O que todos esquecem nem buscam saber é que os negros estão na enorme maioria dos lares, nas repartições públicas, no setor privado, em todo o planeta. Por meio das suas invenções, que tornaram possível os avanços na ciência, na tecnologia, na informática, na saúde pública, na formulação de remédios e vacinas, na agricultura
Novembro é o mês da consciência negra, período em que o debate sobre como enfrentar o racismo do ano inteiro se torna mais intenso. O governo lança projetos e programas para conter a repulsa de grande parte da sociedade em relação aos corpos pretos. O preconceito não é só dos cidadãos brancos. Ele está entranhado nas estruturas do poder público, nas empresas privadas é comum nos lares dos supremacistas brancos. Consciência negra deveria ser vivenciada todos os dias, não só em 20 de novembro.
O que todos esquecem nem buscam saber é que os negros estão na enorme maioria dos lares, nas repartições públicas, no setor privado, em todo o planeta. Por meio das suas invenções, que tornaram possível os avanços na ciência, na tecnologia, na informática, na saúde pública, na formulação de remédios e vacinas, na agricultura. Ou seja, em quase tudo que proporcionou os avanços voltados à qualidade de vida e ao aumento da longevidade humana. Invenções e descobertas feitas por negros africanos, norte-americanos, egípcios, brasileiros e de tantos outros levaram às sociedades ao que chamaram de “moderno” e de avanços que facilitaram e tornaram o cotidiano mais fácil e confortável.
Cansada de ouvir expressões e ver atitudes depreciativas em relação aos negros, acordei bem cedo para pesquisar na internet quais as contribuições dos negros para a sociedade. Em meio à pesquisa sobre invenções africanos e dos afrodescendentes, eis que recebo a mensagem da querida amiga Neusa, com a história da afro-americana Henrietta Lacks, que morreu, em 1951, aos 31 anos, no Centro John Hopkins, em Baltimore, nos Estados Unidos, devido a um câncer de útero e cervical.
Os médicos coletaram as células Henrietta e as denominaram de HeLa, usando as duas primeiras sílabas do seu nome. A coleta se deu sem autorização da família, mas, à época, não havia lei que exigisse assentimento prévio dos parentes para o procedimento. Também ficou sob sigilo o fato de Henrietta ser uma mulher negra. Chamou a atenção dos médicos e pesquisadores a rapidez com que as células HeLa se multiplicavam, o que os levaram a chamá-la de “imortal”.
Hoje, bilhões de células HeLa estão espalhadas no mundo, pela enorme contribuição que deram ao desenvolvimento da biotecnologia. Os experimentos com a HeLa permitiram a formulação de medicamentos e vacinas contra a poliomielite, HPV, medicamentos para câncer, HIV e, mais recentemente, o imunizante contra a covid-19, entre outras doenças graves. Em outubro de 2021, a Organização Mundial da Saúde (OMS), sob a direção de Tedros Adhanom Ghebreyesus, fez uma cerimônia de reparação e de reconhecimento da imensa contribuição de Henrietta, uma mulher negra, à ciência, à medicina e à humanidade, por meio das suas células, ao longo dos 71 anos da sua morte. Para Tedros, “a homenagem reconhece a importância de levar em conta as injustiças científicas do passado e promover a igualdade racial na saúde e na ciência”.
A história de Henrietta é mais um entre inúmeras que desconhecemos envolvendo negras e negros que são autores colaboradores de avanços que a humanidade vem conquistando. O desinteresse se deve ao pré conceito de que “coisa de preto” não presta ou não tem valor. Em outras palavras, uma vertente do racismo latente na sociedade.
Este pequeno espaço é insuficiente para citar tudo que os pretos e pardos ofereceram ao mundo, desde a tábua de passar roupa, máquina de lavar até os computadores. Uma das fontes foi o site Geledés, criado pela filósofa e doutora, Sueli e fundadora do Instituto Mulher Negra. Ela foi a primeira mulher negra a receber, no ano passado, o título de doutora honoris causa pela Universidade de Brasília (UnB).
Mesmo com todos os obstáculos do racismo estrutural, mulheres e homens negros enfrentaram os preconceitos e limitações das academia e do mercado de trabalho, têm deixado um gigantesco legado para a ciência e à sociedade. Ainda que desprezados e violentados em seus direitos, os negros são capazes de criar, produzir e colaborar com o coletivo.
LEGADOS NEGROS
- Alexander Miles, elevador;
- Alice Parker, fornalha de aquecimento;
- C. J. Walker, artefatos para cuidar do cabelo;
- Charles Drew, preservação estocagem de sangue, implantou o primeiro banco de sangue do mundo;
- Dr. Daniel Hale Williams, executou a primeira cirurgia aberta de coração;
- Elbert R. Robinson, bonde elétrico;
- Dr. Ernest E. Just, fertilização e a estrutura celular do ovo, a primeira visão da arquitetura humana ao explicar como trabalham as células;
- Frederick Jones, ar-condicionado;
- Garret A. Morgan, semáforo e primeira máscara contra gases;
- George T. Samon, secadora de roupas;
- John Love, apontador de lápis;
- William Purvis, caneta-tinteiro;
- George Washington Carver, métodos de cultivo que salvaram a economia do sul dos Estados Unidos na década de 1920;
- Granville T. Woods, transmissor do telefone que revolucionou a qualidade e distância que podia viajar o som;
- Jan E. Matzelinger, máquina de colocar solas nos sapatos;
- John Standard, geladeira; Joseph Gammel, sistema de supercarga para os motores de combustão interna;
- Lee Burridge, máquina de datilografia;
- Lewis Howard Latimer, filamento de dentro da lâmpada elétrica;
- Lloyd Quarteman, primeiro reator nuclear na década de 1930;
- Lloyde P. Ray, pá de lixo;
- Lydia O. Newman, escova para pentear cabelos femininos;
- McCoy, sistema de lubrificação para máquinas a vapor;
- Dra. Patricia E. Bath, dispositivo laser para cirurgia de cataratas;
- Dr. Philip Emeagwali, computador mais rápido do mundo, 3,1 bilhões de cálculos por segundo, possibilitando estudar o aquecimento global, as condições do tempo e determinar como o petróleo flui sob a terra;
- Percy L. Julian, o desenvolvimento do tratamento do mal de Alzheimer e do glaucoma;
- Philip Downing, caixa de correio;
- Raphael E. Armattoe, encontrou a cura para a doença do verme da água da Guiné com sua droga Abochi;
- Richard Spikes, inventou a mudança automática de marchas;
- Roberto E. Shurney, pneumáticos de malha de arame para o robô da Apolo XV;
- Sarah Boone, tábua de passar roupas;
- Thomas W. Stewart; esfregão para limpar o chão;
- W. A. Lovette, prensa de impressão avançada;
- John Burr, máquina de cortar grama;
- William Berry, máquinas de carimbo e cancelamento postal;
- William Hinton, primeiro manual médico sobre a sífilis.
- O pai da medicina não foi Hipócrates, mas Imotep, médico negro que viveu dois mil anos antes do médico grego.
www.brasilpopular.com/ Rosane Garcia, jornalista