Declaração do presidente da estatal, que disse sonhar com a privatização, motivou ato realizado na Refap, em Canoas (RS)
Os petroleiros do Rio Grande do Sul realizaram, nesta segunda-feira (18), um ato contra a privatização da Petrobras, o ataque à liberdade sindical e contra a precarização do trabalho na empresa. A mobilização ocorreu na entrada da Refinaria Alberto Pasqualini (Refap), em Canoas, região Metropolitana de Porto Alegre.
A declaração dada na última sexta-feira (15) pelo presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, de que a venda da estatal e de outras companhias públicas “foi sempre um sonho”, foi uma das motivações para o ato dos petroleiros da Reafp.
Castelo Branco lamentou na ocasião o fato de não poder vender a petroleira e afirmou que sua intenção à frente da Petrobras é transformá-la “o mais próximo possível de uma empresa privatizada”.
“Não é admissível que o presidente da empresa sonhe em vendê-la”, disse o diretor do Sindipetro-RS, Edson Terterola, ao repórter Marcelo Ferreira, do Brasil de Fato.
No governo do ilegítimo Michel Temer (MDB), o projeto de privatização consistia em entregar as refinarias do Sul e do Nordeste para a iniciativa privada. Os petroleiros realizaram um estudo e mostraram que o modelo de privatização era ruim para o Brasil.
O atual governo pegou essas críticas como base para a reelaboração do projeto de venda, diz Terterola.
“Não significa que não vão privatizar, pelo contrário, eles vão radicalizar a privatização. Querem vender o máximo possível da empresa. Aí a estrutura que estão pensando vai ser mais complexa. Nós estamos preparando a categoria para essa luta no decorrer do ano, uma luta contra um projeto que é muito mais radical do que o que tínhamos no ano passado”, afirma ele.
Precarização gera mortes
A morte de um mergulhador de 39 anos em uma plataforma na Bacia de Campos, no Rio de Janeiro, na última sexta-feira, também esteve em pauta no ato. Conforme avaliação da dirigente do Sindipetro-RS, Miriam Ribeiro, há uma política de insegurança da estatal que é reflexo da política de privatização.
“Estão preparando a empresa para ser privatizada, então diminuem os gastos com tudo, precarizam todas as relações de trabalho. O que acaba gerando acidente em cima de acidente, e que resulta em mortes na nossa empresa”, afirma ela.
Lava Jato mira na Petrobras
Na avaliação dos petroleiros, a Operação Lava Jato tem como um de seus objetivos a desestabilização da Petrobras, em favor de interesses que não são do Brasil. Ainda com Temer, a mudança da política de preços com paridade internacional elevou os preços dos combustíveis, valorizando o mercado brasileiro para empresas estrangeiras. Com isso, passou-se a importar combustível e a reduzir a capacidade de produção das refinarias nacionais.
“Desde que a Lava Jato começou, milhares de pessoas ficaram desempregadas. Quem for a Rio Grande, passe na frente do estaleiro que fazia as plataformas da Petrobras. Aquilo lá está tomado pelo mato. Enquanto isso, foi dada uma isenção de cerca de R$ 1 trilhão para a compra das plataformas em Cingapura, para eles trazerem a plataforma pra cá, pegar o petróleo e levar embora. Onde já se viu se isso aí não atende nenhum interesse do povo brasileiro”, denuncia Ribeiro.
O polo naval de Rio Grande chegou a empregar 24 mil pessoas, mas, atualmente, apenas cerca de 500 seguem trabalhando nos estaleiros.
Castello Branco critica regime de partilha
“O Castello Branco também declarou que a lei da partilha é ruim. Claro que é uma lei ruim. É ruim para as empresas, mas para o povo brasileiro é excelente. Foi criada para tentar fixar os recursos do Pré-Sal no nosso país”, explica a dirigente do Sindipetro-RS.
O regime de partilha sofreu ataques nos primeiros dias após o golpe de 2016. Quando Temer ainda era presidente interino, um de seus primeiros atos foi sancionar uma lei que desobrigou a petroleira a participar dos consórcios de exploração de petróleo no Pré-Sal. A partilha previa que mais de 70% dos royalties seriam destinados para a educação.
Polêmicas do governo desviam debate principal
Na avaliação de Terterola, as polêmicas do governo Bolsonaro são uma cortina de fumaça para encobrir grandes ataques ao povo brasileiro, em favor dos interesses do capital financeiro. Segundo ele, “enquanto que eles soltam frases e imagens polêmicas, de questão secundária, vão tocando por baixo dos panos esse projetos, como o de privatização de empresas estatais”.
“Se nós trabalhadores não entendermos isso desse governo, vamos ficar discutindo o sexo dos anjos diante da realidade. Nossa questão é o dia a dia das pessoas, é o trabalho, é o desemprego que tá assolando todo o país, é a entrega do patrimônio público para empresas estrangeiras. É um absurdo que os meio de comunicação não estejam pautando esse debate, que é o que realmente importa para o povo”, conclui Terterola.