Faixa etária entre 30 e 39 anos é a que apresenta maior número de doentes, segundo o último boletim da Sesab
Quando a pandemia de covid-19 começou, a maior preocupação era com os idosos e com as pessoas com comorbidades associadas, como hipertensão, problemas cardíacos e outras doenças. Desde o início, os jovens não foram o foco. Mas, agora, eles estão entre as faixas mais infectadas na Bahia. Apenas em Feira de Santana, o crescimento dos casos entre pessoas mais novas é de 180% segundo os últimos boletins da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab). Na cidade, o número de confirmados com idade entre 20 e 29 anos com a doença passou de 26 para 73.
O aumento é atribuído por autoridades epidemiológicas do município ao comportamento dos jovens, que se expõem aos vírus em festas privadas, encontros diversos com amigos ou disputas esportivas. Todas estas atividades estão proibidas em Feira de Santana, por decreto assinado pelo prefeito Colbert Martins Filho, que tem como objetivo evitar a formação de aglomeração, como meio de impedir a proliferação desta doença.
“Esta faixa etária representa a maior parte da população economicamente ativa de Feira de Santana. Além disso, temos ainda a questão da prática de futebol amador, que é muito forte no município. Temos 70 campos e quadras esportivas na cidade e nos sete distritos. Fechamos a maioria deles, pois a prática de esportes está proibida. Contudo, naqueles equipamentos que têm alambrados, as pessoas acabam arrombando para entrar nas quadras e campos. A fiscalização tem sido intensa, interrompendo muitos ‘babas’ em vários bairros diuturnamente, mas ainda assim há muitos jovens que insistem na prática”, disse o prefeito de Feira, Colbert Martins Filho, ao CORREIO.
Outro ponto destacado pelo gestor além do esporte é o comportamento de lazer, com jovens que fazem festas, insistindo em manter aglomerações apesar das medidas de isolamento. Uma operação de fiscalização mais intensa começou na última quinta-feira (21) justamente na intenção de coibir tais práticas. “A frequência em bares também tem sido grande, apesar de todas as medidas restritivas que adotamos. Dos 147 estabelecimentos fechados até agora pela nossa fiscalização, a grande maioria foi de bares e pequenos restaurantes e pizzarias. Isso também contribuiu muito para esse aumento.. Além disso, os jovens insistem em fazer festas, na zona rural, nos distritos. Está havendo fiscalização, mas a desobediência tem sido muito grande”, observa o prefeito.
Estado
Na Bahia como um todo, o crescimento entre os mais jovens também é percebido. Segundo o último boletim da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab), a faixa etária com o maior número de casos está na faixa de 30 a 39 anos que com 3.082 diagnósticos confirmados representa 20,45% de todos casos na Bahia. Na faixa etária de 20 a 29 anos, são 1392 confirmações (9,24%).
Na comparação apenas com o início deste mês de maio, as faixas etárias ocupam as mesmas posições com 27,39% e 12,48% para quem tem a faixa dos 30 e dos 20 anos respectivamente. Em números absolutos os casos, de acordo com os dados dos boletim divulgado em 1º de maio, os diagnósticos confirmados eram 392 para a casa dos 20 e 860 para quem já tinha passado dos 30. Em menos de um mês o crescimento foi de cerca de 250% para ambas as faixas.
Em Salvador, segundo dados da Secretaria Municipal de Saúde, pacientes entre 20 e 39 anos representam 39,6% do total, com 3.695 casos confirmados. Um deles é do professor de educação física Bruno Novaes, 28 anos, que teve os sintomas no início deste mês. “Comecei a sentir os sintomas no dia 2, foram alguns dias com fadiga, dois dias de febre e mais ou menos cinco com a perda olfativa. Como os sintomas foram leves eu me cuidei em casa mesmo, me hidratei muito e passou rápido”, relata
O contágio com o vírus aconteceu mesmo com todos os cuidados. “Tava saindo só para coisas realmente necessárias, trabalhando de casa, quando saia com todos os cuidados recomendados. Meu irmão, que estava mais relaxado, indo fazer atividade física, andar de skate. Como a gente divide o quarto, acabou que os dois tiveram os sintomas”, conta Bruno.
Agora já sem os sintomas, ele relata como foram os dias de convívio direto com o vírus. “A princípio eu tive muito medo, no começo fiquei bastante preocupado. Mas depois fui vendo que tinham muitas pessoas com sintomas leves, que se cuidaram, e conseguiram se recuperar, fui ficando mais tranquilo até para que o psicológico não ficasse abalado eu tivesse uma piora por conta do emocional”, conta.
Vetores
Para quem trabalha diretamente no cuidado com os pacientes a mudança no número de caso entre os jovens têm uma razão comportamental. “Os jovens entendem menos e aderem menos às medidas de precaução. Até as coisas mais simples, como lavar as mãos, a gente percebe que é um pouco mais difícil com eles criar esse hábito. Os jovens também são os que menos respeitam a não aglomeração, são pessoas mais difíceis de ficar em casa e respeitar o isolamento social”, opina a médica infectologista Clarissa Ramos
Para a profissional, apesar da maioria dos casos, nos jovens sem comorbidades, se apresentarem de forma leve, ainda existe um risco importante. “No hospital, internado, não tem muitos jovens, eles ficam doentes realmente, mas a maioria absoluta deve a doença na forma leve e se tratou em casa. Apesar dessa não gravidade, essa alto número acaba sendo preocupante, porque os jovens que não se protegem são vetores que acabam passando a doença para outras pessoas”, explica a médica.
www.correio24horas.com.br / *Com orientação da subeditora Clarissa Pacheco