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/ sexta-feira, novembro 22, 2024
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PM abriu caminho para fazendeiros matarem Nega Pataxó, dizem sobreviventes de ataque ruralista na Bahia

"Bora matar esses vagabundos": indígenas Pataxó em fuga dizem ter ouvido ofensas de PMs e fazendeiros - Alass Derivas/@derivajornalismo
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Relatos exclusivos narram ‘caçada’ aos indígenas por PMs e fazendeiros; governador promete apuração rigorosa e imediata

No sul da Bahia, indígenas Pataxó Hã-hã-hãe que testemunharam o assassinato de Fátima Muniz de Andrade, conhecida como Nega Pataxó, relataram que a Polícia Militar (PM) abriu caminho para uma milícia rural atirar contra indígenas – incluindo idosos e crianças. Os próprios policiais também teriam efetuado disparos de arma de fogo, de acordo com as testemunhas.

Em conversa exclusiva com o Brasil de Fato, sobreviventes descrevem uma “caçada” aos indígenas protagonizada por policiais e fazendeiros. A PM afirmou ao BdF que “encontrou” as duas vítimas baleadas – Nega Pataxó e o Cacique Nailton. Os depoimentos, no entanto, indicam que os policiais estavam presentes no momento da morte.

Em nota, o secretário de Segurança Pública da Bahia, Marcelo Werner, se solidarizou com os indígenas, mas não esclareceu se houve participação de policiais. “Os autores desses crimes graves serão responsabilizados. Dois suspeitos foram presos e as possíveis armas utilizadas [foram] apreendidas. Enviamos reforço para a região por tempo indeterminado”, declarou.

O que aconteceu, segundo os indígenas

“O comandante [da PM] conversou com eles [fazendeiros] e mandou tirar as viaturas da frente. As viaturas saíram. Ele [comandante] pegou a tropa dele e dividiu. Botou uma tropa para um lado e outra para outro. E o povo [fazendeiros e milicianos armados] passou”, afirmou uma das testemunhas.

A mesma situação é narrada por outro sobrevivente: ​​”A polícia mandou as viaturas saírem da frente de nós. E aí entrou os fazendeiros com os pistoleiros. E aí foram batendo em nós, machucando criança, gente de idade. E foi atirando até atingir dois caciques”, conta a segunda testemunha.

Uma terceira vítima disse: “A polícia praticamente foi segurança dos fazendeiros. A polícia estava atirando também e estava lá com eles [fazendeiros]. Estavam rindo. Eles [policiais] estavam dando proteção para eles [fazendeiros]”.

Estes e outros relatos foram colhidos pelo Brasil de Fato durante o velório da vítima no município de Potiraguá (BA), local do conflito. O ataque dos ruralistas ocorreu no último domingo (21). Um filho de fazendeiro de 19 anos e um policial aposentado foram presos em flagrante pela suspeita do crime.

Conforme os depoimentos, mais de 30 carros de fazendeiros chegaram enquanto policiais conversavam com os indígenas. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública (SSP-BA), o ataque foi promovido por um grupo de fazendeiros chamado “Movimento Invasão Zero”.

“O Nailton [Pataxó, baleado durante o conflito] disse [a um policial]: ‘sargento, eles não podem fazer isso com a gente’. Ele [fazendeiro] falou: ‘eu posso sim’ e já foi tirando a arma. E começou a atirar na gente, em mulher, criança, todo mundo que estava naquele local. Eu só via gente correndo”, descreveu, aos prantos, uma indígena Pataxó.

“Bora matar esses vagabundos”

A partir daí, iniciou-se o que, conforme os depoimentos, pode ser descrito como uma “caçada” aos indígenas. Todos os relatos dão conta de que policiais e fazendeiros perseguiram os indígenas, atirando contra eles. A perseguição teria se estendido até o interior do território indígena Caramuru-Catarina Paraguassu.

“Eles falaram ‘bora’ atirar, ‘bora’ matar esses vagabundos. Vamos matar tudo. E começaram a atirar, eu só via as balas entrando no chão”, contou outro sobrevivente.

Fugindo dos tiros, indígenas contam ter pulado em um rio. “Bateram dois tiros do meu lado na hora que eu mergulhei [na água]. Vi duas crianças se afogando e peguei os dois”, disse uma vítima.

Líder do Movimento Zero contradiz PM

Brasil de Fato falou com o fundador e líder do “Movimento Invasão Zero”, o fazendeiro de Ilhéus (BA) Luiz Uaquim. Ele disse não concordar com atos violentos e negou envolvimento de integrantes da organização nas agressões contra os indígenas e na morte de Nega Pataxó.

Ao contrário do que sugeriu a PM, Uaquim afirmou que policiais já estavam no local do conflito quando fazendeiros chegaram. O fazendeiro acusou os indígenas da região de promover invasões armadas em propriedades rurais e pediu que eles sejam investigados.

“O Movimento Invasão Zero fez uma mobilização a partir de um pedido de socorro de um produtor, um pedido de socorro imediato. E lá a gente se deparou com a PM e mostramos que o movimento é pacífico e ordeiro”, disse.

Em abril, o Brasil de Fato reportou que integrantes do “Invasão Zero”, junto com PMs, cercaram famílias do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em uma área destinada à reforma agrária na Bahia. “Vamos com a PM retirar os invasores”, disse Uaquim em um áudio divulgado para produtores rurais.

“Apuração rigorosa”, promete governador

O governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), declarou nesta semana que determinou a “imediata e rigorosa apuração dos fatos”. Em vídeo divulgado nas redes sociais, ele prestou solidariedade às vítimas do que chamou de “brutalidade” e afirmou que a polícia monitora a atuação de grupos armados no estado.

Rodrigues também disse ter dialogado sobre o caso com o presidente Lula (PT) e afirmou que uma força-tarefa foi enviada ao local do conflito. “Vou continuar reafirmando que não vamos tolerar qualquer tipo de violência e intimidação, seja contra quem for aqui na Bahia”, disse o governador.

O governo da Bahia não esclareceu se houve participação de policiais na ação.

www.brasildefato.com.br/ Murilo Pajolla/Com reportagem de Alass Derivas.

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