Por Francisca Rocha/ Foto: Jordana Mercado
Viraliza nas redes sociais a resposta a uma pesquisa simples no site de busca Google. Ao procurar o significado da palavra professora aparece como definição “mulher que ensina ou exerce o professorado” e em um outro significado, chamado de “brasileirismo”, onde a professora é definida como “prostituta com quem adolescentes se iniciam na vida sexual”.
Esse mesmo resultado é encontrado em um dos mais importantes dicionários brasileiros da atualidade o Houaiss. E no dicionário Aurélio, tão importante quanto o Houaiss, nas “informações relevantes” é dito que em algumas regiões a palavra professora tem o “uso pejorativo para se referir à pessoa com quem se teve a primeira relação sexual”, que não implica necessariamente em prostituição. Já a palavra prostituta é definida como “mulher que faz relações sexuais por dinheiro”. Bem diferente.
Importante ressaltar nisso tudo que nenhum dicionário encontra sentido pejorativo, “brasileirismo” ou “informações relevantes” para a palavra professor. O fato revela a importância de se batalhar pelo empoderamento do debate sobre as questões de gênero no país, com o machismo aparecendo inclusive em nosso vernáculo.
Por que o desmerecimento recai sempre sobre a figura da mulher, da palavra feminina? Essa definição do Google e dos dicionários reforça o papel a ser desempenhado pela escola nesse fundamental debate a atingir toda a sociedade, profundamente enraizada na ideologia patriarcal. É necessário mostrar à sociedade a importância de dispensar tratamento igual às pessoas, respeitando sua orientação sexual.
Porque o preconceito tem sido a norma, quando se trata de sexualidade e da presença da mulher e o seu papel na sociedade, ainda mais nestes tempos dominados pelo conservadorismo e pela repressão. Notadamente por grupos religiosos fundamentalistas, que com um falso moralismo defendem a submissão da mulher em todos os sentidos. E com base, nessa proposta de supremacia masculina, depreciam os LGBTs para criminalizá-los.
Muito importante discutir as questões de gênero para ensinar as crianças a identificarem onde termina o carinho e começa o abuso. É disso que os abusadores têm medo. Exatamente por isso, o diálogo é fundamental. Mesmo porque o abuso sexual de crianças e adolescentes cresce em demasia no país, e a maioria das violências ocorre dentro de casa, onde deveriam estar protegidas.
O debate deve ser aprofundado inclusive sobre a nossa gramática que foi feita exclusivamente por homens, que estabeleceram regras favorecendo o elemento masculino. Tanto que quando a primeira mulher assumiu a Presidência, muita gente ironizou o uso da palavra presidenta, como se fosse um erro gramatical, num equívoco provocado pela visão machista.
As professoras, que representam mais de 80% dos docentes brasileiros, devem se unir em torno da proposta de empoderamento do debate sobre as questões de gênero e a importância de se lutar pela igualdade de direitos entres os sexos. Todas as pessoas devem ser respeitadas em sua integridade e têm o direito de viver sem medo em busca da felicidade sempre.
Secretária de Assuntos Educacionais e Culturais do Sindicato dos Professores de Ensino Oficial do Estado de São Paulo (APEOESP), secretária de Saúde da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Educação (CNTE) e dirigente da Central dos Trabalhadores e das Trabalhadoras do Brasil (CTB-SP).
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