O Dia da Consciência Negra – 20 de novembro – traz reflexões importantes sobre os caminhos da luta social no país. “Em homenagem a Zumbi dos Palmares, a data foi instituída para mostrar a importância das lutas promovidas pelos seres humanos escravizados em defesa da liberdade e da igualdade” para o entendimento “das consequências dessas lutas na formação da nação brasileira”, afirma Mônica Custódio, secretária da Igualdade Racial da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB).
Os resultados das eleições municipais “mostram um importante avanço para a igualdade racial no país, embora ainda precisemos avançar muito mais”, argumenta Lidiane Gomes, secretária da Igualdade Racial da CTB-SP. Porque a partir do ano que vem, as câmaras municipais terão 44% das vereadoras e vereadores autodeclarados pretos e pardos, de acordo com levantamento do site Gênero e Número, com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Para Lidiane, é fundamental estudar a história para compreender as lutas pelo fim da escravidão e de como essas lutas construíram e transformaram o Brasil. “Através do estudo da História podemos compreender como o racismo e o machismo foram forjados em uma sociedade patriarcal como a nossa”, acentua. Além de “entendermos a tentativa de negação da herança africana em todos os aspectos da vida brasileira”. Para isso, “tentam desumanizar a população negra e desacreditar a luta antirracista”.
Neste ano, a CTB promove a live cultural Canto ao Almirante – Um Grito de Liberdade, na sexta-feira (20), às 18h. Em homenagem ao líder da Revolta da Chibata, de 1910, João Cândido, conhecido como Almirante Negro. Cândido declarou ao jornal Correio da Manhã, no mesmo ano da revolta liderada por ele, que “as carnes de um servidor da pátria só serão cortadas pelas armas dos inimigos, mas nunca pela chibata de seus irmãos. A chibata avilta”. Nada mais atual no Brasil de 2020, sob o desgoverno de extrema-direita de Jair Bolsonaro.
Com bandeiras vermelhas e aos gritos de “viva a liberdade” e “abaixo a chibata”, os marinheiros amotinados apontaram canhões para a, então, capital federal, a cidade do Rio de Janeiro. “Foram presos, expulsos da Marinha, mas a História lhes reservou um lugar de destaque pela resistência aos opressores do povo trabalhador”, conta Lidiane.
Para Mônica, “não é possível pensar em uma batalha frontal e contemporânea contra o sistema escravocrata e o racismo estrutural, sem lembrar desse grande herói nacional que é João Cândido, o nosso Almirante Negro”.
Segundo ela, o líder punido pela Marinha, “nos lega um grande signo de valorização da liberdade e de emancipação humana com a Revolta da Chibata”. Lidiane complementa ao dizer que “a História do Brasil é repleta de lutas contra a opressão da classe trabalhadora e por liberdade desde o período colonial até hoje”.
Lidiane incentiva o estudo da História para compreender como “as rebeliões das senzalas e a resistência das mulheres e homens trazidos da África à força para serem escravizados fizeram parte da construção desta nação”, define.
O Mestre Sala dos Mares (1973 ), de Aldir Blanc e João Bosco
Pelo estudo da História, “ficamos sabendo que os nossos passos contra o racismo, por liberdade e por uma sociedade mais justa e igual vem de longe”, reforça Mônica.
“Essa é a grandeza de nosso povo”, destaca. “A luta dos nossos ancestrais contra a escravidão nos ensina que vem de longe a nossa luta pela preservação ambiental, pela sustentabilidade, pelo consumo com equilíbrio, saúde emocional, aceitação do próximo e ter apenas o que se precisa, sem ganância e concentração de riquezas”.
De acordo com Mônica, “para construir o socialismo em nosso território é necessário ter um olhar sobre os quilombos e respeitar nossos heróis e heroínas como Zumbi e Dandara dos Palmares, Aqualtune, Luísa Mahin, Luiz Gama, Tereza de Benguela, Tia Ciata e Marielle Franco”.
Lidiane assinala o avanço da luta antirracista, “presente na mídia como nunca”, mas realça a necessidade de “irmos além da mídia patronal e lutarmos pela igualdade racial de fato” e, para isso, é essencial “mostramos que realmente as vidas negras importam como todas as vidas”, por isso, “precisamos combater e denunciar o genocídio da juventude preta, pobre e da periferia, os números da violência e a discriminação no mercado de trabalho”.
Para superar o racismo em todas as suas matizes, “é necessário enfrentar o racismo religioso que visa destruir a nossa cultura e a nossa autoestima para nos impedir de resistir à opressão”, sintetiza Mônica. Porque “o racismo religioso é a ponta de lança de um sistema que aniquilou e aniquila ainda hoje a nossa nação”. Para ela, “os ensinamentos produzidos pela matriz africana em nosso país é libertador, é vida, é resistência, é resiliência, é amor”.
Em São Paulo, ocorre a 17ª Marcha da Consciência Negra com concentração no vão do Masp, na avenida Paulista, a partir das 16h. Acompanhe a página oficial do Facebook da marcha e leia o manifesto de 2020 aqui.
www.ctb.org.br /Marcos Aurélio Ruy