Queda dos juros e obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), também devem ajudar o setor da construção civil a gerar meio milhão de empregos
A retomada do programa Minha Casa, Minha Vida, neste terceiro mandato do presidente Lula (PT), já começou a dar resultados econômicos positivos, e a previsão para a criação de empregos no setor da construção civil, em 2024, é de pelo menos meio milhão, segundo o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção e da Madeira (Conticom-CUT), Claudio Gomes, o Claudinho.
No acumulado de 2023 até novembro, foram 235.975 novos empregos (+9,75% sobre dezembro de 2022). No acumulado de 12 meses até novembro, a construção gerou 158.773 novos empregos (+6,36%).
O governo federal contratou 720 mil unidades habitacionais do projeto em 2023, de acordo com o Ministério das Cidades, responsável pelo programa. A expectativa é construir 2 milhões de moradias até 2026 com um orçamento de R$ 13,7 bilhões.
As vendas de imóveis residenciais nos primeiros 10 meses do ano passado cresceram 23,5% na comparação com o mesmo período do ano anterior, em grande medida impulsionadas pelo programa federal. Em 2023, dos 126.774 empreendimentos imobiliários comercializados, 70,3% fazem parte do novo Minha Casa, Minha Vida. O dado faz parte do último levantamento do indicador Abrainc-Fipe, obtido pela Folha. Em outra frente, o índice que mede a valorização de ações do setor lidera a alta na Bolsa de São Paulo.
O presidente da Conticom acredita que esses números positivos são decorrentes da queda de juros em 2%. Em agosto estava em 13,75% e chegou a 11,75%, em dezembro. Com a expectativa da Selic atingir até o final deste ano 9% a 8%, o mercado imobiliário vai crescer ainda mais, prevê.
“A queda nos juros foi fundamental para que os empreendimentos imobiliários fiquem mais acessíveis à população. As construtoras e os investimentos ficam mais animados em comprar um imóvel e com isso cresce o emprego de toda a cadeia da construção civil, do pedreiro ao marceneiro”, diz Claudinho.
Até 2025 esperamos que o setor da construção civil gere cerca de 1,5 milhão de vagas de trabalho em toda a cadeia da construção civil
O otimismo do presidente da Conticom também é resultado da expectativa da retomada de obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), com verba de R$ 1,7 trilhão, sendo 80% do total destinado a obras de infraestrutura como a construção de aeroportos e rodovias. Para Claudinho, mais obras também vão aquecer o mercado formal do emprego no setor.
“À medida que a indústria começa a andar o mercado informal vai perdendo os informais e os salários também aumentam. Com pleno emprego o trabalhador tem mais poder de negociação. Chegamos a ter no segundo mandato do presidente Lula falta de profissionais para atender a demanda”, recorda.
Grupo de Trabalho
Apesar do otimismo em relação ao setor, o dirigente se preocupa com as condições de trabalho a serem oferecidas nas obras do PAC. Claudinho diz que é preciso maior fiscalização para impedir os atravessadores iludam os trabalhadores os levando para locais distantes, dizendo que há vagas para todos, mas a realidade é outra. Os migrantes acabam abandonados nesses locais. Outro ponto a ser observado são os conflitos entre os trabalhadores que sem meios de comunicação adequados ficam isolados longe de suas famílias.
Para evitar que situações como essas voltem a acontecer, Claudinho, representado a CUT Nacional, participou em dezembro último da primeira reunião do Grupo de Trabalho (GT), criado pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), com a missão de elaborar proposta de texto para um Pacto Nacional sobre boas práticas para o trabalho decente no setor da construção civil no Brasil.
O GT é composto por 18 membros, com representantes do próprio MTE, dos empregadores (indústria da construção e incorporadores imobiliários) e trabalhadores. Completam a Mesa dois observadores, um do Ministério Público do Trabalho (MPT) e outro da Organização Internacional do Trabalho (OIT).
Na bancada dos trabalhadores também foram empossados mais cinco dirigentes indicados por outras centrais sindicais (UGT, Força Sindical, CTB, NCST e CSB).
O grupo tem o prazo de 60 dias para concluir os trabalhos e apresentar proposta de texto do Pacto Nacional em defesa do trabalho decente na construção civil. A próxima reunião deverá ocorrer neste mês de janeiro, mas ainda não tem data marcada.
www.cut.org.br/Rosely Rocha