Em mais uma afronta ao setor produtivo e aos consumidores, governo eleva juro ao maior patamar desde 2016. Não derruba a inflação e afunda ainda mais a economia
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) elevou nesta quarta-feira (3) em 0,50 ponto percentual a taxa básica de juros (Selic), que passou de 13,25% para 13,75% ao ano. Desde março de 2021, quando a taxa estava em 2%, foram 12 altas consecutivas a pretexto de conter a inflação. Nos últimos doze meses ate junho, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) acumula alta de 11,89% e acelerou em relação a maio quando estava em 11,7%.
Com o novo aumento, a taxa Selic atingiu o maior patamar em seis anos, desde novembro de 2016 (14%), penalizando a combalida economia brasileira. Mais uma paulada no setor produtivo, arrochando o investimentos, e nos consumidores, com o avanço da carestia viram a renda desabar.
Ao elevar ainda mais os juros, o BC propõe derreter ainda mais o poder de compra da população e elevar o endividamento das empresas e das famílias. São mais de 60 milhões de brasileiros endividados. Além disso, afasta os investimentos privados, que já são escassos no país por consequência da estagnação econômica com níveis elevados de desemprego, inflação em dois dígitos e baixo nível de investimento público, somado ao clima de ódio, discórdia e ataques à democracia e ao sistema eleitoral promovidos por Bolsonaro.
Com os sucessivos aumentos, o governo Bolsonaro retirou recursos públicos do povo e transferiu a bancos e demais rentistas, a títulos de juros da dívida pública, a soma de R$ 500,5 bilhões no acumulado em doze meses até maio, segundo dados da “Estatísticas Fiscais” do BC.
“Os juros nominais do setor público consolidado, apropriados por competência, somaram R$ 33,0 bilhões em maio de 2022, comparados a R$21,9 bilhões em maio de 2021. Essa evolução decorreu, em especial, do aumento da taxa Selic no período […]. No acumulado em doze meses até maio, os juros nominais somam R$ 500,5 bilhões (5,51% do PIB), comparativamente a R$ 295,6 bilhões (3,70% do PIB) nos doze meses até maio de 2021”, disse o BC em nota.
Com a economia estagnada, estão 33 milhões de brasileiros na fome, 39 milhões no trabalho precário, sem carteira assinada.
Para a Confederação Nacional da Indústria, “o novo aumento da taxa de juros é dispensável para o combate da inflação e trará custos adicionais desnecessários para a atividade econômica, com reflexos negativos sobre consumo, produção e emprego”.
Na esteira dos juros altos, a produção industrial já acumula queda de 2,2%, no primeiro semestre do ano, tendo resultados negativos no período em todas as quatro grandes categorias econômicas (Bens de Capital (-0,9), Bens Intermediários (-2,1%), Bens de Consumo Duráveis (-11,7%) e Bens Semiduráveis e não Duráveis (-1,0%), além de 18 dos 26 ramos, 55 dos 79 grupos e 62,6% dos 805 produtos pesquisados.
O setor industrial encontra-se 1,5% abaixo do patamar pré-pandemia (fevereiro de 2020) e 18,0% abaixo do nível recorde alcançado em maio de 2011.
No segundo trimestre deste ano, ao longo das últimas cinco Sondagens Industriais da Confederação Nacional da Indústria (CNI), a preocupação do setor com as elevadas taxas de juros do Banco Central aumentou, o acesso ao crédito piorou, impedindo os investimentos das empresas.
“O acesso ao crédito apresentou piora no trimestre, passando de 42,0 pontos para 41,1 pontos. O índice revela que as empresas ainda encontram dificuldade em obter crédito. Essa percepção ocorre em função do atual contexto, em que há sucessivos aumentos das taxas de juros, que contribuem para piorar as condições de acesso ao crédito para os empresários industriais”, assinalou a CNI.
Uma pesquisa realizada pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), com 317 indústrias de transformação, também aponta que os juros elevados impossibilitam ou dificultam o acesso ao crédito pelas empresas. Mais de 70% das grandes empresas e 50% das micro, pequenas e médias empresas entrevistadas consideraram a taxa de juros praticada em 2022 muito pior do que aquela aplicada em 2021.
Nos primeiros cinco meses deste ano, as vendas reais do comércio varejista ampliado, que inclui veículos, autopeças e material de construção, acumularam um crescimento anêmico de 1,0% e de 0,3% em 12 meses. Para o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), a perda de dinamismo da indústria e comércio ao longo deste ano são reflexos dos juros elevados e da inflação em patamares altos.
“A inflação tem prejudicado o poder de compra, sobretudo, das famílias de menor renda, cuja cesta de consumo é formada basicamente por bens, e o aumento recente das taxas de juros atinge em cheio os mercados de bens duráveis e alguns semiduráveis, cujos mercados dependem mais do crédito”, avalia o Iedi. “Sinais disso: praticamente todos os ramos do varejo de bens de consumo duráveis amargaram retração na passagem de abr/22 para mai/22 e embora as vendas de supermercados, alimentos, bebidas e fumo tenham crescido em mai/22 apenas compensaram o recuo do mês anterior, de modo que o segmento está estagnado nos últimos três meses”, ressaltou o instituto.
Serviços foi o único setor que perseverou na passagem de janeiro a maio, com alta de 9% no período, puxado pela demanda que foi reprimida pela pandemia de Covid-19. No entanto, o setor já começou a sentir no mês de maio (com variação de 0,9% frente abril) os impactos dos juros altos e da inflação.
Com os demais resultados anêmicos da indústria (0,3%) e do comércio (0,1%) no mês, o Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) do Banco Central, considerado uma “prévia” do resultado do PIB, apontou que o nível de atividade econômica do Brasil caiu 0,11% em maio deste ano na comparação com o mês anterior.
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