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/ sexta-feira, novembro 22, 2024
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Motoristas de Uber fazem manifestações em São Paulo no dia de greve mundial

foto: ROBERTO PARIZOTTI
Motoristas de Uber promovem buzinaço na Paulista
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Parte da categoria aderiu ao movimento às vésperas da data em que a empresa passará a negociar ações na Bolsa, com expectativa de avaliação  mais US$ 90  bilhões, enquanto os motoristas do aplicativo trabalham

Os motoristas de Uber fizeram um protesto mundial nesta quarta-feira (8) contra a política de tarifas da empresa norte-americana responsável pelo aplicativo de transporte. No Brasil, eles decidiram desligar o aplicativo a partir da zero hora desta quarta e só pretendem voltar a atender chamados na quinta-feira (9). No Brasil, a categoria reivindica também mais segurança e transparência da empresa, que chegou ao país em julho de 2014.

Na capital de São Paulo, dezenas de motoristas fizeram manifestações pela manhã. Houve protesto na Avenida Paulista, onde participaram de um “buzinaço”. Já na Barra Funda, região oeste, onde fica um dos escritórios da empresa, os motoristas fecharam uma das pistas de acesso ao local. No centro da cidade, no Vale do Anhangabaú, pouco mais de 100 motoristas se reuniram e, de lá, seguiram para a Bolsa de Valores de São Paulo, também localizada na região central.

Os trabalhadores e trabalhadoras do aplicativo decidiram pelo protesto em frente à Bolsa de Valores pelo simbolismo do local, já que a Uber passará a ter ações negociadas em todo o mundo, a partir da próxima sexta-feira (10), e a expectativa é de que o valor da empresa fique acima de US$ 90 bilhões. Lucro que os “parceiros”, como o aplicativo chama os motoristas, a maioria profissionais de áreas como comunicação e indústria, ou seja, jornalistas, engenheiros e metalúrgicos, entre outros, ajudam a aumentar em troca de renda muito menor do que as que tinham quando tinham empregos formais, com carteira assinada.

Embora, as manifestações tenham chamado a atenção para a precarização do trabalho dos motoristas da Uber, a maioria continuou trabalhando porque precisa levar comida para casa e alguns nem ficaram sabendo da greve porque passam 12 horas ou mais do dia rodando para pegar passageiros.

Este é o caso do motorista do aplicativo, Wagner Luiz Queiroz Pinto, que atende na região metropolitana, que hoje não participou da paralisação porque nem estava sabendo. Segundo ele, devido à sua jornada exaustiva, prefere não saber do noticiário.

“É tanta desgraça que contam dentro do carro, que eu só rezo e saio para trabalhar. Sei que sou meio alienado, mas só assim para aguentar o dia a dia”, diz.

Aos 53 anos, casado e pai de dois filhos, Wagner se viu desempregado após 22 anos trabalhando na mesma empresa como assessor de diretoria. Mas, a empresa, do ramo editorial de idiomas, entrou em recuperação judicial e ele foi obrigado a pegar a primeira oportunidade que tinha pela frente.

“Logo que a empresa fechou, eu sabia que não teria oportunidade de ganhar o que ganhava, pois me sentia desatualizado para concorrer com gente mais jovem. Há dois anos e dois meses venho trabalhando das 9h às 21h, exceto o dia de rodízio, para ganhar de R$ 3.200,00 a R$ 3.500,00 por mês, sem parar para o almoço“, diz .

Ele conta que sempre carrega frutas no carro e água, e suas idas ao banheiro se resumem às paradas para abastecer o veículo nos postos de gasolina.

“Agora a Uber colocou meta de 60 viagens de segunda a quinta e mais 60 de sexta a domingo. Quem consegue fazer tem menos desconto no valor da corrida, de 19 a 20%, mas não é obrigatório. Então, a gente aproveita os finais de semana que a demanda é maior. Eu chego a fazer 42 corridas num sábado, e assim ganho um pouco mais”, conta Wagner.

Riscos de assaltos são constantes

O trabalho árduo e cansativo sujeito a riscos de assaltos e de baixa remuneração foi a experiência que a Uber deixou na vida do jornalista André Silva, que aos 52 anos. Após nove meses desempregado ele se viu obrigado a recorrer ao trabalho alternativo para sustentar a mulher e os três filhos.

Ele conta que trabalhava de 8 a 10 horas, evitando o horário noturno, rodando 250 km diariamente, de segunda a segunda, para ganhar ao fim do expediente entre R$ 80,00 e R$ 90,00, após pagar gasolina e demais despesas. Segundo André, as únicas épocas de melhores ganhos eram as festas de final do ano e o Carnaval.

“Foi uma experiência horrível. Eu gostava dos passageiros, não da empresa porque ela rouba a gente. Levar 25% do que você ganha sem investir nenhum centavo, sem dar nenhum tipo de treinamento, é um roubo. Era só se cadastrar e sair trabalhando”.

O jornalista diz que trabalhar com Uber o deixou ainda mais revoltado com a crise econômica do país, que não dá oportunidade a profissionais como ele que cursou três faculdades, mas tem mais de 50 anos.

“O carro é nosso, as despesas são nossas e se eu me acidentasse simplesmente eu sairia sem nada, com total prejuízo, conta André, que só deixou de trabalhar com o aplicativo após passar num concurso.

Apesar de ter uma média alta de quatro a cinco estrelas dadas pelos clientes, o jornalista não podia trabalhar na capital porque seu carro tinha mais de nove anos de uso, e a Uber só deixa rodar os veículos mais antigos na grande São Paulo, onde a corrida é mais barata e os riscos de assaltos são maiores.

Foi o que ocorreu com André ao atender uma chamada de uma moça, no final da tarde para a periferia. Chegando ao local, a moça estava acompanhada de um rapaz alto de quase 1,90m e forte. Logo foi perguntando o quanto ele havia faturado no dia e que sabia que motoristas ganhavam R$ 7 mil ao mês. André respondeu que aquela era primeira corrida, e simpático disse que iria buscar os R$ 5 mil que lhe deviam, pois só tirava R$ 2 mil ao mês. Aos poucos, brincando, foi ganhando a confiança do rapaz, que mesmo assim, parou numa rua escura, pagou com umas moedas que não chegavam a três reais.

“Claro que não pagou o valor da corrida, e ele ainda me disse ‘valeu tiozão’, você é legal”, relata André, que só conseguiu parar de rodar após percorrer mais de seis quilômetros distante do local com medo de ser assaltado de alguma outra forma.

Uberização é efeito da crise econômica e da reforma Trabalhista

“Os aplicativos de transporte hoje são a porta de entrada da precarização do Trabalho. O Uber já é sinônimo de precarização”, define José Silvestre Prado de Oliveira, coordenador de Relações Sindicais do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).

Segundo Silvestre, o caminho da precarização e do crescimento dos aplicativos de transporte foi pavimentado a partir da recessão, do desemprego, da terceirização e da reforma Trabalhista.

“Hoje você tem um contingente estimado em 4 milhões de motoristas de aplicativos ,seja Uber,seja 99, e outros . Essas empresas são um dos grandes empregadores, mas de maneira geral têm disputado no âmbito da Justiça, se caracteriza como relação de trabalho, ou não. Na Inglaterra, os motoristas ganharam esse direito. E na Alemanha e França os aplicativos são proibidos exatamente por falta de uma regulamentação”, conta Silvestre.

Já no Brasil, segundo ele, se vive “um processo de dilapidação de direitos ,não só trabalhista, mas em todos os mecanismos de organização de trabalho com ataques à estrutura sindical”.

Silvestre acredita que ainda há esperança de melhoria nas relações de trabalho dessa categoria no país com a criação de associações de motoristas de aplicativos, como já vem ocorrendo em algumas capitais.

“Já é uma forma de organização e quem sabe pode-se evoluir para a criação de sindicatos”, acredita Silvestre.

Motoristas de Uber fazem paralisação mundial contra política de tarifas do aplicativo

Empresa criada em 2009 nos EUA vai abrir capital no mercado de ações em meio a críticas sobre precarização

Juca Guimarães /Brasil de Fato

Ouça o áudio:

Motoristas brasileiros criticam a dinâmica de divisão dos lucros e regras do aplicativo - Créditos: Reprodução
Motoristas brasileiros criticam a dinâmica de divisão dos lucros e regras do aplicativo 

Os motoristas de Uber fazem um protesto mundial nesta quarta-feira (8) contra a política de tarifas da empresa estadunidense,responsável pelo aplicativo de transporte. A data coincide com a entrada da multinacional no mercado de ações, dez anos após sua criação. A expectativa da empresa é de se aproximar do resultado alcançado pelo Facebook, em 2012, quando movimentou US$ 16 bilhões na sua estreia nas bolsas de valores.

O contraponto à expectativa de lucro recorde da empresa é a relação cada vez mais desigual com os motoristas “parceiros”, termo usado pelo aplicativo para desvincular relações de empregado e empregador.

No Brasil, as reivindicações também giram em torno da segurança dos motoristas e da falta de transparência da empresa, que chegou ao país em julho de 2014.

“Os motoristas trabalham cada vez mais horas ganhando cada vez menos. Em geral, eles trabalham para mais de um aplicativo. As reivindicações são em torno das remunerações, aumento do valor do quilômetro rodado e o aumento da taxa mínima, mas também sobre a relação com as plataformas. Por exemplo, o banimento sem direito de defesa, informações sobre o destino da viagem, redução do tempo de espera pelo passageiro e taxa extra para trabalho noturno”, explica o pesquisador Caetano Patta, doutorando em Ciências Políticas pela USP e que está estudando novas formas de engajamento político, como resultado da precarização das condições de vida e crise na democracia.

Aplicativos desligados e carreatas

Durante os protestos, os motoristas vão desligar os aplicativos e devem acontecer carreatas em algumas cidades brasileiras. Segundo a Uber, no Brasil, mais de 17 milhões de brasileiros usam o aplicativo. Cerca de 530 milhões de viagens foram realizadas entre julho de 2014 e setembro de 2017.

“O número de motoristas aumentou. Eram 600 mil motoristas, sendo 150 mil só em São Paulo. Ainda que o número de passageiros tenha aumentado também, a competição pelas corridas aumentou. O custo da gasolina aumentou e o custo de vida aumentou muito. Nesse período, o desemprego também aumentou muito, então dirigir carro por meio de plataformas, com a Uber e a 99, passou a ser a atividade principal de remuneração e sustento de muitas famílias”, analisa Patta.

Ao todo, cerca de 14 milhões trabalham para aplicativos no Brasil. De acordo com Caetano Patta, houve uma rápida lua-de-mel, quando os aplicativos eram apenas uma opção de complementação de renda. Entretanto, ainda segundo o cientista político, o crescimento do número de motoristas acompanhou o desemprego e o desenrolar da crise no Brasil. “Para o sujeito que está distribuindo currículo e fazendo cadastro em site de emprego, mas não acha nada, dirigir para aplicativo é quase que uma solução imediata para o problema. No entanto, ela coloca nas costas do trabalhador toda a responsabilidade do trabalho. É uma das faces do neoliberalismo”, argumenta.

Patta destaca, ainda, o aspecto da individualização da responsabilidade pelo trabalho, uma característica neoliberal alavancada pelo uso dos aplicativos. “O cara é responsável por manter o carro em ordem, pelo seguro, pela manutenção e pela sua própria segurança. Ele também é responsável por corresponder às expectativas dos usuários”, agrega o cientista político.

O diretor de políticas públicas da Uber, Daniel Mangabeira, participou de uma audiência pública no Congresso Federal, em 2017. Na ocasião, ele reafirmou que não existe relação de trabalho entre aplicativos e motoristas, mas sim de intermediação.

“É um sistema intermediado, ou seja triangular, e já aí se percebe uma diferença muito marcante entre os sistemas tradicionais que são, em sua essência, bilaterais onde a contratação se dá entre o contratante e o prestador do serviço. Aqui há, necessariamente, uma intermediação alicerçada por tecnologia”, disse Mangabeira.

O isolamento e a individualização dos motoristas de aplicativos cria um novo modelo de mobilização.

Para fortalecer a união da categoria, as redes sociais, grupos de mensagens de celular e o Youtube foram as ferramentas encontradas. Há muitos youtubers que são motoristas e que compartilham sugestões, dicas, casos do cotidiano e experiências. Eles chamam a atenção dos usuários, da sociedade em geral e, principalmente das empresas, para as condições de vida dos motoristas. “Se continuar o aumento da gasolina e do preço dos alimentos, esses motoristas vão chegar num ponto de estrangulamento que vai impedir a realização do serviço que eles prestam”, asseverou Patta.

Brasil de Fato questionou a Uber sobre as reivindicações dos motoristas e sobre a paralisação prevista para esta quarta, porém, a empresa não respondeu até a publicação desta reportagem.

 

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