No Abril Vermelho, jornada do MST reforça importância da reforma agrária para o combate à fome
Ações têm como foco a ocupação de terras improdutivas para a produção de alimentos saudáveis
Sob o lema ‘Ocupar para o Brasil alimentar‘, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra se organiza em todo o país para ações da Jornada Nacional de Lutas em Defesa da Reforma Agrária, que acontece durante o chamado Abril Vermelho e conta com marchas, ocupações, atividades de formação, solidariedade e enfrentamento à concentração de terras no país.
O mês massifica as ações dos movimentos sociais do campo e tem como marco o dia 17 de abril, quando é celebrado o Dia Internacional de Luta Camponesa. O dia relembra os 21 trabalhadores rurais assassinados pela polícia militar no Massacre de Eldorado do Carajás, em 1996, no estado do Pará.
O movimento aponta a reforma agrária como alternativa urgente e necessária para a produção de alimentos saudáveis para a população do campo e da cidade, para combater a fome, e avançar no desenvolvimento do país, no contexto agrário, social, econômico e político.
“A jornada nacional de abril desse ano traz como lema ‘ocupar para o Brasil alimentar’, entendendo que só a reforma agrária é capaz de acabar com a fome no nosso país e apontar a urgência e a necessidade de o Estado brasileiro realizar a reforma agrária”, explica a dirigente nacional do MST, Margarida Maria.
A jornada ganha ainda mais força entre trabalhadores e trabalhadoras considerando que este é o terceiro ano seguido que o governo federal não destina terras para a reforma agrária, intensificando os conflitos no campo, e as desigualdades socais.
“Os trabalhadores do campo e da cidade estarão nesse debate de poder construir uma jornada nacional com várias ações, em todos os estados, para que possamos dialogar com a sociedade que só podemos contribuir no combate à fome se a terra for democratizada para todos e todas que vivem no campo”, complementa Margarida.
Acampamento da Juventude Sem Terra Oziel Alves
No estado do Pará, a jornada tem um caráter ainda mais intenso, com o Acampamento Pedagógico da Juventude Sem Terra – Oziel Alves, que todos os anos é erguido na Curva do S, local onde aconteceu o massacre e hoje é Patrimônio Histórico e Cultural do estado.
“Oziel era um jovem de 17 anos na época, brutalmente assassinado pela polícia na Curva do S, então o acampamento carrega hoje o nome de Oziel por trazer esse caráter de juventude, de um jovem rebelde, que não se submetia a esse projeto de morte colocado pelo Estado sobre os povos que lutam pelos seus direitos. Então [é] uma rebeldia, mas uma rebeldia revolucionária”, explica o dirigente da Juventude do MST do Pará, Romario Rodrigues.
Com a presença de familiares das vítimas de Eldorado do Carajás, o acampamento é erguido de 10 a 17 de abril e promete reafirmar a memória de Oziel e de todos e todas que deram a própria vida na luta por uma sociedade mais digna, justa e igualitária.
O acampamento se encerra no 17 de abril com participação de jovens da região Amazônica, convidados de diversos outros estados e apoio internacional da Via Campesina.
Com a participação de cerca de 250 jovens, esse ano o encontro tem um caráter formativo para potencializar a organização e participação da juventude no 7º Congresso Nacional do MST, a ser realizado de 15 a 19 de julho em Brasília.
“A gente vai trabalhar várias metodologias, desde filmes, apresentações, falas de sujeitos históricos como Seu Laurindo, Dona Maria, Gouveia, que foram sujeitos que estavam no massacre e até hoje participam com a gente dos nossos acampamentos”, diz Rodrigues.
Além das 21 mortes registradas e internacionalmente reconhecidas, a Polícia Militar do Estado do Pará feriu outros 69 homens e mulheres que estavam na Rodovia PA-150, hoje Rodovia BR-155, enquanto marchavam em reivindicação da desapropriação da fazenda Macaxeira e implementação de uma vasta pauta de reforma agrária na região sul e sudeste do Pará.
Marcados pelo massacre, hoje sobreviventes e militantes do MST seguem lutando por justiça e contra a impunidade, em uma realidade que segue marcada pela violência no campo. Por isso, o movimento busca manter viva a memória do que aconteceu e a necessidade de luta permanente.
“Para que a partir dali a nossa juventude, sobretudo os jovens que estão se inserindo agora, possam saber de fato o que foi o massacre, numa perspectiva de quem realmente participou, do movimento que viveu aquilo, e não pela perspectiva da mídia burguesa que só discrimina o movimento e inclusive coloca a gente como culpado naquele processo, e sabemos que não foi”, finaliza o dirigente da Juventude do MST.
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