Equipe econômica do governo anuncia pacote de privatização, não inclui Petrobras, mas diz que até o fim do mandato de Bolsonaro, em 2022, estatal será vendida. Petroleiros se mobilizam e prometem greve nacional
O ministro da Economia do governo de Jair Bolsonaro (PSL), o banqueiro Paulo Guedes, anunciou extraoficialmente e em tom irônico, na terça-feira (20), que a Petrobras será privatizada até 2022. A estatal não foi incluída no ‘pacote’ de privatizações anunciado pelo governo esta semana, mas pelo que Guedes disse a empresários, a Petrobras entrou na mira de Bolsonaro.
“Tem gente grande que acha que não será privatizada, mas vai entrar na faca”, disse o ministro sobre a intenção de vender a petrolífera. O recado foi dado a forças contrárias à privatização, principalmente aos funcionários do sistema, que resistem à entrega da empresa à iniciativa privada.
A Federação Única dos Petroleiros (FUP) e sindicatos lutam até na justiça contra o desmonte da Petrobrás. Deyvid Bacelar, secretário de Assuntos Jurídicos e Institucionais da entidade, explica que a intenção de vender a estatal não é nenhuma novidade, mas nunca havia sido explicitada. Mas, desde o golpe de 2016, as subsidiárias vêm sendo vendidas e, por isso, a categoria está mobilizada e não descarta uma greve nacional contra o desmonte da estatal.
“Na verdade, ela está já na lista porque diversos ativos da Petrobras já estão sendo vendidos desde 2016, depois do golpe”, afirma o dirigente. Deyvid lembra que a BR Distribuidora foi vendida recentemente, já foram vendidos também vários campos terrestres e marítimos de petróleo e a Liquigás está em negociação.
“O processo, apesar de não declarado, está em curso. Inclusive, anunciaram recentemente a venda de oito refinarias junto com seus terminais marítimos e terrestres”, completa o dirigente.
Para o dirigente, eles estão esvaziando a Petrobras como sistema.
O preço da privatização
Um dos primeiros efeitos a serem sentidos com a entrega de Petrobrás à iniciativa privada é o aumento no preço final dos combustíveis – o preço pago lá na bomba, na hora de abastecer.
Os preços dos derivados vão aumentar ainda mais porque a Petrobras não terá o controle do Estado para vender com preços mais justos, com menos variações, como ocorreu nos governos do PT. E os preços sobem não somente para o cidadão. Mesmo os empresários sentirão os efeitos. Aqueles que utilizam insumos derivados de petróleo para indústrias como a química, por exemplo.
“As empresas vão querer diminuir custos, com cortes de trabalhadores e direitos e com processo de maximização do lucro, que também será repassado aos consumidores”, afirma Deyvid Bacelar.
O mesmo mercado que vibrou com o pacote de privatização – as ações da Eletrobras, Banco do Brasil e até mesmo da Petrobras tiveram alta esta semana – será atingido pelos efeitos nefastos da venda da empresa.
“É uma burrice eles torcerem pela privatização porque ainda não entenderam que eles mesmos sentirão os efeitos negativos na economia”, diz Deyvid.
É um erro também, segundo ele, acreditar que a Petrobras é uma empresa corrupta e quebrada e que vende a preços altos. “Essa é uma imagem falsa, construída pela mídia nos últimos anos, para abrir caminho para a privatização. E preço alto é fruto da política adotada por Michel Temer de fazer os preços daqui acompanharem o mercado internacional”.
Mas o preço é mais caro do que se imagina. Desde a implantação da atual política de reajustes da Petrobras, o que se sentiu, lembra Deyvid, foi a diminuição do poder de compra do brasileiro, já que a maior parte do que compramos em lojas e supermercados depende de transportes terrestre para chegarem às prateleiras. Com diesel mais caro, o preço final também é mais caro. Afinal, na lógica capitalista, os custos sempre são repassados ao consumidor.
A oscilação de preços nos combustíveis impacta no preço do frete. Tudo o que é transportado nos caminhões têm como custo principal o diesel que, por tabela, vai ser repassado ao preço do produto
O dirigente da FUP ainda observa que se não houve um aumento maior até agora é por sorte, ou seja, os preços do mercado internacional não oscilaram muito, permanecendo na faixa de 70 a 75 dólares o barril.
“Mas se o maluco do Trump tiver um conflito com o Irã, o preço do barril lá fora sobe e gera um descontrole na taxa cambial, e o aumento do preço aqui no Brasil. Se não aconteceu ainda, é por sorte”, ironiza Deyvid se referindo ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Adeus, desenvolvimento
Entregar a Petrobras ou suas subsidiárias à iniciativa privada é tornar o país dependente do petróleo mundial e perder a oportunidade de manter uma empresa integrada, produtiva, autossuficiente e indutora de desenvolvimento, como várias estatais estrangeiras, analisa Deyvid.
“Isso não ocorre em nenhum lugar do mundo, principalmente com estatais”.
De acordo com o dirigente, a decisão do governo deixa claro o projeto de submissão dos golpistas totalmente antagônico ao projeto desenvolvimentista conduzido pelos governos de Lula e Dilma.
A principal estatal brasileira tinha papel fundamental no desenvolvimento econômico e social do país. Agora, é o contrário
LUTA
Ações de resistência ao processo de privatização fazem parte da luta dos petroleiros. Uma das formas é por vias judiciais, por meio de ações contra os processos de privatização. Mas a FUP e sindicatos também têm se articulado por vias políticas com a criação de frentes parlamentares de deputados e senadores para defender as estatais.
Outra forma de resistência são as mobilizações da categoria que vêm acontecendo nos últimos meses e que devem culminar em uma greve nacional contra o desmonte da Petrobras que, para os petroleiros e petroleiras, também significa ataques aos direitos e empregos.
Contra a decisão do Tribunal Superior do Trabalho (TST) que considera greve contra privatização como greve política, a categoria defende que lutar contra a privatização é defender direitos dos petroleiros e petroleiras porque o emprego está intrinsicamente ligado ao direito da pessoa.
“Se for demitido, o trabalhador perde direitos conquistados em acordos, perde o trabalho, perde sua renda e isso tudo compromete sua forma de sobreviver”, afirma Deyvid Bacelar.
O dirigente ainda reforça a possibilidade de greve nacional da categoria: “Não vamos assistir de camarote esse processo de destruição da Petrobras. Esse governo vai enfrentar a maior greve da categoria”.
Os petroleiros estão em fase de negociação de acordo coletivo e a luta contra a privatização é pauta das reivindicações.
www.cut.org.br/ Andre Accarini