“Senhor policial, é por causa que aqui em casa não tem nada pra gente comer e eu tô com fome. Minha mãe só tem farinha e fubá”, disse o menino de 11 anos. Ouça o áudio no fim desta matéria
Um menino de 11 anos ligou para a Polícia Militar (PM) da região metropolitana de Belo Horizonte para pedir comida. O garoto mora em Santa Luzia e, segundo apuração da Rede Globo, ao ver a mãe chorar por falta de comida para oferecer aos filhos, ele se desesperou e decidiu apelar para o 190. A situação da família do garoto Miguel é semelhante à de 33,1 milhões de brasileiros, o equivalente a 15,5% da população do País.
Esse dado é do levantamento do Conselho Federal dos Nutricionistas (CFN), que revelou os novos dados da fome no Brasil em junho deste ano, informando que esses 33,1 milhões de pessoas totaliza 14 milhões a mais de pessoas passando fome na comparação com o primeiro levantamento realizado em 2020.
Na apuração do Jornal Nacional, Miguel disse que ligou pro 190 porque a família estava passando fome. Esse telefonema ocorreu na noite dessa terça-feira (2/8). Alguns policiais que atenderam a ocorrência se juntaram para fazer vaquinha e levar comida para a família.
A observação sobre este problema feita pela Revista Fórum de a fome é uma das faces mais tristes de tantas outras do governo de Jair Bolsonaro (PL) repercute também no valor do Auxílio Brasil, que, apesar do reajuste para “ajudar” Bolsnaro a ganhar a eleição, no novo valor também não atende à demanda e não cobre a inflação e não é o suficiente para sustentar uma família.
Uma pesquisa Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Econômicos (Dieese) acerca do preço da cesta básica no Brasil indica que em 17 capitais analisadas em junho, o preço médio dos itens que compõem a cesta básica é de R$ 663,46. Ou seja, as parcelas de R$ 600 que Bolsonaro aumentou para tentar comprar os votos dos eleitores que passam fome não são suficientes para comprar a cesta básica na maioria das cidades brasileiras.
O caso do Miguel e da família dele se repete, agora, neste exato momento, em 33, 1 milhões de lares desfeitos pela política econômica de Paulo Guedes, o dono de offshore alçado a cargo de Ministro da Economia do Brasil. No Congresso Nacional, enquanto o centrão esbanja dinheiro público em orçamento secreto, famílias como a de Miguel seguem aflitas, muitas vezes, até mesmo sem um telefone para ligar para o 190 e pedir ajuda porque não têm o que comer.
“Senhor policial, é por causa que aqui em casa não tem nada pra gente comer e eu tô com fome. Minha mãe só tem farinha e fubá pra comer”, disse o menino, na noite desta terça (2), em Santa Luzia, Região Metropolitana de Belo Horizonte (MG).
O exemplo de Miguel e sua mãe
A mãe de Miguel, Célia Arquimino Barros, de 46 anos, mora com seis filhos no bairro São Cosme. Ela está desempregada e sobrevive com bicos. “Eu vivo do auxílio emergencial e o pai manda R$ 250, mas não é todo mês que ele manda”, disse, em entrevista à TV Globo.
A mulher estava sem condições de comprar alimentos há quase três semanas. “Eu só tinha fubá e farinha. Já tinha uns três dias que a gente estava assim. E que já tinha acabado as coisas, já tinham mais de 20 dias, mas ainda tinha um pouquinho de arroz, de algumas coisas. Mas há três dias só tinha farinha e fubá”, relatou.
Policiais se comovem e ajudam a família
Uma equipe do 35º Batalhão se dirigiu à casa de Célia e verificou que não se tratava de um caso de maus-tratos com as crianças, mas de uma família desesperada por não ter o que comer. Comovidos com a situação, os policiais estão ajudando a mulher e seus filhos. O tenente Nilmar Moreira afirmou que quem puder ajudar com cestas básicas e outras doações pode entrar em contato com o Batalhão da PM, de acordo com o G1.