Ganhadeiras de Itapuã, liberdade e a emancipação feminina – Viradouro é campeã do Carnaval carioca
Por Marcos Aurélio Ruy
Com um forte recado aos catastrofistas de plantão a escola de samba Unidos do Viradouro, de Niterói (RJ), venceu o Carnaval na acirrada disputa na Cidade Maravilhosa, capital do estado. A escola levou para a Marquês de Sapucaí o tema “Viradouro de alma lavada”.
Para contar a história das Ganhadeiras de Itapuã, mulheres escravizadas que lavavam roupas na Lagoa do Abaeté, em Salvador, capital da Bahia, e faziam outros serviços para comprar a carta de alforria e conquistar em definitivo a liberdade.
“Contar a história do ponto de vista da classe trabalhadora é fundamental para entendermos o racismo e o machismo como marcas da sociedade brasileira em pleno século 21”, afirma Mônica Custódio, secretária de Igualdade Racial da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB).
A Revolta dos Malês (1835) e a Sabinada (1837-1838) foram movimentos importantes contra o regime escravista após a Independência, conquistada em 1822, e o Brasil tornar-se um Império mantendo a escravidão como modo de produção.
“A Viradouro soube mostrar a participação de Luiza Mahin, uma escrava, na liderança dessas revoltas contra o regime escravista, pela liberdade e por terras para os escravizados”, acentua Mônica. Lembrando que a Abolição da escravatura só veio em 1888, sendo o Brasil o último país do Ocidente a pôr fim à escravidão. Luiza foi mãe do “Advogado dos Escravos”, Luiz Gama.
Para Kátia Branco, secretária da Mulher Trabalhadora da CTB-RJ, “os temas tratados pela escola campeã são muito caros ao bolsonarismo porque mostram a luta das trabalhadoras e dos trabalhadores escravizados pela superação desse sistema e desmente a ideia de que houve pouca ou nenhuma resistência ao escravismo”.
De acordo com ela, o governador Wilson Witzel e o prefeito Marcelo Crivella, da capital fluminense, além de Jair Bolsonaro na Presidência, “acabam com políticas públicas fundamentais para a luta antirracista e pela igualdade de gênero e isso faz o tema da Viradouro ganhar ainda mais importância”.
Por isso, diz Mônica, “precisamos amplificar os temas da maioria das escolas de samba deste Carnaval para a maioria da população ter acesso às mensagens e dessa forma entender os perigos de se apoiar governantes que defendem o ódio e a violência, o racismo e a misoginia”.
“Levanta, preta, que o Sol tá na janela/Leva a gamela pro xaréu do pescador/A alforria se conquista com o ganho”, dizem versos do samba enredo de autoria de Anderson Lemos, Carlinhos Fionda, Cláudio Russo, Dadinho, Diego Nicolau, Júlio Alves, Manolo, Paulo César Feital e Rildo Seixas.
E complementam: “São elas, dos anjos e das marés/Crioulas do balangandã, ô iaiá/Ciranda de roda, na beira do mar/Ganhadeira que benze, vai pro terreiro sambar/Nas escadas da fé/É a voz da mulher”.
8 de março – Dia Internacional da Mulher – está aí para a luta das mulheres por igualdade de direitos tomarem as ruas de todo o país e fazer valer a luta de nossos antepassados. A liberdade depende de nós.
www.ctb.org.br