Sindicato dos Trabalhadores em Postos de Combustíveis da Bahia
/ sexta-feira, novembro 22, 2024
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Conheça os caminhos da comida saudável que o MST distribui para atingidos das enchentes no Rio Grande do Sul

Cozinha solidária no assentamento Capela (RS) prepara em média 400 quilos de comida por dia - Vitor Shimomura
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O BdF visitou uma das cozinhas solidárias que já produziram 50 mil refeições com alimentos da Reforma Agrária Popular

No Restaurante Popular da prefeitura de Canoas (RS), no bairro Estância Velha, 300 marmitas produzidas pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) esgotaram-se em menos de hora durante o almoço desta quarta-feira (22).

“Essas marmitas significam uma salvação. Se não fosse isso agora, a gente ia morrer de fome”, diz o atingido Álvaro Carlos da Silva, que foi um dos primeiros da fila no ponto de distribuição.

Motorista e desempregado, Silva mora com o filho e abriga outras duas filhas, que vivem no bairro Mathias Velho, um dos mais afetados pela enchente. “As meninas estão aborrecidas. Não podem voltar para casa, está tudo destruído”, lamenta.

A comida, produzida nas cozinhas solidárias do movimento, é distribuída por meio de helicópteros e ambulâncias aos atingidos pelas cheias extremas que afetaram 2,3 milhões de gaúchos até agora.

Desde o início da tragédia, o MST contabiliza 50 mil refeições produzidas em assentamentos da reforma agrária que chegaram às mãos das vítimas por meio de parcerias com o poder público.

Carlos Alberto Barreto, carregador do Ceasa de Porto Alegre (RS), também passou no Restaurante Popular e levou uma marmita produzida pelo movimento. Ele está dormindo em um abrigo na Igreja Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias desde que a força da água derrubou os muros da sua casa, no bairro Harmonia, em Canoas (RS).

Mesmo desolado com a tragédia, Barreto diz que não pode reclamar da alimentação. “Se eu disser que estamos passando fome, eu estaria mentindo. Disso não tenho o que reclamar”, contou ao Brasil de Fato.


Álvaro Carlos da Silva recebe marmita produzida pelo MST: ‘Se não fosse isso, a gente ia morrer de fome’ / Vitor Shimomura

Marmitas são produzidas por voluntários atingidos

As marmitas distribuídas no Restaurante Popular de Canoas foram produzidas por voluntários assentados do MST no assentamento Capela, no município de Nova Santa Rita, região Metropolitana de Porto Alegre (RS). Muitos deles foram afetados pela enchente e ainda contabilizam as perdas.

Um desses voluntários é o assentado João Carlos Vinque. “Sim, eu fui atingido, mas hoje ainda tenho condições de ajudar a alimentar os companheiros, o povo, os irmãos que perderam mais que nós”, disse à reportagem.

Outra assentada voluntária, Juraci Lima, diz que mobilizações desse tipo são naturais para os integrantes do MST, cuja atuação é pautada pela solidariedade. Ela lembra de quando o assentamento onde vive ainda era um acampamento, em 1985.

“[No acampamento] nós tínhamos que dividir a pouca comida que tínhamos. Sei o que é ver uma mãe chorando porque não tem o que dar de comer para o filho. E hoje nós estamos repartindo a nossa fartura que conquistamos desde aquela época”, afirmou Juraci.

Preparo com alimentos naturais sem agrotóxicos

O preparo e o embalo das refeições são feitos na quadra da Cooperativa de Produção Agropecuária Nova Santa Rita (Coopan), que organiza a produção do arroz orgânico dos sem terra e a vende sob a marca “Terra Livre”.

Só no assentamento Capela são produzidas em média 1300 marmitas por dia, com alimentos da reforma agrária e sem agrotóxicos.


Linha de produção na cozinha solidária do assentamento Capela, em Nova Santa Rita (RS) / Vitor Shimomura

A produção é coordenada por Sérgio Marques, conhecido como Chocolate, que também atua no setor de saúde coletiva do movimento. “Começamos às 3h da manhã”, relata. “Cozinhamos todos os dias 120 quilos de carne, 100 quilos de macarrão, 120 quilos de arroz e 60 quilos de feijão.”

A comida preparada pelo MST é mais natural e saudável devido aos ingredientes cuidadosamente selecionados e aos métodos de produção utilizados.

De acordo com Chocolate, que é militante do movimento, os ingredientes são provenientes da Reforma Agrária Popular, o que significa que são cultivados de forma orgânica e sustentável nas áreas pertencentes ao movimento.

Por exemplo, o arroz utilizado é orgânico, cultivado nas áreas de reforma agrária do próprio MST. “A carne vem de frigoríficos locais, garantindo a qualidade e a procedência dos produtos. Em vez de utilizar óleo vegetal, usamos banha de porco produzida localmente nos assentamentos.”

MTST e MAB também alimentam população atingida

Além da cozinha solidária no assentamento Capela, outras duas cozinhas solidárias do MST estão em pleno funcionamento para ajudar os atingidos pelas enchentes. Uma delas está localizada no Assentamento Filhos de Sepé, em Viamão (RS) e outra está situada no Armazém do Campo, em Pelotas (RS).

O MST não está sozinho nessa empreitada solidária. Outros movimentos sociais, como o Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e Levante Popular da Juventude e outros, também estão mobilizando esforços para produzir refeições destinadas às vítimas das enchentes.

“A gente perdeu muita coisa. Perdi o galpão, as estufas, couve, repolho, alface, beterraba, tempero verde. Mas graças a Deus tenho minha vida para ajudar quem está mais necessitado do que eu”, ressata o assentado João Carlos Vinque.

www.brasildefato.com.br/Murilo Pajolla

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