Desigualdade vacinal, testagem insuficiente e enfraquecimento da vigilância e da pesquisa travam o fim da pandemia
A propagação do coronavírus pelo planeta segue representando risco contínuo e a covid-19 ainda é uma doença infecciosa perigosa com capacidade de causar danos substanciais às pessoas e aos sistemas de Saúde das nações.
Frente a esse cenário, a Organização Mundial da Saúde (OMS) confirmou nesta segunda-feira (30) que mantém o status de emergência de saúde pública de interesse internacional para a pandemia.
Na lista de preocupações globais estão as fake news, a falta de acesso à vacina – principalmente em países de menor poder econômico – a diminuição na testagem e até mesmo o relaxamento de vigilância e a diminuição no número de pesquisas de sequenciamento genético.
Todos esses fatores impossibilitam qualquer certeza de que a pandemia deixará representar uma ameaça para os sistemas de saúde das nações. Os desafios estão não apenas nas infecções, mas se estendem também a longo prazo para tratamentos de sequelas e sintomas persistentes.
‘Fadiga’ após três anos
A decisão de manter a condição de emergência global para a covid-19 foi informada pelo diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, que participou de videoconferência com membros do comitê de emergências da OMS. O encontro virtual ocorreu na mesma data em que a declaração de que o planeta vive uma pandemia completou 3 anos.
No relato em texto sobre a reunião, a organização destacou preocupação com a evolução contínua do coronavírus e a diminuição expressiva da notificação de dados sobre infecções, internações e mortes por parte dos países. Sem o compartilhamento de dados não há como ter certeza sobre o real ritmo de propagação, o que prejudica as respostas.
Além disso, a entidade reconhece que a sociedade vive uma espécie de “fadiga pandêmica”. Somada à redução da percepção pública sobre os riscos do coronavírus, essa situação levou a um abandono de medidas essenciais, como o uso da máscara e o distanciamento social.
Vacinação total
Outro ponto crítico é a chamada hesitação vacinal, alimentada pela propagação de notícias falsas e teorias conspiratórias mentirosas sobre o imunizante contra a covid-19.
“A OMS está instando os países a permanecerem vigilantes e continuarem a relatar dados de vigilância e sequenciamento genômico; recomendar medidas de saúde pública e sociais com base nos riscos, vacinar as populações de maior risco para minimizar doenças graves e mortes e realizar comunicações regulares de risco, respondendo às preocupações da população e engajando as comunidades para melhorar o entendimento e a implementação de contramedidas”, diz o texto.
Ainda de acordo com as conclusões da organização, a doença pode estar se aproximando de um ponto de inflexão, mas não há dúvida de que o coronavírus continuará atingindo humanos e animais no futuro.
Por isso, é essencial que os países se empenhem em medidas de longo prazo. Mitigar os casos graves e os óbitos precisa continuar sendo a principal meta. O compromisso concentrado e articulado entras as nações é essencial para determinar o fim da condição de emergência global.
É preciso definir também mecanismos alternativos que mantenham foco permanente no controle e na prevenção da covid-19, mesmo quando ela deixar de representar uma emergência para todo o planeta.
Foram apresentadas sete recomendação à direção da OMS e aos estados membros da organização. Manter as campanhas de vacinação para atingir 100% de cobertura é a primeira delas. Os países precisam planejar a integração do imunizante contra a covid-19 ao calendário vacinal aplicado ao longo da vida.
Aumentar o acesso a testes e tratamentos também é considerado essencial, assim como incrementar a divulgação de dados sobre a propagação. Na lista está ainda a urgência de fortalecer a capacidade de resposta e de preparar os sistemas de saúde para eventuais novos surtos.
www.brasildefato.com.br/Nara Lacerda