Movimento ocorre em regiões de São Paulo. Entre as reivindicações, estão o fim de duas ou mais entregas em uma mesma corrida e o direito de defesa antes de a empresa bloquear a conta dos entregadores
Entregadores de aplicativos voltaram a protestar por melhores condições de trabalho nesta semana. Na segunda-feira (13), trabalhadores de São Paulo iniciaram uma paralisação, sem data para acabar, em Barueri, Carapicuíba e na região de Alphaville. O protesto culminou com o bloqueio da rodovia Castelo Branco (BR-374).
O movimento tem como principal alvo o iFood, empresa que domina o mercado nacional de entregas por aplicativo. Segundo apurou o site Brasil de Fato, as principais reivindicações são o aumento do valor mínimo recebido por entrega (atualmente, em R$ 5,31, de acordo com o site), o fim de duas ou mais entregas em uma mesma corrida e que a empresa pare de bloquear a conta dos entregadores sem dar a eles direito de defesa.
Trabalhadores que aderiram ao “breque” contaram ao Brasil de Fato que a prática de excluir entregadores após alguma reclamação, sem dar a eles qualquer chance de se defender, é comum. “Tem cliente que fala que não recebeu o pedido. E aí, no outro dia de manhã, nossa conta é bloqueada, sem que a gente possa se defender. São mães e pais de família sem poder trabalhar. E muitos dependem 100% desse trabalho. Eu sou uma delas”, contou entregadora.
Trabalho precário
Sem nenhum direito trabalhista garantido e submetidos a um rigoroso monitoramento por parte das empresas, que transformaram os celulares no novo cartão de ponto, os trabalhadores por aplicativo são as vítimas mais evidentes da precarização do trabalho promovida pelo neoliberalismo.
Enquanto lutam como podem, seja por meio de paralisações seja por meio de vitórias pontuais na Justiça, esse trabalhadores sofrem cada vez mais ataques por parte de Jair Bolsonaro. Além de praticar uma política de preços dos combustíveis que massacra cada vez mais essa categoria, o atual governo ainda quer aprovar uma nova reforma trabalhista que proíbe a contratação formal dos entregadores, em uma lei que busca claramente atender os interesses das empresas, desprezando as necessidades dos trabalhadores.
Em encontro com as centrais sindicais na semana passada, Lula disse que a “digitalização do trabalho” é o maior desafio a ser enfrentado pela classe trabalhadora nas próximas décadas e criticou a nova proposta de reforma trabalhista de Bolsonaro, que ataca ainda outros direitos, como o descanso aos domingos. “Eu não acreditei quando ouvi que isso está no projeto trabalhista que eles querem aprovar. Se a gente não levantar a cabeça e brigar agora, o Congresso vai aprovar isso”, alertou, convocando as centrais sindicais a se mobilizarem contra a proposta.
No Brasil, as mais altas cortes da Justiça (TST e STF) têm se posicionado majoritariamente ao lado do capital contra o trabalho. Enquanto na Inglaterra, país com sentido civilizatório mais desenvolvido depois da dramática experiência da revolução industrial, a mais elevada instância do Judiciário condenou a Uber a garantir direitos elementares aos motoristas que mobiliza, no Brasil ministros do STF e do TST têm apoiado a superexploração dos trabalhadores de plataformas, onde a jornada de trabalho costuma ultrapassar 16 horas diárias, o dobro do limite de 8 horas estabelecido na CLT e na Constituição.
Será que esses juízes – que se julgam muito acima dos comuns dos mortais, ganham altos salários e desfrutam de injustificáveis mordomias como auxílio moradia milionário – querem institucionalizar no Brasil o trabalho análogo ao escravo? A luta dos trabalhadores e trabalhadoras pode fazê-los recuperar o juízo e a sensibilidade social abandonada nos labirintos da arrogância.
www.ctvb.org.br/da Redação, com informações do PT. Foto: tretanotrampo