Mais de um milhão de mortos e a pandemia no Brasil segue incontrolável
As 510.813 “mortes em excesso”, em 2020 e 2021, foram resultado direto e indireto da pandemia, em sua grande maioria. Ou seja, as 630 mil mortes “oficiais” nesse período, são pouco mais da metade do total de óbitos causados pela pandemia. Esses números constam do estudo “Painel de análise do excesso de mortalidade por causas naturais no Brasil 2020-2021”, realizado pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde e atualizado até 7 de fevereiro de 2022 – 103 dias após o relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito, que investigou a atuação do governo federal no enfrentamento à pandemia (CPI da Covid), ser entregue ao Procurador-Geral da República.
Por que a mídia tradicional não revela que o número de mortos por Covid no Brasil já ultrapassou a casa do um milhão, ao invés de repetir à exaustão os números oficiais? Por que o Judiciário, o Congresso Nacional e o desgoverno federal não assumem essa realidade, se ela já foi tornada pública, tal como em vários outros países, nos quais existem estudos semelhantes?
Assumir o tamanho real da tragédia é decisivo nesse momento, no qual a pandemia no Brasil segue incontrolável, e a população é levada a debater mais os resultados de pesquisas eleitorais e quem será vice de quem, do que as ações necessárias para reduzir a devastação promovida pelo desgoverno federal, com a cumplicidade de grande parte do Legislativo, Judiciário, Ministério Público, e Forças Armadas. A essa altura, não há mais omissos – são todos cúmplices.
Incontrolável porque há campanha contrária à vacinação; a maioria da população parece ter cansado das restrições (muita gente usa máscara como enfeite do queixo, ou abaixo do nariz, apenas para cumprir o ritual); e muitos seguem sem saber o que fazer, tal a confusão promovida pelo presidente da República, o ministro da Saúde e outros da “equipe”, inclusive parlamentares.
Mais de um milhão de pessoas mortas pela pandemia no Brasil – quantas poderiam estar vivas, se tivesse sido oposta a atuação, desde o início, do presidente da República e da sua “equipe”? A CPI da Covid indiciou o presidente da República por crimes contra a humanidade (extermínio, perseguição e outros atos desumanos), crimes de responsabilidade (violação de direito social e incompatibilidade com dignidade, honra e decoro do cargo), incitação ao crime, epidemia com resultado morte, infração a medidas sanitárias preventivas, charlatanismo etc. Além dele, vários outros integrantes do governo federal também foram indiciados, por crimes diversos.
É importante registrar que a situação só não está muito pior, porque o Sistema Único de Saúde funciona – apesar de todas as dificuldades para isso –, e já há 78% da população com uma dose da vacina, 70% com duas doses e mais 15% com a terceira dose. Infelizmente, todo o esforço dos profissionais de saúde não é suficiente para controlar a pandemia, porque quem deveria ser a liderança da vacinação e de outras medidas preventivas segue fazendo propaganda contrária, em comportamento criminoso impune até agora.
Mais de um milhão de pessoas já morreram no Brasil por causa da pandemia, cerca de 0,5% da população total. Quantas pessoas mais precisarão morrer, para que a sociedade brasileira se mobilize e cobre as autoridades federais, como deve ser cobrado em situação trágica assim?
www.sul21.com.br/Milton Pomar, geógrafo e mestre em Políticas Públicas