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/ sábado, novembro 23, 2024
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Inteligência de dados tem ajudado no combate ao novo coronavírus

Dados como taxa de ocupação de leitos, casos ativos, suspeitos e confirmados e de óbitos ajudam nas decisões. Foto: Raphael Müller, agência A TARDE
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Diante de um vírus que não tem vacina nem medicamento que possa curá-lo ou reduzir seus efeitos nas pessoas infectadas, a informação é a principal aliada dos gestores na tomada de decisões sobre como enfrentar a pandemia do novo coronavírus (Covid-19).

Em Santa Catarina (SC), o governo estadual tem reforçado a chamada “inteligência de dados” para obter informações mais qualificadas em relação ao avanço da Covid-19 pelo estado. A gestão criou em abril deste ano um núcleo intersetorial, que reúne secretarias, órgãos como o Ministério Público e o Tribunal de Justiça, além de organizações da sociedade civil.

A partir do esforço conjunto, o objetivo é melhorar a base de dados relacionados à doença, fornecendo ao governo análises, modelagens e previsões sobre a curva de casos e óbitos, ocupação de leitos clínicos, tendência de crescimento da contaminação por região do estado, entre outras informações. Com a articulação, SC tem hoje a terceira menor taxa de mortalidade do país, de 1,72%, segundo dados de ontem do Ministério da Saúde, e está em 5º lugar no ranking de transparência de dados sobre Covid-19 da Open Knowledge Brasil.

Em momento no qual o colapso no sistema de saúde é iminente em alguns estados – no Amazonas, ele já chegou –, a integração de dados também ajuda no gerenciamento de leitos clínicos e de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs). Em parceria do núcleo com a ONG Social Good Brasil e a Associação Catarinense de Medicina (ACM), o governo criou um mapa de leitos, equipamentos como respiradores e equipamentos de proteção individual (EPIs) em tempo real.

Em parceria com a LifesHub Analytic, que compilou e unificou bases de dados públicas sobre leitos clínicos e equipamentos em Santa Catarina, a ACM realizou um mapeamento da distribuição das unidades no estado. Essas informações auxiliaram na construção de um software pela Social Good, alimentado em tempo real por hospitais públicos, filantrópicos e privados, com informações sobre ocupação e ociosidade delas. Assim, é possível saber qual a situação de determinado município e quais ações precisam ser tomadas pelo governo, caso o cenário seja grave. Os dados podem ser cruzados também com outra solução de inteligência criada pela ONG: a chamada matriz Gutai.

Por meio de detalhes como taxa de ocupação de leitos, casos ativos, suspeitos e confirmados e número de óbitos é possível definir um índice de gravidade da situação no estado e seus municípios. Este fator vai de um a cinco, no qual um é menos grave e cinco é mais grave. Com ele, os governantes podem saber se é necessário tomar ações urgentes para conter a velocidade de crescimento da necessidade de leitos ou se há tendência de piora do cenário local por causa do crescimento acelerado de infectados.

“Esse mapeamento dos leitos é importante porque, sem ele, você não consegue fazer determinadas coisas. A partir dos dados da quantidade e crescimento de casos, você faz estimativas de quantos leitos vai precisar. Aí é preciso ter informações sobre quantidade de leitos, respiradores, onde eles estão disponibilizados, quais regiões têm mais casos, onde têm crescido mais, onde precisa mandar mais equipes de segurança pública para orientar a população sobre isolamento e distanciamento social”, explicou Ademar Paes, presidente da ACM, sobre a importância da inteligência de dados para leitos. Além disso, as informações servem também para que o governo saiba onde há maior demanda por médicos e quais especialidades são mais necessárias.

Outras ações

A integração de dados também permitiu que o governo catarinense adotasse um sistema de envio de mensagens de texto por celular para avisar a moradores que estão perto de pessoas com coronavírus. Implementada de forma pioneira no fim de março na capital Florianópolis, por meio da parceria entre a prefeitura e a ACM, a ferramenta foi estendida ao resto do estado.

De acordo com a Secretaria de Administração do Estado, desde 11 de abril, quando o sistema começou a ser operado, até o momento, mais de 254 mil SMS foram disparados. Com o sistema, o objetivo é que pessoas, principalmente do grupo de risco, se resguardem e intensifiquem medidas de higienização.

O diretor de tecnologia e inovação da pasta, Félix Fernando, explica como funciona a ferramenta.

“São utilizados, inicialmente, os bancos de dados transacionais do governo. Em seguida práticas de business inteligence [coleta, organização, análise, compartilhamento e monitoramento de dados feitas por computadores] consolidam e segmentam os dados. Na sequência, algoritmos são utilizados para anonimização [não é possível identificar a pessoa, tampouco o endereço exato do caso]. Com os dados anonimizados, georreferenciamos os endereços e por último utilizamos a tecnologia SMS para o contato com os cidadãos”, afirma.

O disparo de mensagens é apenas o produto final de um processo que só é possível por causa de informações colhidas pelos municípios, estado e governo federal. Além disso, são usados também dados de laboratórios, clínicas e hospitais da rede privada, cadastrados em plataforma da administração catarinense. A localização dos contaminados é feita a partir de um cadastro de pessoas que foram geolocalizadas com longitude e latitude pelo endereço.

Entre as ações estabelecidas pelo núcleo, está uma frente de transparência na divulgação de dados para a sociedade e um modelo epidemiológico inspirado em estudos do Imperial College London, na Inglaterra, referência em previsões sobre coronavírus no mundo, mas que abranja características próprias de Santa Catarina. As plataformas serão disponibilizadas nos próximos dias para os municípios, que poderão utilizá-las de acordo com a realidade local.

Informação clara é fundamental

Segundo Ademar Paes, presidente da ACM, a estrutura montada faz com que o estado não veja atualmente risco de colapso no sistema de saúde, como acontece em outras unidades da federação. Mesmo assim, ele alerta que a situação precisa ser constantemente monitorada.

“Informação, atendimento médico e padrão de comportamento. São três coisas que precisam caminhar juntas no combate à pandemia. A gente precisa ter esses dados muito bem controlados e vigiados para, a qualquer evolução, mudar a estratégia”, alertou.

Na avaliação da presidente da Social Good Brasil (SGB), Fernanda Bornhauser, a inteligência de dados é fundamental para salvar vidas. “A única forma de salvar vidas é a inteligência, com estratégia e transparência, para que a população possa se informar. Hoje não é mais admissível que você adote políticas públicas sem ter essas informações bem analisadas”, falou Bornhauser, que completou: “E é fundamental também ter transparência na divulgação desses dados. Tem estados com conflito na base de dados em relação ao governo federal. Isso é muito sério. Esses dados não têm confiabilidade. É preciso checar constantemente a consistência desses dados”, defendeu.

Na Bahia, a integração de dados norteia Rui e ACM

A integração de dados ajudou a prefeitura de Salvador e o governo baiano a tomarem medidas que contribuíram para a estabilização da taxa de contaminação no estado e a redução do isolamento social para um dos menores níveis no país nesta semana.

Dados apontavam a saturação dos leitos | Foto: Felipe Iruatã | Ag. A TARDE
Dados apontavam a saturação dos leitos | Foto: Felipe Iruatã | Ag. A TARDE

Com informações que apontavam para a saturação dos leitos clínicos e de UTI e para um crescente descumprimento do isolamento, o governador Rui Costa e o prefeito ACM Neto resolveram editar um decreto conjunto que antecipou os feriados estaduais de 2 de Julho e São João para as últimas segunda e terça e do feriado municipal de Nossa Senhora da Conceição da Praia para quarta. Além disso, proibiram o funcionamento de serviços não essenciais quinta e sexta.

Ontem, o governador afirmou que a Bahia teve estabilização na quantidade de casos do coronavírus nos últimos quatro dias. De acordo com ele, este é o primeiro passo para a curva de contaminação começar a cair. O estado também ficou em 5º lugar entre as menores taxas de isolamento do país na terça, segundo dados da plataforma ‘In Loco’. Nas redes sociais, o secretário da Saúde do Estado, Fábio Vilas-Boas, elogiou também os índices da capital baiana.

Para tomar decisões como essa, estado e prefeitura utilizam iniciativas de integração de dados de vários órgãos públicos. No caso da Bahia, o trabalho é feito pela Vigilância Epidemiológica, que unifica bases de informação do governo federal e municípios, como quantidade de casos confirmados, leitos e equipamentos disponíveis. A partir disso, é possível medir a evolução da doença e mapear quais regiões do estado precisam de medidas restritivas mais duras.

Além disso, a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Informação desenvolveu um aplicativo para celular chamado Monitora Covid, no qual a população descreve potenciais sintomas de Covid-19 e, a partir de análise médica, pode receber orientação sobre o que fazer em cada situação.

Já a prefeitura de Salvador criou um grupo, coordenado pelo secretário municipal de Mobilidade, Fábio Mota, que congrega dados sobre quantidade de casos, movimento de carros nas ruas, uso de transporte público pela população, além de outros indicadores que ajudam a entender como, por que e por onde a doença prolifera na cidade. Essas informações têm balizado outras medidas da gestão, como o fechamento de bairros onde há mais risco de progressão da pandemia.

www.atarde.uol.com.br / Bruno Luiz

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