“Zara Zerou” era o aviso emitido pelo sistema de som da loja para que funcionários ficassem atentos a pessoas negras ou com roupas simples
A grife Zara, que já foi denunciada por trabalho escravo, em 2017, volta a ocupar o noticiário por prática antissocial. Desta vez, acusada de discriminar pessoas negras ou com roupas simples que entram em suas unidades. Foi o que constatou a Polícia Civil do Ceará em loja da Zara do Shopping Iguatemi, em Fortaleza. A unidade teria criado um código secreto para funcionários ficarem atentos e acompanharem negros e pessoas com estereótipo “fora do padrão” do estabelecimento. Segundo reportagem do UOL, o “alerta” era dado pelo sistema de som por meio do código “Zara Zerou”.
A Zara nega que utilize códigos para discriminar clientes, mas testemunhas que já trabalharam para a empresa relatam que recebiam orientação para identificar essas pessoas. Assim, esses clientes eram tratados como nocivos e acompanhados de perto, conta o delegado-geral da Polícia Civil do Ceará, Sérgio Pereira, que considerou o procedimento “absurdo” e “inaceitável”. O delegado afirma que esse tipo de tratamento da Zara já foi registrado diversas vezes. “Não só aqui no Brasil, inclusive fora do país, com pagamento de indenização.”
Delegada foi discriminada
Detalhes da discriminação a determinados clientes teriam sido foram descobertos durante investigação de caso envolvendo a delegada Ana Paula Barroso. Isso porque ela foi proibida de entrar na loja na noite do dia 14 de setembro e registrou boletim de ocorrência por racismo. Ana Paula, que é negra, foi expulsa pelo gerente da loja em Fortaleza, Bruno Felipe Simões. Segundo ele, o veto era uma “questão de segurança” do shopping pelo fato de Ana Paula estar com a máscara abaixada, embora estivesse tomando um sorvete quando entrava na loja.
Mas imagens do circuito interno de segurança do mesmo dia, coletadas pela polícia, mostram outras clientes brancas circulando normalmente pela loja. Inclusive sem máscaras, ou então usando o equipamento de segurança de forma errada. Elas foram atendidas pelo gerente que expulsou a delegada. Bruno Simões foi indiciado pelo crime de racismo.
“O inquérito finalizado foi enviado à Justiça. Entidades do movimento negro ingressaram na Justiça do Ceará contra a rede de lojas Zara, pedindo R$ 40 milhões de indenização por dano moral coletivo”, relata o UOL. “Uma segunda investigação sobre outro caso de racismo foi aberta após uma denúncia semelhante de outra cliente da Zara. O fato ainda está em fase de apuração.”
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