Essa é a reação da empresa ao que houve no processo eleitoral, quando os nordestinos rejeitaram Bolsonaro, denuncia Deyvid Bacelar
A Petrobras está vendendo áreas operacionais em todos os estados do Nordeste, onde Jair Bolsonaro (PSL) perdeu as eleições. Está também fechando edifícios-sedes da estatal, demitindo terceirizados e transferindo para o Sul, onde teve mais votos, concursados em estados nordestinos como Bahia, Sergipe e Rio Grande do Norte.
Em Salvador, a Petrobras comunicou a 2,5 mil funcionários terceirizados que eles serão demitidos e a 1,5 mil funcionários efetivos que eles serão transferidos para outros estados, a partir de novembro. A empresa vai desocupar o edifício Torre Pituba (Ediba), onde funciona a administração da Estatal na Bahia, e desfazer um contrato de 30 anos de aluguel do prédio firmado com a Fundação Petrobras de Seguridade Social (Petros), proprietária o edifício de 22 andares.
“Essa é a reação da empresa ao que houve no processo eleitoral, quando os nordestinos rejeitaram Bolsonaro”, denuncia o secretário de Assuntos Institucionais da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Deyvid Bacelar, se referindo as eleições de 2018.
Na Bahia, Bolsonaro teve apenas 27,31% dos votos, contra os 72% que os baianos deram ao candidato do PT, Fernando Haddad. Em Sergipe, Bolsonaro teve 32,46% e Haddad 67,54% dos votos. No Rio Grande do Norte, Bolsonaro teve 36,59% e Haddad. 63,41%.
O Sindicato dos Petroleiros da Bahia (Sindipetro BA) vem denunciando desde a posse da nova direção da Petrobrás e do governo Bolsonaro que a decisão da companhia não é financeira nem técnica, como eles alegam, mas política, e que vai representar um enorme prejuízo para a economia baiana e para a classe trabalhadora do estado.
“A Unidade de Operação da BA é um negócio de 3,5 bilhões de reais por ano. Não tem nenhuma empresa privada na Bahia que fature isso. A UO-BA para a Petrobrás é pequena, mas para a Bahia é grande, gera aqui 7 mil empregos diretos e indiretos (trabalhadores terceirizados e próprios)”, alerta o diretor do Sindipetro, Radiovaldo Costa, que lembra que, além da UO-BA, tem a FAFEN, RLAM, Transpetro, Campos Terrestres, Petrobrás Biodiesel e outras unidades da empresa. “É possível perceber que a Petrobrás tem um tamanho colossal para o estado”.
Tirar esse negócio da Bahia, vender e paralisar as unidades é assustador
A transferência dos trabalhadores para outros estados será outro baque para a economia baiana, avalia o dirigente se referindo ao prejuízo para que a economia local terá com as decisões da Petrobras. “Os trabalhadores próprios da Petrobrás injetam, por mês, na economia da Bahia, cerca de 80 milhões de reais, através de seus salários, mas essa receita também não será mais gerada para a Bahia”, lamenta Radiovaldo.
Segundo o Sindicato Sindipetro, no estado inteiro são 4 mil funcionários efetivos e 14 mil terceirizados.
O coordenador do Sindipetro, Jairo Batista, lembra que a estatal já vinha sinalizando a diminuição da empresa no estado ou a saída completa. A RLAM e Transpetro foram colocados à venda, os Campos de Petróleo na região de Catu, Candeias, São Sebastião, Alagoinhas e Pojuca também estão à venda. A FAFEN está em processo de paralisação, ela vai ser fechada e não vendida. “Essas medidas somadas fazem parte de um plano maior da retirada da Petrobrás do estado”.
Prejuízo para o Petros
A desocupação do edifício Torre Pituba (Ediba) anunciada pela empresa, em Salvador, prejudica o estado e os petroleiros com as demissões e transferências, e também a gestão da Petros, proprietária do prédio que ficará vazio, afirma Deyvid Bacelar.
Segundo ele, a Petros, que administra 39 planos de previdência complementar, oferecidos por diversas empresas, entidades e associações de classe, construiu o prédio que foi alugado pela Petrobras por 30 anos. A estatal quer rescindir o contrato sem pagar a multa. “No momento de crise em que vivemos vai ser difícil alugar o edifício. Esse distrato vai prejudicar muito o fundo”, diz Deyvid se referindo a rescisão do contrato de aluguel.
Vai tudo para o Sul
De acordo com os dirigentes do Sindipetro-BA, as gerências notificaram os trabalhadores da Torre Pituba que eles teriam que procurar outras unidades em outros estados para serem transferidos. Principalmente, Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo.
Além do edifício em Salvador, a empresa pretende se desfazer de outros ativos na Bahia, incluindo a primeira refinaria do Brasil. Localizada na cidade de São Francisco do Conde, na região metropolitana da capital, a Refinaria Landulfo Alves deve ser vendida até o final do ano.
Já a Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados (Fafen), também administrada pela estatal, vai ser arrendada por dez anos. Além da Refinaria Landulfo Alves e da Fafen, a Petrobras explora petróleo em quatro bacias da Bahia, tem quatro terminais de armazenamento e distribuição espalhados pelo estado, como também cinco termelétricas e um sistema gasoduto na capital.
Sindipetro-BA impedido de participar de reunião
O Sindipetro Bahia divulgou nota nesta terça-feira (10) denunciando que os dirigentes da entidade foram impedidos de participar de uma reunião sobre a desmobilização do Edifício Torre Pituba e finalização das atividades da Petrobras na Bahia.
Na nota, o Sindipetro-BA diz que repudia “a atitude da Petrobrás que busca aterrorizar os trabalhadores e esconder das representações sindicais suas intenções em acabar com as atividades da Petrobras não somente na Bahia mas em todo Nordeste”.
www.cut.org.br / Marize Muniz