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/ sexta-feira, novembro 22, 2024
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Independência para quem: Grito dos Excluídos questiona Bicentenário

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Em Salvador o Grito dos Excluídos será no Campo Grande a partir das 8h30.

As comemorações oficiais do Bicentenário da Independência começaram de modo curioso, com a chegada do coração de D. Pedro I. O gesto indica uma valorização da historiografia oficial e dos “heróis” que estampam monumentos pelo país. Mas, há 28 anos, um movimento se organiza para dar voz a quem não teve desde o famoso Grito do Ipiranga.

Na série de reportagens especiais sobre o Bicentenário da Independência, a Sputnik Brasil conversou com integrantes da coordenação do Grito dos Excluídos e com historiadora sobre a exclusão no processo de independência, as articulações feitas pelos movimentos sociais para a data, as celebrações oficiais que estão sendo organizadas e a conjuntura política nacional.

O Grito dos Excluídos surge nos anos 1990 como uma forma de contraponto à narrativa oficial e a celebrações do 7 de Setembro de um país que, segundo os movimentos que constroem a iniciativa, nunca se tornou totalmente independente. Esse grito começa a ecoar a partir de uma campanha da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e é mantido desde então pela CNBB e por movimentos sociais.

“Entre as motivações que levaram à escolha do dia 7 de setembro para a realização do Grito dos/as Excluídos/as está a de fazer um contraponto ao Grito da Independência. O primeiro Grito dos Excluídos/as foi realizado em 7 de setembro de 1995, tendo como lema ‘A vida em primeiro lugar’, e ecoou em 170 localidades. […] Mais do que uma articulação, o Grito é um processo, é uma manifestação popular carregada de simbolismo, que integra pessoas, grupos, entidades, igrejas e movimentos sociais comprometidos com as causas dos excluídos. Ele brota do chão, é ecumênico e vivido na prática das lutas populares por direitos”, diz documento que narra a história do Grito.
Na série de reportagens especiais sobre o Bicentenário da Independência, a Sputnik Brasil conversou com integrantes da coordenação do Grito dos Excluídos e com historiadora sobre a exclusão no processo de independência, as articulações feitas pelos movimentos sociais para a data, as celebrações oficiais que estão sendo organizadas e a conjuntura política nacional.
O mote do Grito dos Excluídos de 2022 é bem claro: “200 anos de Independência. Para quem?”. Rosilene Wansetto, ativista da rede Jubileu Sul e integrante da coordenação nacional do Grito dos Excluídos, disse à Sputnik Brasil que o objetivo é “trabalhar a ideia de que nós não somos um país totalmente independente”.

“O Grito vem há 28 anos discutindo essa soberania, essa ‘independência’ que, na verdade, não se reflete para todos. Essa independência só se reflete para parte da sociedade. As desigualdades estão aí, são visíveis. A exclusão só tem aumentado, basta olhar o número de pessoas desempregadas, subempregadas e informais, a situação das mulheres, da fome. Então, é com esse conjunto de elementos que o Grito debate e promove as mobilizações neste Bicentenário”, aponta Wansetto.

“Quando olhamos para a economia, para várias questões que envolvem o desenvolvimento, a gente vê que o Brasil gera mais dependência, gera mais violências, violências estruturais históricas, inclusive. Como é o caso do racismo, violências contra as mulheres, contra os povos indígenas, contra os povos quilombolas. [O Brasil] não fez a reforma agrária, a reforma urbana. Segue pagando uma dívida desde as colônias, uma dívida financeira e social“, diz a ativista, que ainda defende uma reforma tributária que cobre os mais ricos e critica a flexibilização das leis trabalhistas.
Manifestantes participam da 27ª edição do Grito dos Excluídos e Excluídas, em Manaus (AM), em 7 de setembro de 2021 - Sputnik Brasil, 1920, 29.08.2022
Manifestantes participam da 27ª edição do Grito dos Excluídos e Excluídas, em Manaus (AM), em 7 de setembro de 2021
Essa reflexão é feita também pela historiadora Lúcia Bastos Pereira das Neves, professora de história da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e autora de livros como “O Império do Brasil”, “Corcundas e Constitucionais: A Cultura Política da Independência (1820–1822)” e o premiado “Dicionário do Brasil Joanino”.
“Estes 200 anos nos devem fazer pensar o que significa ser independente. Na época, o Brasil ainda tinha pessoas escravizadas. É importante repensar esse passado para entender melhor o presente. Já demos o nosso grito de independência?”, disse Pereira das Neves à Sputnik Brasil.
Para a professora da UERJ, o Bicentenário pode ser um momento para se repensar a história política brasileira e entender a formação dos latifúndios e os casos de escravidão moderna.
“São marcas que permaneceram e que ainda envolvem a nossa sociedade. É um momento de não apenas comemorar a independência, mas ter um olhar crítico”, destacou. “Como escravizados participaram desse processo. Será que a independência deles é a mesma que a dos brancos?”, questionou.
https://sputniknewsbrasil.com.br/20220829/independencia-para-quem-grito-dos-excluidos-questiona-bicentenario-24428956.html
www.gritodosexcluidos.com

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