A Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (Contag) denuncia os impactos negativos causados pela alta dos preços dos combustíveis na produção da agricultura familiar. E o Portal CTB foi ouvir representantes das trabalhadoras e trabalhadores do campo.
Como Marcos Brambilla, presidente da Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores Familiares do Estado do Paraná (Fetaep). De acordo com ele, o aumento no preço dos combustíveis faz “encarecer toda a logística dos produtos” como “o custo de plantio, de toda a parte mecanizada do trabalho”, seja “com grãos, com hortaliças ou com frutas”.
Para Thaisa Daiane Silva, secretária-geral da Contag, a política econômica do atual governo, atrelada aos interesses do mercado externo, “afeta a vida de todo mundo, em especial os mais pobres”.
Pelo Censo Agropecuário 2017, feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), existem no país 5.072.152 estabelecimentos de produção agropecuária, em 350.253.329 hectares. A agricultura familiar abrange somente 23% dessa área e, mesmo assim, produz mais alimentos.
No caso da agricultura familiar, reforça Thaisa, “o abandono de boa parte das políticas públicas para esse setor fundamental na produção de alimentos, o corte de verbas e as dificuldades para adquirir o crédito rural têm causado enormes prejuízos para as agricultoras e agricultores familiares”.
Segundo levantamento da Agência Nacional do Petróleo (ANP), a gasolina aumentou 56,5% desde janeiro de 2019, o Diesel, 69,1% e o gás de cozinha 47,8%. No mesmo período a inflação acumulada foi de 21,8%.
Thaisa lembra ainda que a insegurança alimentar atinge cerca de 40% da população brasileira e mais de 20 milhões não têm nada para comer e isso antes da pandemia, “imagine agora depois de todo o desastre desse verdadeiro desgoverno, que dificultou a vida de todo mundo no período de maior incidência da covid-19.
O custo da produção na agricultura familiar, responsável por 70% da produção de alimentos no país, “tem ocupado cada vez mais uma fatia maior da receita das agricultoras e dos agricultores familiares”, afirma Brambilla. Ele assinala também a alta dos preços da energia, “que é muito significativo para nós e foge ao nosso controle porque não é apresentada uma política alternativa para a retomada da produção”.
O Censo Agropecuário de 2017 mostrou a existência de cerca de 17,3 milhões de trabalhadoras e trabalhadores no campo, sendo que . E “nós precisamos de subsídios, especialmente após a pandemia, porque aumentaram as dificuldades de comercialização dos produtos”, revela Vânia Marques Pinto, secretária de Políticas Agrícolas da Contag.
Brambilla concorda e diz que “a agricultura familiar amarga prejuízos em várias atividades por causa do alto custo da produção”. Também porque com o “encarecimento dos alimentos, as pessoas compram menos”, além de “termos muita gente no meio do processo de produção e comercialização o que acaba diminuindo sensivelmente a nossa remuneração”.
“Num momento em que a inflação volta aos dois dígitos, a taxa Selic sofre aumentos sucessivos e o desemprego nas alturas, a crise econômica avança trazendo prejuízos, principalmente, a quem vive do trabalho”, ressalta Thaisa.
No caso da agricultura familiar, Vânia destaca a importância “de revigorar o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) e a volta do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e do Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae), entre outras políticas públicas para o escoamento de nossa produção”. Para ela, “o Brasil precisa de políticas voltadas para a produção, tanto no campo quanto na cidade” para “vencer a crise”.
Além de todas essas políticas e de maiores investimentos nesse setor, essencial para a produção agropecuária, “é fundamental a retomada de uma política de reforma agrária, que propicie terra a quem vive da terra”, diz Thaisa. “A agricultura familiar pode ser a solução para o fim da fome no Brasil, um país privilegiado em terras agricultáveis, mas que sofre com a política em favor somente dos grandes proprietários de terras”.
www.ctb.org.br / Marcos Aurélio Ruy