O 1º de maio de 2020 será um marco da luta das Centrais Sindicais brasileiras em defesa do Estado democrático de direito e na resistência contra a política de retirada de direitos dos trabalhadores e trabalhadoras concretizada após o impeachment de 2016. A opinião é de Adilson Araújo, presidente da Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB). “É primordial a manutenção da unidade das centrais para virar o jogo”, afirmou.
AQUI NA BAHIA PARQUE DE EXPOSIÇÕES, DAS 8H ÀS 17H, 1º DE MAIO DE 2020
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Confira entrevista na íntegra:
Como você avalia o cenário do 1º de maio deste ano e qual será o espírito das atividades via internet programadas para o dia?
Adilson Araújo: O cenário é conturbado. O mundo agoniza e o sistema capitalista vai se mostrando incompetente. Esperamos que o primeiro de maio seja um momento de reflexão para fortalecer a unidade das Centrais Sindicais, a unidade do campo democrático popular, dos que defendem a democracia e que estão preocupados com o recente posicionamento do presidente da república (participação em atos que pediam a volta da ditadura e do AI 5). A postura adotada ultrapassa o estado democrático de direitos, portanto, o primeiro de maio é o momento de fortalecer os laços de unidade e solidariedade.
Que comparações a gente pode fazer com as lutas atuais e as lutas históricas do primeiro de maio. O que mudou ou retrocedeu?
Adilson Araújo: É emblemático que em pleno século XXI pela importância histórica que tem o primeiro de maio, o marco que são as lutas de Chicago, em 1886, mas que se consolida como um dia internacional da classe trabalhadora em 1889, nos deparamos com a dimensão de que temos muitos dilemas a serem tratados. A crise também impõe novos paradigmas. A bandeira que uniu a classe trabalhadora no final do século XIX que foi a redução da jornada de trabalho para oito horas, porque naquele período as jornadas exaustivas eram de 16, 17, 18 horas, se mostra cada vez mais atual. Se naquele tempo a gente reivindicava oito horas, hoje esses trabalhadores da plataforma digital chegam a trabalhar 20 horas no final de semana. A regra é desumana e a grande maiores desses trabalhadores não tem contrato, não tem jornada, não tem direitos, garantias, só tem deveres de ser ágil na entrega da mercadoria. A plataforma é moderna mas as relações de trabalho são as piores possíveis. Não tem o pelourinho, não tem o chicote mas a violência praticada indiretamente institui um trabalho penoso que tem causado mortes como o caso de um trabalhador que teve um mal súbito e morreu.
O golpe de 2016 tinha como alvo a classe trabalhadora e os sindicatos?
Adilson Araújo: O governo Lula iniciou um ciclo mudancista na vida brasileira que valorizou o salário mínimo, que chegou a ser valorizado em mais 70%, o que não acontecia há 50 anos. A maioria das categorias alcançou aumento real recuperando o poder de compra dos seus salários e foi estabelecido um dialogo social importante no Brasil com a participação em conselhos. Em dezembro de 2014 haviam importantes políticas de geração de emprego e renda e a taxa de desemprego era 4.3%. Daí veio a restauração neoliberal com o golpe (impeachment de 2016 que destituiu a presidenta Dilma Rousseff) que implementou a agenda de maldades com a reforma trabalhista, terceirização generalizada, reforma da previdência, ou seja, aumentou o numero de óbitos, precarização do trabalho, se jogou toda a carga para flexibilizar direitos.
Quais os caminhos que as Centrais apontam nesta resistência em defesa dos direitos da classe trabalhadora e da democracia?
Adilson Araújo: Temos que lutar para garantir a nossa sobrevivência. O governo quer acabar com a ordem social, quer destruir os direitos alcançados pela Constituição Federal e também acabar com os sindicatos. O Rogério Marinho, o (ministro da Economia) Paulo Guedes seguem obcecados em acabar com os sindicatos que, mesmo em um ambiente de crise, ainda é uma fonte importante de resistência. O movimento sindical tem essa capacidade de nuclear importantes segmentos. Você tem uma classe trabalhadora ativa, participativa que elegeu um operário presidente da República. Eles têm grande receio de que a classe trabalhadora possa virar o jogo por isso jogam as cartas para asfixiar o movimento sindical. Neste momento precisamos ter consciência do quanto é primordial e fundamental a manutenção da unidade. Ter sensibilidade de que a crise gera oportunidades e acumular forças políticas e virar o jogo para criar caminhos para um Brasil próspero e soberano.
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