Combustíveis puxam a prévia da inflação para o maior índice em 20 anos. Além do impacto direto sobre o indicador, ainda há o indireto, sobre os custos da cadeia produtiva
A desordem econômica promovida pelo desgoverno Bolsonaro faz o país retroceder décadas no combate à inflação. Divulgado nesta quinta-feira (25), o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) registrou alta de 1,17% em novembro. Essa variação é a maior para o mês desde 2002, quando FHC perdeu o controle sobre a carestia e o índice chegou a 2,08%. O indicador é considerado a prévia da inflação.
Embora o número seja 0,03 ponto percentual (pp) abaixo da taxa registrada em outubro (1,20%), o acumulado no ano (9,57%) chegou à fronteira dos dois dígitos, marca já batida no acumulado em 12 meses – 10,73%, acima dos 10,34% registrados no período anterior. Em novembro de 2020, a taxa havia sido de 0,81%.
Todos os nove grupos de produtos e serviços pesquisados tiveram alta em novembro, mas a dolarização dos preços administrados pela Petrobras, mais uma vez, foi o principal “combustível” da carestia. Além dos impactos diretos dos reajustes nas refinarias, ainda há os indiretos sobre os custos de toda a cadeia produtiva nacional.
A maior variação (2,89%) e o maior impacto (0,61 pp) sobre o IPCA-15 vieram dos Transportes. Em seguida, vieram Habitação (1,06%) e Saúde e cuidados pessoais (0,80%), com impactos de 0,17 pp e 0,10 pp. Juntos, os três grupos contribuíram com 0,88 pp no índice de novembro, o equivalente a cerca de 75% do total.
O resultado dos Transportes (2,89%) foi influenciado, principalmente, pela alta nos preços da gasolina (6,62%), o maior impacto individual do mês (0,40 pp). No ano, o combustível acumula alta de 44,83% e, em 12 meses, de 48,00%. Também houve altas nos preços do óleo diesel (8,23%), do etanol (7,08%) e do gás veicular (2,59%).
Ainda em Transportes, os preços dos automóveis novos (1,92%) e usados (1,91%) seguem em alta, assim como os das motocicletas (1,26%). Outro destaque foi transportes por aplicativo (16,23%), vítimas diretas da dolarização dos preços da Petrobras, que já haviam subido 11,60% em outubro.
Sintomaticamente, no grupo Habitação (1,06%), a maior contribuição foi do gás de botijão (4,34%), cujos preços subiram pelo 18° mês consecutivo, acumulando 51,05% de alta no período iniciado em junho de 2020. Também em Habitação, a alta do gás encanado (0,88%) é consequência do reajuste de 6,90% nas tarifas no Rio de Janeiro (2,78%).
A energia elétrica (0,93%) teve variação menor que a de outubro (3,91%) e contribuiu com 0,05 pp no índice do mês. Desde setembro, está em vigor a bandeira tarifária Escassez Hídrica, que acrescenta R$ 14,20 na conta de luz a cada 100 kWh consumidos.
Todas as áreas pesquisadas apresentaram alta em novembro. A maior variação foi a de Goiânia (1,86%), com resultado puxado pela energia elétrica (10,93%) e pela gasolina (5,87%). O menor resultado ocorreu na região metropolitana de Belém (0,76%), onde houve queda nos preços da energia elétrica (-2,05%) e do açaí (-9,30%).
Problema mundial, inflação é pior na América Latina e, particularmente, no Brasil
Agência de notícias norte-americana destinada ao mercado financeiro, a Bloomberg emitiu esta semana um relatório sobre “a inflação mais alta do mundo”: a latino-americana. “Enquanto a região emerge da pior crise econômica em dois séculos, também enfrenta um cenário de baixo crescimento e inflação acelerada”, diz a matéria, apontando a inflação anual do Brasil (10,7%) como a segunda mais alta da região.
Conforme a reportagem, grandes bancos de Wall Street projetam que o custo médio de vida na América Latina encerre o ano acima de 10%, o maior índice global. Também preveem que a pressão sobre os preços ao consumidor se estenderá ao longo de 2022.
A projeção do Citigroup para a região (10,6%) é acompanhada pelo Morgan Stanley, que vê inflação acima de 10%. A mediana das projeções de economistas consultados pela Bloomberg aponta para uma inflação média de 11,9% e 10,4% neste ano e no próximo na América Latina, de longe o ritmo mais rápido do mundo.
O ciclo de arrocho monetário em que a maioria dos bancos centrais da América Latina, inclusive o do Brasil, embarcaram teve pouco efeito sobre as crescentes expectativas de preços, no entanto. Além dos gargalos no transporte marítimo global e custos mais altos das commodities, diz a matéria, outra questão específica para a região é a profecia autorrealizável das expectativas de que as coisas só vão piorar.
“Choques de oferta não são realmente algo que seja possível combater com política monetária”, explicou André Loes, economista-chefe para a América Latina do Morgan Stanley. “A América Latina tem um histórico de inflação mais longo do que a maioria, e isso causa um impacto relevante nas expectativas. As pessoas ainda lembram daqueles anos.” No Brasil de Jair Bolsonaro, “aqueles anos” foram há duas décadas.
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