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/ sexta-feira, novembro 22, 2024
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Bolsonaro quer flexibilizar quarentena com plano genocida que não aquece a economia

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Governo anunciou como essenciais academias de ginástica, salões de beleza e barbeiros. Abertura pode aumentar contágio à Covid-19 e aprofundar crise econômica

O decreto de Jair Bolsonaro, que incluiu academias de ginástica, barbeiros e salões de beleza como serviços essenciais, e ampliou a lista para mais de 50 atividades, além de ser extremamente perigoso para toda a população que corre mais riscos de se contaminar com o novo coronavírus (Covid-19), vai aprofundar a crise econômica.

Estudo da Centers for Disease Control and Prevention, o principal instituto nacional de saúde pública dos Estados Unidos, indicou que cada pessoa infectada pelo vírus pode contagiar outras 5 ou 6. Para sorte de parte dos brasileiros, os governadores dos estados mais afetados pela doença já disseram que vão ignorar o decreto, mas muitos vão aderir à alucinação de Bolsonaro.

E o suposto aumento da circulação de dinheiro, obsessão de Bolsonaro, não vai compensar as perdas porque a conta da área da saúde vai ficar ainda mais cara, sem contar as perdas de vidas. Resumindo, é um projeto genocida que ignora a saúde dos brasileiros, pode representar uma economia hoje, mas tem um custo alto amanhã, analisam o deputado federal e ex-ministro da Saúde, Alexandre Padilha (PT-SP), e o economista da Unicamp, Marcelo Manzano.

Bolsonaro age de forma genocida ao não sancionar a ampliação do direito do auxílio emergencial de R$ 600,00 para mais categorias de informais não contemplados no primeiro projeto que estão passando necessidade e, ao mesmo tempo, editar um decreto que considera atividades essenciais manicures. pedicures e barbeiros, profissões que ele quer vetar da proposta, critica Padilha.

“Abrir esses comércios é colocar em risco a vida desses trabalhadores e da população que frequenta esses locais. No mundo inteiro, as autoridades de saúde têm alertado que salões de beleza, academias de ginástica e barbeiros são equipamentos com alto risco de transmissão”, alerta o deputado, acrescentando que a liberação desses serviços é mais um passo ao projeto genocida de Bolsonaro. “Como ele mesmo anunciou, 70% da população brasileira pode se infectar e, para ele, milhões de mortes são normais”.

Bolsonaro namora a morte dos outros, dos mais pobres, dos idosos, da minoria. Quando o assunto é sua família e grandes banqueiros e empresários ele se arma bem para protegê-los

– Alexandre Padilha

O economista da Unicamp acrescenta que, do ponto de vista teórico, esses setores que Bolsonaro quer abrir, dariam um pequeno alívio porque empregam muita gente. São 2.588.990 de pessoas nessas atividades, que representam 2,7% dos ocupados , segundo a Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE), adotada pelo IBGE para definir as atividades existentes e quantas pessoas estão nessas atividades. A maioria de seus proprietários, prossegue o economista, é composta por microempreendedores, que enfrentam dificuldades financeiras, sem caixa para atravessarem esse período. No entanto, com o alto índice de contaminação pela Covid -19, o prejuízo a ser pago logo adiante seria muito maior, com o lockdown, o confinamento obrigatório,  e a quarentena estendida por mais tempo.

“O governo também desconsidera que o cenário internacional já mostrou que as pessoas estão com receio de frequentar esses locais. Não é só abrir. E também temos exemplo aqui no Brasil. Veja o que aconteceu em Blumenau [SC] que reabriu um shopping durante a pandemia. No primeiro dia foi uma correria e hoje está praticamente às moscas, porque a população tem medo de se contaminar”, lembra Manzano.

Apenas uma semana depois que um shopping de Blumenau reabriu com um saxofonista tocando, lojistas batendo palmas para os clientes e centenas de pessoas entrando sem qualquer cuidado, como máscara e distanciamento social, a cidade registrou um aumento de 173% dos casos de Covid-19.

Mas, esta não é a primeira decisão de Bolsonaro que vai contra as  recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) para conter a disseminação do coronavírus. As andanças dele pelo comércio de Brasília, a ida aos atos, sem proteção estimulando as pessoas a saírem de casa e até uma propaganda contra o confinamento levaram  Alexandre Padilha e outros ex-ministros da saúde a denunciar o presidente na Organização das Nações Unidas (ONU) e na Organização Mundial de Saúde (OMS), exatamente por essas atitudes genocidas. Ele também denunciou Bolsonaro à justiça brasileira pela campanha estimulando o fim da quarentena (a campanha não chegou a ser veiculada após as repercussões negativas). Segundo Padilha, o atual ocupante da cadeira presidencial, reiteradamente, desrespeita as autoridades de saúde, as orientações sanitárias e coloca milhões de vidas em risco, crime este passível de responsabilidade.

Para Manzano, Bolsonaro apenas faz um jogo populista para a sua base eleitoral, em parte constituída por empreendedores, que estimula muitos a burlar a quarentena e o aumento dos casos da doença mostra isso.

É uma bobagem e uma irresponsabilidade abrir comércios. Quanto mais flexível for a quarentena, mais problemas econômicos teremos num futuro próximo

– Marcelo Manzano

A preocupação de que Bolsonaro defende mais a economia do que a vida das pessoas, também é criticada pela secretária de Saúde da CUT Nacional, Madalena Margarida.

Segundo a dirigente, Bolsonaro se aproveita das categorias de trabalhadores e trabalhadoras informais, que têm baixa organização sindical para por seu plano de retorno econômico em prática, no entanto, não sancionou o auxílio emergencial para esses trabalhadores.

A CUT defende o afastamento social, diz Madalena, mas defende também que o governo federal garanta que esses trabalhadores possam ficar em casa, como recomenda a OMS com renda que lhes garanta o mínimo de dignidade.

“Abrir estabelecimentos não essenciais, oferece um imenso risco de contágio e de adoecimento, de morte, até porque há um grande número de estados e municípios em que seus sistemas de saúde já estão perto do colapso”, pondera Madalena.

Pela revogação da EC 95

O colapso no sistema de saúde do país, que dificulta o combate ao coronavírus tem uma grande vilã, a Emenda Constitucional (EC) nº 95, que congelou os gastos públicos, por 20 anos, afirma Alexandre Padilha, e por isso, segundo ele, é preciso revogar a EC 95.

De acordo com o deputado, a emenda do Teto de Gastos retirou R$ 22,5 bilhões da saúde, desde 2016, ano do golpe. Para efeito de comparação, diz, 60% dos leitos de UTI do SUS [Sistema Único de Saúde], quase 100% dos 2.500 leitos de UPAs 24horas, e 5,8 mil leitos de ‘Cuidados Críticos’ foram abertos entre 2009 e 2015, nos governos Lula e Dilma.

“Depois da EC95 quase não se abriu leito novo. Tem que investir mais no SUS para proteger os trabalhadores da saúde que estão expostos à Covid 19, pagar quem não está recebendo como os residentes, ampliar leitos, retomar o programa ‘Mais Médicos’. Além disso, tem que instituir imediatamente a fila única de todos leitos públicos e privados para serem controlados pelo SUS”, sugere o ex-ministro da saúde do governo Dilma.

Ministro da saúde atua como fã de Bolsonaro

Alexandre Padilha critica a atuação do ministro da Saúde, Nelson Teich, a quem chama de “Fanteich”, ao combinar a palavra “fã” com o sobrenome do ministro Teich.

“O ministro atua como fã desse projeto genocida de Bolsonaro. Está claro que é este o projeto que motivou a mudança no ministério da Saúde. Henrique Mandetta [ex-ministro] que deveria sair porque votou pelo fim dos Mais Médicos, por ter votado pelo congelamento nos gastos com a saúde, saiu pelos motivos errados”, afirma.

A crítica mais contundente de Padilha ao ministro da Saúde se deve ao fato de Nelson Teich ter sido informado pela imprensa que salões, barbeiros e academias foram colocados na lista de serviços essenciais. O ministro chegou a afirmar que o seu ministério apenas recomenda os cuidados com o coronavírus e, que é o ministério da Economia que decide sobre a abertura de serviços essenciais.

“Bolsonaro precisa de um ministro inerte, que fica calado e não reage diante de mais um passo ao projeto genocida. Esse “Fanteich” não entende nada. Caiu de paraquedas. É como se no final da Copa do Mundo, o técnico da seleção colocasse para bater um pênalti um jogador que nunca disputou um campeonato de primeira divisão”, conclui Padilha.

www.cut.org.br / Rosely Rocha

 

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