O botijão de gás de cozinha teve uma alta de quase 50% nos dois anos de pandemia, um aumento de 46,82%. O preço médio do produto saltou de R$ 69,743 em janeiro de 2020 para R$ 102,401 em janeiro em 2022, de acordo com os dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Em algumas localidades o preço do botijão de 13 kg é vendido a R$ 140,00.
Em doze meses, até janeiro deste ano, o botijão de gás acumula alta de 31,78%, segundo o IBGE, muito além da inflação oficial que foi a 10,06% no mês, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA).
Bolsonaro, durante sua campanha eleitoral em 2018, não fez por menos e mentiu deslavadamente dizendo que entregaria o botijão de gás a R$ 35,00. Agora diz que não pode mexer na política de preços da Petrobrás, quer manter o preço dos combustíveis atrelados ao dólar, através da política de Preço de Paridade de Importação (PPI).
Segundo a Petrobrás, “o GLP (o conhecido gás de cozinha), assim como os outros combustíveis, é uma commodity, que tem seus preços determinados no mercado global pelos movimentos de oferta e demanda“.
A alta dos preços acelerada do botijão de gás em plena pandemia, combinada com o desemprego e a queda na renda, tem provocado um aumento absurdo de pessoas que são levadas a trocarem o gás de cozinha por álcool ou lenha, o que tem aumentado o número de acidentes com queimaduras em donas de casa e demais membros da família.
“Sempre quando aumenta o preço do gás, centros de atendimento de queimados já sabem que precisam se preparar para atender mais gente”, sobretudo em regiões vulneráveis, declarou à BBC News Brasil o médico José Adorno, presidente da Sociedade Brasileira de Queimaduras (SBQ), em outubro de 2021.
O médico Marcos Barreto, chefe da unidade de queimaduras do Hospital da Restauração Governador Paulo Guerra, no Recife (PE), referência no tratamento de queimados no país, dá a dimensão da tragédia.
Na unidade são atendidas cerca de 280 pessoas por mês, uma média de quase dez por dia. E nos 40 leitos costumam ser internados, em média, um mil e cem pacientes por ano, diz Barreto, que atua no hospital há 47 anos, desde que era estudante de Medicina.
Quando o médico Marcos Barreto participa de congressos e conferências fora do Brasil, não é incomum que achem que ele trabalha em zonas de guerra. “No exterior, acham que (números dessa magnitude) só podem ser de queimaduras por conflito”, diz Barreto.
Em 2019, uma pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) estimou que, no ano anterior, 14 milhões de famílias brasileiras (ou 20% do total) usavam lenha ou carvão para cozinhar – um aumento de três milhões de famílias em relação a 2016.
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