Crise dos semicondutores afeta 2.500 trabalhadores em São Bernardo; sindicato critica política do Governo para o setor
A Volkswagen do Brasil (Volks) informou ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC que colocará 2.500 trabalhadores da fábrica de São Bernardo do Campo em férias coletivas por 20 dias, a partir da próxima segunda-feira (9). O motivo, mais uma vez, é a falta de componentes. O problema vem atingindo o setor automobilístico desde o ano passado.
“Não foi diferente do que está acontecendo em outras fábricas do país. Tem demanda de produção. Porém, com a escassez de peças, a fábrica não consegue atender o consumidor final. Estamos na expectativa da retomada o mais breve possível”, afirma o coordenador-geral da representação dos trabalhadores na Volks, José Roberto Nogueira da Silva. Segundo ele, além dos semicondutores, outros componentes e peças começaram a faltar.
Política industrial
Silva lembra que o problema atinge toda a cadeia produtiva, mas principalmente os terceirizados. “Temos feito um trabalho para proteger os companheiros de fábricas terceiras dentro da Volks. Mas outros fornecedores da montadora já pararam ou estão parando. Isso mostra que há uma desestruturação, pois não há nenhuma medida por parte do governo pensando nisso. O governo em nenhum momento está se manifestando sobre as paralisações e o que está acontecendo com os trabalhadores”, critica. “A falta de política industrial e a falta de desenvolvimento do país têm causado a desestruturação da cadeia produtiva. Hoje, faltam insumos básicos que eram produzidos no Brasil.”
Ele destacou ainda o acordo entre o sindicato e a montadora, que ajuda a manter empregos. “Estamos usando todas as ferramentas de flexibilidade possíveis. Nosso acordo de longo prazo garante que os trabalhadores passem por esses momentos com mais tranquilidade.” Segundo a entidade, a fábrica da Volks no ABC tem 8.200 funcionários, sendo 4.500 na produção. A produção está em torno de 800 veículos por dia.
Trabalhador na Volks, o diretor administrativo do sindicato, Wellington Messias Damasceno, também critica o governo. “Essa crise não acontece só no Brasil, mas a falta de políticas públicas voltadas para a indústria e de discussões sobre desenvolvimento, pesquisa e inovação levam a momento como esses em que somos reféns da importação”, afirma.
Demissões na Tectoy
Em Cotia, na Grande São Paulo, a Tectoy anunciou ontem (2) a demissão de mais de 200 trabalhadores, segundo o Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco e região. O motivo alegado também é a falta de componentes. O sindicato informou que não foi procurado pela empresa para tentar uma negociação e acionou o Ministério do Trabalho.
“Recebemos pelos trabalhadores da Tectoy, com muita tristeza, a informação das demissões. Lamentamos a falta de diálogo da empresa com o sindicato para que pudéssemos encontrar saídas para evitar essas demissões”, afirmou o diretor da entidade Alex da Força, coordenador regional. “São mais de 200 famílias afetadas, tristes e sofrendo com o desemprego. É uma tragédia social.” Parte dos demitidos tem direito a estabilidade – integrantes da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA), gestantes e trabalhadores afastados por problemas de saúde.
www.brasildefato.com.br