Inflação oficial ficou em 10,07% em doze meses, com desemprego elevado, 39 milhões vivendo de “bico”, renda caindo e 33 milhões sem comida
Em julho, a inflação continuou avançando sobre a alimentação dos brasileiros, segundo dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgados pelo IBGE nesta terça-feira (9). No mês passado, a alimentação do domicílio subiu 1,74%. No acumulado de 12 meses, a alta é de 17,50%.
De acordo com o IBGE, o IPCA, índice de inflação oficial do país, registrou recuo de -0,68% em julho, após a variação de 0,67% em junho. Apesar de ter registrado deflação no mês passado, o índice geral acumula alta de 4,77% no ano e, em 12 meses, de 10,07%.
Na passagem de junho para julho, o destaque ficou com o grupo Alimentação e bebidas, que registrou alta de 1,30% no período. Na alimentação no domicílio, que acelerou de 0,63% em junho para 1,47% em julho, o maior impacto positivo no índice do mês (0,22 p.p.) veio do leite longa vida (25,46%), cujos preços já haviam subido 10,72% no mês anterior. Além disso, os preços de alguns derivados, como o queijo (5,28%), a manteiga (5,75%) e o leite condensado (6,66%) também subiram, contribuindo para o resultado observado no mês.
Outro destaque de altas foram as frutas, com avanço de 4,40% e impacto de 0,04 p.p. no IPCA de julho. Por outro lado, houve recuos de preços do tomate (-23,68%), da batata-inglesa (-16,62%) e da cenoura (-15,34%). A alimentação no lar acumula em 12 meses até julho alta de 17,50%.
Em virtude das altas intensas do lanche (1,32%) e da refeição (0,53%), a alimentação fora do domicílio registrou alta de 0,82% no mês de julho. Em 12 meses, a alimentação fora de casa registra um aumento de 7,61%.
ALIMENTOS CHEGAM A 99,39% DE AUMENTO
Entre os campeões da inflação dos alimentos, no acumulado em 12 meses, estão: Mamão (99,39%), Melancia (81,60%), Cebola (75,15%), Morango (73,86%), Batata-inglesa (66,82%), Leite longa vida (66,46%), Melão (61,15%), Café moído (58,12%), Pepino (53,18%), Manga (47,51%), Banana-d’água (42,87%), Alface (38,65%), Cenoura (37,82%), Maracujá, (36,70%), Banana-prata 35,71%, Milho em grão (34,33%), Tangerina (32,52%), Farinha de trigo (32,09), Maionese, (28,92%), Macarrão instantâneo (28,68%), e Feijão-carioca rajado (28,57%).
Entre os destaques de produtos que subiram no mês de julho está também o óleo diesel (4,59%), cujo resultado ficou acima do mês anterior (3,82%). A alta no preço do diesel, que tem um peso significativo para a disparada dos preços dos alimentos, onerando os custos de produção e de transporte, reflete o último aumento de 14,26% do combustível nas refinarias da Petrobrás, com o aval de Bolsonaro.
As passagens aéreas também subiram: 8,02%, alavancadas pela alta no preço do querosene de aviação que, assim como os demais combustíveis que são produzidos no Brasil, está atrelado ao dólar e as variações do preço do barril do petróleo.
Contribuíram para deflação no mês o resultado obtido pelo grupo dos Transportes (-4,51%), impactado pela que nos preços dos combustíveis (-14,15%). A gasolina obteve um recuo de -15,48%, do etanol (-11,38%) e do gás veicular (-5,67%). Além disso, também houve recuo nos preços do grupo Habitação (-1,05%), está relacionado especialmente à queda da energia elétrica residencial (-5,78%).
Estes produtos e serviços tiveram o ICMS limitado às vésperas das eleições por meio da Lei Complementar 194/22 do governo Bolsonaro, que propõe a perda de arrecadação de recursos do ICMS, que seriam destinados a prestação de serviços públicos estaduais e municipais, em troca de uma redução artificial nos preços dos combustíveis, cujos aumentos se dão pela política de paridade de preços internacional.
Em 12 meses, o óleo diesel acumula alta de 61,98%, Gás veicular (27,16%), Gás encanado (26,29%), Gás de botijão (21,36%) e gasolina (5,64%).
De acordo com o IBGE, dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados para o cálculo do IPCA, sete apresentaram altas, e dois desaceleraram na passagem de junho para julho. Veja abaixo:
Alimentação e bebidas: 1,30%
Habitação: -1,05%
Artigos de residência: 0,12%
Vestuário: 0,58%
Transportes: -4,51%
Saúde e cuidados pessoais: 0,49%
Despesas pessoais: 1,13%
Educação: 0,06%
Comunicação: 0,07%
INPC: INFLAÇÃO DOS MAIS POBRES É AINDA MAIOR: 10,12%
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que mede a variação dos preços para as famílias chefiadas por assalariados – com renda de um a cinco salários mínimos – também registrou recuo de 0,60%, mas acumula alta de 4,98% no ano e, nos últimos 12 meses, de 10,12%.
Os produtos alimentícios passaram de 0,78% em junho para 1,31% em julho, enquanto os não alimentícios foram de 0,57% para -1,21%.
As famílias mais pobres são as que mais sofrem com a inflação dos alimentos que foi agravada pelo desmonte dos estoques reguladores de alimentos e pelo fim da política de fomento à produção de agricultores familiares, que era missão da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), obra do governo Bolsonaro, que deixou que a economia brasileira ficasse nestes últimos anos, isto em meio a uma crise sanitária provocada pela Covid-19, completamente à mercê das intempéries do mercado global de alimentos, além da dolarização dos produtos, como, no caso dos combustíveis, que sofreram sucessivos aumentos para elevar os ganhos dos acionistas da Petrobrás, grande parte estrangeiros, e importadores de derivados de petróleo.
Em meio à alavancada dos preços dos alimentos, são mais de 33 milhões de brasileiros na fome e outros 125 milhões com algum nível de insegurança alimentar, segundo o inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da covid-19 no Brasil, realizado pela Rede Penssan (Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional).
Na estagnação em que economia brasileira se encontra, com desemprego elevado (10,1 milhões sem emprego no país), a renda do trabalhador caiu 5,1%, passando de R$ 2.794 para R$ 2.652, na comparação entre o segundo trimestre deste ano frente ao mesmo intervalo de meses de 2021, segundo o IBGE, puxada pela esteira do trabalho precário. São mais de 39,3 milhões de brasileiros condicionados ao trabalho informal no país, isto é, pessoas que exercem atividade de trabalhos sem carteira assinada, que vivem dos populares “bicos”.
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