São Paulo – “Assim como água e óleo não se misturam, o povo nordestino não se liga ao fascismo da nova ordem bolsonarista. Essa brava gente limpa as praias e supre a ausência total de governo”, escreveu o jornalista e escritor cearense Xico Sá em seu perfil no Twitter.
É o povo que em sua maioria não votou em Jair Bolsonaro (PSL) e por ele foi chamado pejorativamente de “paraíbas” que agora usa pá, enxadas e até as próprias mãos para retirar o óleo misturado à areia das praias que são mais do que cartões postais turísticos, mas fontes de renda para muitas famílias e para a economia desses estados. Fora o dano ambiental incalculável, com a contaminação da água e a consequente mortandade da fauna e flora marinha.
Enquanto isso, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, vai empurrando com a barriga até que o maior desastre ambiental do litoral brasileiro, que tomou as manchetes das queimadas em toda a região Amazônica e no Cerrado, estimuladas pelo próprio discurso do governo, seja ofuscado por uma outra tragédia que muito provavelmente será igualmente tratada com descaso.
Ontem, também por meio de sua conta no Twitter, o governador da Bahia Rui Costa (PT) fez cobranças ao governo. “De helicóptero realmente não tinha como ver. Fazer foto e dizer que trabalhou é muito fácil. Deixe de fazer política e trabalhe. O senhor já sabe o q causou esse gravíssimo acidente ambiental? Além de nada, o que o senhor fez? Não quero acreditar em preconceito contra o Nordeste.”
Rui respondeu a um post do ministro, deste sábado (19), em que afirma ter estado “pessoalmente na Bahia anteontem (17)” , que percorreu “de Salvador a Praia do Forte. Eu vi centenas de fuzileiros navais, agentes do IBAMA, equipes municipais, mas não vi ninguém do Governo Estadual”. Um dia antes, Salles sobrevoou o litoral baiano.
Segundo o governador, até o dia 17 já haviam sido removidos mais de 155 toneladas deste material. “Entretanto precisamos de um posicionamento e de resoluções do Governo Federal, através da Marinha e do IBAMA, que são os responsáveis pelo cuidado com o oceano, mas continuam em silêncio.”
Nesse mesmo dia, o Ministério Público Federal entrou com ação contra o governo federal por omissão do governo Bolsonaro diante do maior desastre ambiental no litoral brasileiro e pediu que a Justiça obrigue o governo restabeleça o Plano Nacional de Contingência para Incidentes de Poluição por Óleo em Água (PNC), instituído em 2013, no governo da presidenta Dilma Rousseff (PT). Plano que, para funcionar, depende pessoal e de articulação por meio de conselhos que foram extintos pelo governo.