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/ sábado, novembro 23, 2024
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Violência – Mais armas, menos segurança

O Atlas da Violência aponta que, de 1980 para 2016, os homicídios por arma de fogo subiram de 40% para 70% do total de assassinatos / Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
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Mais armas significam menos crimes? Ou significam justamente o contrário?

Ayrton Centeno / Brasil de Fato

Esta correlação imaginada entre “mais armas” e “menos crime” é apressada e carece de fundamento na realidade”, critica o cientista social Vitor Alessandri Ribeiro, membro do Grupo de Pesquisa Violência e Cidadania, da UFRGS. Armar o cidadão, como pretende o decreto presidencial nº 9.685, assinado em janeiro por Jair Bolsonaro, não inibirá os criminosos. E invoca o próprio Bolsonaro para ilustrar como o porte ou posse de arma não irá funcionar.

“Em 1995, Bolsonaro, então armado, foi abordado na zona norte do Rio de Janeiro e lhe foram levadas não apenas sua moto, como também sua arma”, relembra. “Mais armas não representam mais segurança, mas o inverso”, concorda o sociólogo Rodrigo Ghiringhelli de Azevedo, professor da Escola de Direito da PUC/RS.

A julgar pelo Datafolha, a maioria dos brasileiros aprova a conclusão de ambos. É o que apontou pesquisa realizada em dezembro. Nela, 61% dos entrevistados defendem a proibição das armas de fogo por representar ameaça à vida de outras pessoas.

As crianças como vítimas

As facilidades para o acesso a pistolas, revólveres, espingardas, rifles e carabinas devem agravar o panorama da selvageria no Brasil. Hoje, mata-se mais de 60 mil pessoas/ano. O Atlas da Violência, do Ministério da Saúde, aponta que, de 1980 para 2016, os homicídios por arma de fogo subiram de 40% para 70% do total de assassinatos. Logo, a tendência é de que tais percentuais avancem ainda mais.

Azevedo adverte para o risco de aumento da violência interpessoal, também no ambiente doméstico tendo as crianças como vítimas. Sem esquecer das mulheres, as principais sacrificadas. Bolsonaro agiu assim “para agradar a parte do seu eleitorado que desacredita das instituições”, interpreta o professor.

Transferindo a responsabilidade

Há outro aspecto astuto na proposta do Estado armar o contribuinte: transfere aos particulares a tarefa de cuidar da segurança, que é constitucionalmente sua. “Não se pode crer que as forças de segurança abdiquem de suas missões constitucionais em garantir a paz e a segurança da sociedade sem que isso cause prejuízo para a própria sociedade”, acentua Ribeiro.

“A maior parte das polícias do mundo é favorável à restrição do acesso às armas pelo cidadão”, reforça Azevedo. O Brasil vai na contramão da tendência predominante, pois “as polícias do país têm uma cultura mais conservadora”.

Engrossando o arsenal do crime

Outro equívoco é supor que o cidadão armado até os dentes irá inibir a ação dos bandidos. “O aumento da presença de armas dentro de casa produzirá o aumento da probabilidade da certeza de que, quem queira invadir uma casa aleatoriamente para roubar armas, encontrará armas para serem roubadas”, comenta Ribeiro.

As armas que a classe média ou classe média alta irá comprar poderão muito bem, em vez de propiciar a segurança esperada, ir engrossar o arsenal dos bandidos. É também o entendimento de Azevedo. Com isso, mais armas frequentarão o mercado ilegal. “Tornar as armas mais acessíveis a criminosos é o contrário daquilo que se apregoa quando se busca defender o armamento da população”, acrescenta Ribeiro

Um tiro no bolso

Comprar uma arma não é barato. Nas lojas, os preços oscilam entre R$ 2 mil e R$ 6 mil. Isto sem contar os valores para legalização. A Taurus, maior fabricante do país, está colocando no mercado em 2019 a pistola semi automática PT 138. Na fábrica, seu preço é R$ 4.369,88. Com o mesmo dinheiro é possível comprar uma geladeira com capacidade para 239 litros, um fogão de quatro bocas, um purificador de água, uma máquina de lavar roupa, um ventilador de teto de três pás, uma secadora de roupa, um ferro de passar, um forno de micro-ondas, um exaustor, um aspirador portátil, uma batedeira, uma máquina de costura portátil e, como ninguém é de ferro, uma churrasqueira elétrica portátil (*). Total: R$ 4.237,00. Ainda sobram R$ 132,88 que podem ser muito bem empregados em costela e picanha para o assado domingueiro, festejando a renovação dos eletrodomésticos da casa. Vale convidar os amigos para juntos celebrarem todos a paz. E que venham armados tão somente com a benvinda cerveja.

*Preços levantados no site Mercado Livre

Este conteúdo foi originalmente publicado na versão impressa (Edição 9) do Brasil de Fato RS. Confira a edição completa.

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