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/ sexta-feira, novembro 22, 2024
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Bruno e Dom dois anos depois: Vale do Javari vive expectativa pelo julgamento e exalta legado do trabalho em defesa da região

Duplo homicídio foi seguido de manifestações por Justiça em todo o país - MAURO PIMENTEL / AFP
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Júri de três dos acusados deve ocorrer no início de 2025; equipe de monitoramento chefiada por Bruno dobrou de tamanho

No dia cinco de junho de 2022, dois defensores da Amazônia desapareceram nas imediações da Terra Indígena Vale do Javari. Eram Bruno Pereira, indigenista licenciado da Funai, e Dom Phillips, jornalista que estava na região escrevendo um livro.

Dez dias depois, os restos mortais da dupla foram localizados no meio da mata, com a ajuda imprescindível da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), entidade para a qual Bruno trabalhava.

Passados dois anos, a Polícia Federal (PF) indiciou três acusados pelos crimes, que devem ir a júri popular. A previsão é que o julgamento aconteça no primeiro semestre de 2025, segundo o advogado João Bechara Calmon, sócio da Dieter & Advogados Associados, que representa Beatriz Matos, viúva de Bruno.

“Não tem decisão judicial que vai trazer um pai de volta, um marido de volta, um cidadão de volta, ainda mais um cidadão extraordinário como sempre foi o Bruno”, enfatizou o advogado, que também é assistente de acusação do Ministério Público Federal (MPF) no processo.

Há provas robustas, diz advogado 

Os três acusados, que estão presos, são Amarildo da Costa de Oliveira, o irmão dele, Oseney da Costa de Oliveira, e Jefferson da Silva Lima. Segundo o MPF, dois deles perseguiram Bruno e Dom de barco e atiraram na dupla. Eles teriam esquartejado e queimado os corpos, antes de os ocultarem na mata.

O advogado da família de Bruno disse que há um extenso conjunto de provas que corroboram a versão do Ministério Público. “Há laudos periciais dos corpos, testemunhas oculares que viram a perseguição de barco. E, por fim, a própria contribuição do Amarildo, que admitiu ter atirado contra as vítimas”, afirmou.

Ruben Dario da Silva Villar, conhecido como Colômbia, foi apontado pela PF como o mandante dos assassinatos. Ele está preso por outros crimes, mas ainda não foi denunciado à Justiça pelo duplo homicídio.

Os acusados são supostamente envolvidos em um esquema de pesca ilegal na Terra Indígena Vale do Javari. O pescador Amarildo da Costa confessou a participação nas mortes, mas depois alegou legítima defesa.

A presença de um indigenista e de um jornalista na região ameaçava a pesca comercial ilícita, que tem alta lucratividade na Amazônia.

“Segundo o depoimento de algumas testemunhas de defesa, a alegação de legítima defesa feita pelos acusados é mais bem descrita como um ato de desespero. Este desespero foi causado pelo conflito que a atuação profissional de Bruno poderia trazer ao seu modo de vida, que, vale ressaltar, era ilícito”, pontuou o assistente de acusação.

Equipe chefiada por Bruno dobrou de tamanho

As mortes de Bruno e Dom direcionaram os olhos do mundo ao Vale do Javari, uma das áreas mais preservadas da Amazônia.

Bruno foi exonerado de um cargo de chefia da Funai pelo então ministro da Justiça Sérgio Moro. Depois, decidiu trabalhar diretamente com a Univaja, a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari.

A organização indígena recebeu mais atenção de parceiros internacionais desde os crimes.

Hoje, a equipe de monitoramento territorial da Univaja, que era chefiada por Bruno, dobrou de tamanho, de 20 para 40 pessoas. Um legado do indigenista, que morreu tentando defender a floresta.

“O Bruno lutava como um de nós”, disse o presidente da Univaja, Bushe Matis.

“Ele veio para estruturar e mostrar que nós podíamos proteger nosso próprio território, com ajuda da tecnologia e colaborando com as autoridades. Porque, se esperarmos por ajuda externa, não vai dar certo”, completou o líder do povo Matis.

Outro lado 

Brasil de Fato entrou em contato com Eduardo Rodrigues, o advogado de Colômbia, que é acusado de ser o mandante das mortes de Bruno e Dom. Ele concordou em dar entrevista, mas depois não respondeu à reportagem. As defesas dos outros acusados não foram localizadas. O espaço está aberto a manifestações.

www.brasildefato.com.br/Murilo Pajolla

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