Duas táticas contra a precarização uberistas:
1 – No Reino Unido, motoristas de aplicativos ganham na Justiça o direito de formar seu sindicato.
2 – Em Nova York, os motoristas criam cooperativa e aplicativo próprios para concorrer no mercado de táxis-aplicativos.
São duas pedras no sapato da multinacional. Dois processos independentes separados por um oceano mas juntos na defesa dos direitos dos trabalhadores das plataformas.
O sindicato britânico
O acordo alcançado esta quarta-feira entre Uber e o GMB é histórico. Pela primeira vez, os 70.000 motoristas da Uber do Reino Unido vão poder filiar-se num sindicato e abrem-se as portas para um processo de negociação coletiva. E é igualmente mais um recuo importante na ideologia de que estes trabalhadores seriam micro-empresários.
Em cima da mesa das negociações passam a estar questões como um salário mínimo, férias pagas, planos de reforma, cobertura de doença entre outras.
A Uber entra neste acordo depois de vários processos judiciais e derrotas. A mais significativa das quais no Supremo Tribunal, no passado mês de fevereiro, quando este decidiu que os motoristas eram trabalhadores, “workers”, um estatuto que na lei britânica fica a meio caminho entre o de trabalhador assalariado e o de independente. O que lhes dá acesso a salário mínimo e férias pagas.
Ao Libération(link is external), Mick Rix, responsável nacional do GMB, apela agora a que outros operadores também façam o mesmo e entrem em acordo.
A cooperativa nova-iorquina
A resistência à uberização faz outro caminho em Nova Iorque. Nos EUA, a história recente não é a de uma vitória judicial mas a de uma derrota eleitoral. O referendo do ano passado na Califórnia sobre o estatuto dos motoristas das plataformas digitais foi vencido pelas empresas depois de terem desembolsado 200 milhões de dólares(link is external) na campanha.
Sem sindicalização possível, e aliás na ressaca de uma derrota significativa do movimento sindical que tentou criar o primeiro sindicato num armazém da Amazon, a via escolhida foi outra: 2.500 motoristas juntaram-se para criar uma cooperativa que pretende desafiar os gigantes do setor, Uber e Lyft.
A aposta é arriscada em tempo de pandemia. Esta fez diminuir o número de motoristas disponível e a Uber aumentou os pagamentos aos motoristas.
A cooperativa foi iniciada por Erik Forman, sindicalista, Alissa Orlando, ex-chefe de operações da Uber no Leste da África, e Ken Lewis, motorista em Nova Iorque. Ao New York Times(link is external), Forman declara: “nunca vi esta fome de mudança que existe nestes motoristas”.
É a primeira experiência do género mas não é a primeira cooperativa de motoristas. A Driver’s Seat Cooperative(link is external), iniciada em 2019, opera em Denver, Los Angeles e Portland, não oferece serviços em concorrência com as plataformas mas trata dados que os ajudam a decidir que viagens e aplicações são mais lucrativas. Hays Witt, dirigente da cooperativa, explica ao mesmo jornal que “o ponto de partida para isto foi ouvir as frustrações e o seu sentimento de estarem a ser manipulados pelo algoritmo”.
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