Estudo confirma que o mercado interno vem sendo restringido com a perda de renda, ao contrário do que diz o presidente do BC de que há excesso de demanda no país
Apenas três das 11 ocupações que mais abriram postos de trabalho nos últimos 10 anos tiveram rendas que subiram acima da inflação. Os dados são de pesquisa realizada pelo economista Bruno Imaizumi, da consultoria LCA, a partir de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad-Contínua/IBGE), por encomenda do Globo.
Na análise da pesquisa, o baixo crescimento do país no último período e a concentração da geração de emprego na informalidade constituem o pano de fundo para esta queda brusca na renda do trabalho.
Com a economia estagnada, asfixiada pelas mais altas taxas de juros do mundo, impostas pelo Banco Central, os efeitos são perversos sobre a renda do trabalho. Não à toa explodem índices de inadimplência e endividamento das famílias, e não só, as empresas, pequenas e médias, também não conseguem pagar suas dívidas, não investem e não contratam.
Não se trata apenas de estagnação nos ganhos salariais: das 11 ocupações pesquisadas entre 2012 e 2022, seis tiveram redução no rendimento médio. Ou seja, os salários encolheram enquanto o custo de vida cresceu. O rendimento cresceu em três e em outras duas, ficou estagnado. Os valores foram atualizados pela inflação, de 81,13% no período.
“Houve uma desvalorização significativa da renda do trabalho. Até alguns profissionais de renda mais alta viram seus salários despencarem nos últimos anos”, comenta na reportagem do O Globo Lucas Assis, economista da Tendências Consultoria, ressaltando os efeitos que a inflação teve sobre as rendas.
Segundo o levantamento, até mesmo as profissões tradicionais de nível superior, como médicos e advogados, tiveram perdas: neste caso, os ganhos encolheram 13% em 10 anos. Os profissionais de engenharia viram suas rendas despencarem 37%.
Trabalhador do comércio foi a categoria com a maior geração de ocupação no período – o que, segundo o economista, está relacionado o comércio informal e o chamado “empreendedorismo” que, pela ausência de vagas formais, gerou uma legião de trabalhadores por conta própria.
Nessa categoria, o rendimento médio caiu 10,2%. Vendedores em domicílio, categoria também associada ao desemprego, perderam 17,2% da renda.
Outra profissão associada à informalidade, a de condutores de automóveis que passaram a atuar como motoristas de aplicativo, terminaram o ano passado ganhando 8,8% menos que em 2012.
Na outra ponta, as ocupações que tiveram algum incremento na renda são as de menor remuneração, como a categoria de especialistas em beleza, cuja renda média subiu 26,15%. No entanto, é uma das mais baixas em 2022: R$ 1,6 mil mensal, abaixo do rendimento médio do país de R$ 2.853.
Outra categoria que teve aumento na renda, embora mínimo, foi de trabalhadores elementares da indústria de transformação, cujo salário médio subiu quase 6%.
Para este ano, a projeção de Bruno Imaizumi é de estabilidade nos níveis de ocupação e de certo aumento no rendimento do trabalho: “Há uma migração de pessoas da informalidade para a formalidade, além de uma inflação menor, o que ajuda a elevar o rendimento médio. Também tivemos anúncio de aumento no salário mínimo e reajuste de 9% para os servidores”.
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