O neurocientista Miguel Nicolelis, coordenador do Comitê Científico do Consórcio Nordeste, afirmou em entrevista ao Globo desta terça (20) que o Brasil deve se antecipar à segunda onda do novo coronavírus, começando a estocar medicamentos, EPIs (equipamentos de proteção individual), testes e outros insumos necessários ao enfrentamento da pandemia.
Para o cientista, também está na hora de preparar a população para a possibilidade da retomada das restrições sociais mais rígidas, como o fechamento dos serviços não essenciais.
O Brasil registra hoje 5,2 milhões de casos de Covid-19 e 154 mil mortes. Uma projeção da Universidade de Washington aponta que o País chegará a 175 mil mortes no começo de janeiro, quando a média móvel de óbitos deve cair para o patamar de 160 mortes ao dia.
“Temos que nos preparar agora. Isso significa pensar em fechar o espaço aéreo brasileiro, reabastecer de máscaras, testes, EPIs, medicamentos. Tudo que faltou no primeiro momento da nossa crise. E tem que preparar a população para a possibilidade de retorno de restrições mais rígidas como está acontecendo na França, Alemanha e Portugal”, disse.
Nicolelis lembrou que, no começo da pandemia, o Brasil sofreu por falta de equipamentos de proteção. Em entrevista ao Roda Viva, o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta disse que não usou os agentes comunitários de saúde numa estratégia nacional para rastrear casos e conter as cadeias de transmissão do vírus justamente por falta de máscaras, testes e outros EPIs. “Isso tudo vai sumir do mercado internacional de novo”, disse Nicolelis.
Para o cientista, no Brasil as “pessoas estão contando com a vacina e não temos nada concreto ainda.”
“Eu já estou pensando no final do ano. Nas festas que, em teoria, não deveriam ocorrer. Deveriam ser coisas familiares, restritas. Se a maioria de lugares cancelou o carnaval, o réveillon é a próxima bomba relógio”, disparou.
Na Europa, a segunda onda apresenta um número de casos várias vezes mais alto do que na primeira onda, apesar da mortalidade estar reduzida.
“Tem que ter um olhar global. É uma pandemia, o próprio nome já diz. Não pode fazer planejamento do Nordeste, do Brasil sem acompanhar a situação mundial. Isso é determinante para a atuação local.”
BRIGADAS. Ainda de acordo com Nicolelis, uma das recomendações aos estados é a adoção de “brigadas emergenciais de saúde. É um grupo de profissionais de saúde que vão nas casas das pessoas para atender casos suspeitos”, conforme sugeriu o Comitê Científico do Nordeste. “No nosso último relatório, o estado que melhor se saiu nessa atuação foi o Piauí.”
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