Estado ficou no escuro por quase um mês em novembro do ano passado e vítimas ainda sofrem as consequências
“Eu me deparei com uma cidade em estado de calamidade”, a frase está no relato do cineasta Carlos Pronzato sobre o que encontrou em Macapá, capital do Amapá, no mês novembro, quando esteve na cidade para documentar o caos da falta de energia que já durava duas semanas.
A jornada rendeu o documentário “Amapá: quem vai pagar a conta?”, que narra como o serviço privatizado, de péssima qualidade e caro levou mais de 760 mil pessoas e um estado inteiro a mais de três semanas de pesadelo. O filme será lançado nesta sexta-feira (22) às 14h e ficará disponível gratuitamente no canal de Pronzato no Youtube.
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O documentarista chegou à capital do Amapá com a crise já em curso, cerca de quinze dias após o início do apagão. Ele conta que o panorama do documentário é dado a partir do segmento social popular do trabalho. “À noite, as pessoas trabalhavam com velas e se arriscavam, porque havia muita insegurança, assalto, roubo. Nós entrevistamos algumas dessas pessoas. Me chamou muito atenção que elas estavam trabalhando igual, apesar da situação.”
A crise de energia no Amapá teve início após um incêndio no transformador que abastecia praticamente todo o estado. Por 22 dois dias, quase 90% da população ficou sem energia, com abastecimento de água e alimentos fortemente comprometido e comunicação quase inexistente. A atenção nacional ao problema só veio após o terceiro dia seguido no escuro.
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“Foi um grande impacto ver uma cidade inteira nessa situação. Quase todos os municípios estavam nessa situação e havia realmente um descaso do Governo Federal. Um esquecimento quase que proposital, que não é de agora, é histórico no Amapá. Eles são conscientes dessa discriminação geográfica e até humana nesse momento que eles sofreram e sofrem”, relata Pronzato.
As consequências do apagão ainda estão vivas no cotidiano da população do Amapá, até hoje não foram pagas indenizações pelas perdas sofridas. O auxílio emergencial para os atingidos também está pendente. Pronzato entrevistou dezenas de pessoas e, nas conversas, chama a atenção as menções unânimes ao descaso do poder público e aos impactos negativos trazidos pela privatização.
“Questões estratégicas, como a energia, deveriam estar nas mãos do estado”, afirma o cineasta. O documentário foi realizado com apoio da Confederação Nacional dos Urbanitários (CNU) e da Federação Nacional dos Urbanitários (FNU), trabalhores dos setores de energia, saneamento, meio ambiente e gás.
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O secretário de saneamento da FNU, Fábio Giori, conversou com o Brasil de Fato sobre o projeto e ressaltou a importância de dialogar com a sociedade sobre as consequências da privatização de serviços estratégicos. “O privado tem o objetivo legítimo de ter lucro na prestação dos seus serviços e existem serviços que devem ser prestados para a sociedade independentemente do lucro”, explica ele.
www.brasildefato.com.br / Nara Lacerda