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/ sexta-feira, novembro 22, 2024
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Campanha da Fraternidade da CNBB critica “necropolítica” e é atacada por católicos conservadores

Cartilha da Campanha da Fraternidade suscitou críticas de ala conservadora da Igreja Católica, infeliz com os valores pregados no texto - Foto: Divulgação
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Após onda de críticas de religiosos de direita, bispos reagem: “Quem fala contra, é católico diabólico”

Ouça o áudio:

Católicos conservadores estão atacando a edição 2021 da Campanha da Fraternidade Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), cujo tema é “Fraternidade e diálogo: compromisso de amor”.

O texto da cartilha tem contornos progressistas. Ataca a “necropolítica” brasileira, defende os povos indígenas, critica os altos índices de feminicídio e pede que a população LGBTQI seja acolhida.

Um dos recados mais duros, vindo dos conservadores, foi de Dom Fernando Guimarães, Arcebispo do Ordinário Militar do Brasil, em carta pública enviada à Dom Walmor Oliveira de Azevedo, presidente da CNBB.

“A evangelização dos fiéis, no entanto, em qualquer tempo e ainda mais em um tempo especial como é a quaresma católica, não é espaço para se dialogar sobre temas polêmicos e contrários à autêntica doutrina de nossa Igreja.”

Em sua carta, Guimarães comunica ao presidente da CNBB que os capelães militares, subordinados a ele, não utilizarão a cartilha da Campanha da Fraternidade durante o período da quaresma.

“Seguiremos apenas as orientações teológico-litúrgicas próprias do tempo quaresmal e não serão utilizados quaisquer dos materiais produzidos oficialmente.”

Em suas redes sociais, o grupo Apostolado Filhos de Santo Atanásio também atacou a cartilha. “Se a campanha é católica, por que temos de abrir nossa consciência, corações e bolsos para a infiltração dogmática anticatólica?”, perguntam os religiosos, de orientação conservadora dentro da igreja.

Dom Adair José, bispo da Diocese de Formosa, em Goiás, também abriu fogo contra a campanha. “Não fiquemos escutando coisas que não tem nada a ver com a nossa fé. Toda essa confusão com campanha da fraternidade… esquece isso!”, postou em suas redes.

“Quem está fora do rumo, quem não segue a Sagrada Escritura, a tradição e o magistério ordinário da Igreja, bate com a cabeça no muro”, provocou.

As críticas não ficaram apenas no alto escalão da Igreja. Nas redes sociais, padres também se manifestaram, como Samuel Cavalcante de Araújo, da Arquidiocese de Iguatu, no Paraná. “Católicos, rezem, amem e se receberem esse texto da Campanha da Fraternidade, queimem.”

“Quem fala contra, é católico diabólico”

A reação da ala conservadora da Igreja Católica no Brasil fez com que a CNBB soltasse uma nota repudiando as críticas.

“Se nem sempre é fácil cuidar de ambos e de muitos outros aspectos de nossa ação evangelizadora, nem por isso devemos desanimar e romper a comunhão, uma de nossas maiores marcas, um tesouro que o Senhor Jesus nos deixou e do qual não podemos abrir mão. Não desanimemos. Não desistamos. Unamo-nos.”

Mais dura, foi a resposta de Dom Pedro Stringhini, presidente da Regional Sul da CNBB, aos criticos. “Quem está falando contra a Campanha da Fraternidade é católico diabólico, é católico que não gosta dos pobres”, afirmou o bispo.

“O diálogo se faz entre os diferentes. Entre os iguais, não há necessidade de diálogo. É claro que é ideológico, quando fala dos pobres, contra as desigualdades e a favor da ideologia, é ideológico. Assim como é ideológico quem critica”, encerrou.

Uma das figuras mais importantes da Igreja Católica no país, o Cardeal Odilo Scherer também defendeu a cartilha.

“Neste ano, antes que a Quaresma inicie, nós já estamos com uma polêmica em torno do texto-base [da Campanha da Fraternidade]. Essa polêmica está movida por preconceitos e paixão anti-ecumênica; além de acusações infundadas contra a CNBB, é uma polêmica também marcada por polarização ideológica.”

O padre Julio Lancelloti também saiu em defesa da cartilha, em missa realizada no último domingo (14).

“Tem gente falando mal da Campanha da Fraternidade. Nem leu e nem sabe o que é”, afirmou o religioso no inicio da homília.

“Alguém pode ser contra superar as desigualdades? Essa campanha denuncia o femincídio, a homofobia, a LGBTfobia, a transfobia, é uma campanha corajosa. Igrejas cristãs que se unem contra a violência. Não queremos armas, queremos vacina e queremos vida. O povo quer portar o cartão da vacina e não armas.”

Revolta

O motivo de tantas críticas feitas pela ala conservadora da Igreja Católico está na defesa de bandeiras progressistas que a Campanha da Fraternidade traz, além de encampar teses que antagonizam com o governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

A cada cinco anos, a Campanha da Fraternidade é produzida de forma ecumênica, com a orientação de líderes de diversas religiões.

Em 2021, participaram a Igreja Católica, através da CNBB; Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil; Sirian Ortodoxa de Antioquia; Igreja Betesda; Aliança de Batistas no Brasil; Igreja Episcopal Anglicana; Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil; Presbiteriana Unida; e o organismo ecumênico Ceesp.

Uma das idealizadoras da cartilha de 2021 é Romi Bencke, pastora luterana que atua na defesa da legalização do aborto. Durante o texto, a Campanha da Fraternidade lamenta, por exemplo, que o país viva uma “necropolítica”

“Na lógica da necropolítica, a humanidade do outro é negada. São estimuladas as políticas de inimizade. A violência praticada pelo Estado é legitimada e justificada. No caso brasileiro, os sinais de necropolítica são perceptíveis em setores de Segurança Pública, que é altamente violenta e repressiva contra pessoas negras e pobres”, explica o texto.

“Da mesma forma, pode-se ver a necropolítica na não regulação dos territórios indígenas.” Em outro trecho, a cartilha lembra que a população LGBTQI+ sofre as “consequências da política estruturada na violência e na criação de inimigos.”

A pandemia da covid-19 é uma preocupação que norteia o texto. A Campanha da Fraternidade critica as igrejas que optaram por romper o pacto pelo isolamento social e mantiveram suas sedes abertas ao público.

“Se por um lado, parte das igrejas realizaram pressão política para permanecerem abertas. Por outro lado, outras igrejas assumiram como testemunho de amor o cancelamento de todas as atividades presenciais, como forma de cuidado.”

A cartilha da Campanha da Fraternidade lamenta, ainda, “o retorno do Brasil ao mapa da fome, o desemprego massivo, o aumento de pessoas em situação de rua e a cultura de violência contra as mulheres”.

Materiais da CFE 2021

O material será disponibilizado no site campanhas.cnbb.org.br, onde também é possível encontrar todos os produtos da Campanha da Fraternidade Ecumênica (cartazes, hino oficial, cards para redes sociais, vídeos, etc).  Acesse abaixo o vt e o spot:

www.brasildefato.com.br / Igor Carvalho

PAPA FRANCISCO ENVIA MENSAGEM AO BRASIL PARA A CAMPANHA DA FRATERNIDADE ECUMÊNICA 2021

O Papa Francisco enviou uma mensagem aos brasileiros por ocasião do início da Quaresma e da abertura da Campanha da Fraternidade (CFE) 2021, nesta quarta-feira de Cinzas, às 10h. Em 2021, o tema proposto é “Fraternidade e diálogo: Compromisso de Amor” e o lema “Cristo é a nossa Paz: do que era dividido fez uma unidade” (Ef 2,14a). A mensagem do Santo Padre aos brasileiros foi apresentada na solenidade de abertura virtual de abertura da CFE, lida na voz do jornalista do VaticanNews, Silvonei Protz.

No texto, o Santo Padre afirma que a Quaresma convida a todos para um  um tempo de intensa reflexão e revisão de vida. “O Senhor Jesus, que nos convida a caminhar com Ele pelo deserto rumo à vitória pascal sobre o pecado e a morte, faz-se peregrino conosco também nestes tempos de pandemia”, diz a mensagem.

No mensagem, o Papa lembra que é tradição há várias décadas a promoção da Campanha da Fraternidade pela Igreja no Brasil. Ele define a campanha como “um auxílio concreto para a vivência deste tempo de preparação para a Páscoa”. No documento, o Papa afirma que, neste ano de 2021, com o tema “Fraternidade e Diálogo: compromisso de amor”, os fiéis são convidados a «sentar-se a escutar o outro» e, assim, superar os obstáculos de um mundo que é muitas vezes «um mundo surdo».

Confira a íntegra do documento abaixo e a versão em PDF, aqui, com a assinatura digital do Santo Padre.

MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO PARA A CAMPANHA DA FRATERNIDADE ECUMÊNICA 2021

Queridos irmãos e irmãs do Brasil!

Com o início da Quaresma, somos convidados a um tempo de intensa reflexão e revisão de nossas vidas. O Senhor Jesus, que nos convida a caminhar com Ele pelo deserto rumo à vitória pascal sobre o pecado e a morte, faz-se peregrino conosco também nestes tempos de pandemia. Ele nos convoca e convida a orar pelos que morreram, a bendizer pelo serviço abnegado de tantos profissionais da saúde e a estimular a solidariedade entre as pessoas de boa vontade.

Convoca-nos a cuidarmos de nós mesmos, de nossa saúde, e a nos preocuparmos uns pelos outros, como nos ensina na parábola do Bom Samaritano (cf. Lc 10, 25-37). Precisamos vencer a pandemia e nós o faremos à medida em que formos capazes de superar as divisões e nos unirmos em torno da vida. Como indiquei na recente Encíclica Fratelli tutti, «passada a crise sanitária, a pior reação seria cair ainda mais num consumismo febril e em novas formas de autoproteção egoísta» (n. 35). Para que isso não ocorra, a Quaresma nos é de grande auxílio, pois nos chama à conversão através da oração, do jejum e da esmola.

Como é tradição há várias décadas, a Igreja no Brasil promove a Campanha da Fraternidade, como um auxílio concreto para a vivência deste tempo de preparação para a Páscoa. Neste ano de 2021, com o tema “Fraternidade e Diálogo: compromisso de amor”, os fiéis são convidados a «sentar-se a escutar o outro» e, assim, superar os obstáculos de um mundo que é muitas vezes «um mundo surdo». De fato, quando nos dispomos ao diálogo, estabelecemos «um paradigma de atitude receptiva, de quem supera o narcisismo e acolhe o outro» (Ibidem, n. 48). E, na base desta renovada cultura do diálogo está Jesus que, como ensina o lema da Campanha deste ano, «é a nossa paz: do que era dividido fez uma unidade» (Ef 2,14).

Por outro lado, ao promover o diálogo como compromisso de amor, a Campanha da Fraternidade lembra que são os cristãos os primeiros a ter que dar exemplo, começando pela prática do diálogo ecumênico. Certos de que «devemos sempre lembrar-nos de que somos peregrinos, e peregrinamos juntos», no diálogo ecumênico podemos verdadeiramente «abrir o coração ao companheiro de estrada sem medos nem desconfianças, e olhar primariamente para o que procuramos: a paz no rosto do único Deus» (Exort. Apost. Evangelii gaudium, n. 244). É, pois, motivo de esperança, o fato de que este ano, pela quinta vez, a Campanha da Fraternidade seja realizada com as Igrejas que fazem parte do Conselho Nacional das Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC).

Desse modo, os cristãos brasileiros, na fidelidade ao único Senhor Jesus que nos deixou o mandamento de nos amarmos uns aos outros como Ele nos amou (cf. Jo 13,34) e partindo «do reconhecimento do valor de cada pessoa humana como criatura chamada a ser filho ou filha de Deus, oferecem uma preciosa contribuição para a construção da fraternidade e a defesa da justiça na sociedade» (Carta Enc. Fratelli tutti, n. 271). A fecundidade do nosso testemunho dependerá também de nossa capacidade de dialogar, encontrar pontos de união e os traduzir em ações em favor da vida, de modo especial, a vida dos mais vulneráveis.

Desejando a graça de uma frutuosa Campanha da Fraternidade Ecumênica, envio a todos e cada um a Bênção Apostólica, pedindo que nunca deixem de rezar por mim.

Roma, São João de Latrão, 17 de fevereiro de 2021

Francisco

www.cnbb.org.br

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