Um triste caso semelhante ao vivido por Madalena Gordiano é descoberto em Minas, onde mais uma mulher foi encontrada por fiscais do trabalho em situação análoga a escravidão.
Durante 32 anos, uma mulher de 63 anos trabalhou sem remuneração para uma família de Nova Era, cidade de 17 mil habitantes na região Central de Minas. O caso foi descoberto durante fiscalização de auditoras do trabalho entre os dias 5 e 7. A vítima trabalhava em duas casas, no mesmo lote, cuidando de dois idosos e fazendo atividades domésticas.
Sem nunca receber salário, a idosa não tinha carteira assinada, nunca teve férias, descanso nos finais de semana, décimo terceiro salário ou qualquer outro benefício. “Ela teve uma vida roubada”, afirmou a auditora Cynthia Mara Saldanha ao jornal O Tempo. A idosa cozinhava, lavava roupas e fazia todo o trabalho doméstico para o empregador e a família, um homem de 47 anos e para os pais dele (a mãe de cerca de 70 anos, e o pai de cerca de 90 anos. “A mãe nos disse que ela (a idosa) era dela”, revelou Cynthia. O pagamento só ocorreu no início do trabalho, depois o dinheiro “virou” casa e comida.
A mulher chegou à casa quando os três filhos do casal de idosos ainda eram pequenos. Na ocasião, a mãe deles estava adoentada e precisava de ajuda para realizar as tarefas domésticas. O tempo foi passando e os filhos saíram de casa, exceto o ‘empregador’, que manteve a ‘empegada doméstica’. Ela cuidava de duas casas. Em cima, morava o homem. No andar de baixo, vivia o casal e a empregada. Ela dormia em um corredor, sem qualquer privacidade. “O quarto dela era um local de passagem. E, na casa, havia mais um quarto com duas camas”, destacou a auditora.
O isolamento da idosa era tão grande que, mesmo sem receber salário, ou qualquer direito trabalhista, ela demorou um pouco a entender a situação em que se encontrava. “As vítimas desse tipo de crime geralmente desenvolvem um afeto pelo empregador, o que dificulta a denúncia por elas mesmas”, explicou Cynthia.
O caso Madalena
Hoje com 49 anos, Madalena Gordiano viveu sob regime análogo à escravidão por 38 anos na casa da família mineira Milagres Rigueira. Primeiro nas cidades de São Miguel do Anta e Viçosa, por 24 anos, e, depois, em Patos de Minas, onde morou por 14 anos até ser resgatada por fiscais do trabalho em dezembro de 2020, quando seu caso ganhou repercussão nacional. Seus ‘patrões’ chegaram até mesmo a se apoderarem da pensão a que tinha direito e o dinheiro foi usado para pagar a faculdade de uma filha.
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