subido 10,72% no mês anterior. O preço do leite pressionou o custo de derivados: o queijo subiu 5,28% em julho; a manteiga, 5,75%; e o leite condensado, 6,66%.
No ano, o mesmo leite já subiu 77,84%. Os derivados subiram 39,58%.
Outro destaque do mês foram as frutas, com alta de 4,40%
Já a cebola aumentou 40%; a batata inglesa, 29,89%; o café, 15,24%; e o morango, 103,81%. Ou seja, em sete meses o preço do morango mais que dobrou.
Exportação pressiona preços
Segundo pesquisa do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq) da Universidade de São Paulo (USP), os preços dos alimentos vêm aumentando desde 2021, em todo o mundo. Neste ano, com a guerra entre Rússia e Ucrânia, a pressão inflacionária cresceu.
O Índice de Preços dos Alimentos calculado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO-ONU) atingiu um recorde em 2022, superando altas históricas registradas na década de 1970.
Como o agronegócio brasileiro está hoje conectado com ao mercado mundial, quando os preços no exterior sobem, acabam aumentando também internamente já que o agricultor nacional pode vender sua produção aqui ou exportar.
De acordo com a Cepea, de janeiro a junho de 2022, o volume exportado pelo agronegócio nacional recuou 1% comparado ao mesmo período do ano anterior. Os preços em dólar, porém, subiram 28%. Diante disso, mesmo vendendo menos, o lucro aumentou, somando US$ 79 bilhões (mais de R$ 400 bilhões) no primeiro semestre, um novo recorde, 26% superior do que em 2021.
Pior para os pobres
A alta da comida piora as condições de vida, principalmente, da população mais pobre. É ela quem compromete maior parte de seu orçamento com alimentos e bebidas.
O economista Marcio Pochmann, professor titular da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), disse que essa população vem sofrendo com a inflação já há algum tempo. Em 12 meses, por exemplo, os preços dos alimentos já subiu 14,72%.
Segundo ele, a deflação registrada em julho foi causada basicamente pela queda dos preços dos combustíveis e da energia elétrica resultante do corte de impostos sobre esses produtos. Para ele, porém, o índice é “artificial”, criado por ações diretas do presidente Jair Bolsonaro (PL) visando sua reeleição. Pior: não contribui com quem mais precisa.
“Produtos vinculados a cesta básica e produtos vinculados a bens de consumo durável continuam aumentando. A deflação é uma medida artificial que decorre da decisão do governo de retirar tributos sobre os combustíveis. A inflação segue importante principalmente para quem precisa consumir alimentos”, disse Pochmann.
www.brasildefato.com.br/Vinicius Konchinski