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/ sexta-feira, novembro 22, 2024
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Não basta que os intelectuais e a imprensa não sejam racistas: eles devem ser antirracistas

Antropólogo que advogou tese do "racismo reverso" na Folha de S.Paulo foi duramente criticado, bem como o jornal que a publicou - Foto: Carl de Souza/AFP
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A retórica do negacionismo – seja do clima, da vacina, do holocausto ou da escravidão – não se sustenta à luz dos fatos

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Estima-se que 5 milhões de africanos tenham sido trazidos à força ao Brasil no decorrer de mais de três séculos de escravatura. Outros quase 700 mil morreram em função das condições desumanas dos navios negreiros, concordam pesquisadores.

Escravizados, formaram a base de uma economia que enriqueceu elites agrárias subordinadas às metrópoles. Embora o Brasil tenha sido o país do continente americano a receber o maior número de negras e negros, não foi o único transformado pela escravidão.

O comércio desses humanos – a quem foi negada a humanidade – constituiu uma fonte de acumulação de riquezas sem a qual o capitalismo, como o conhecemos hoje, não seria possível.

Por isso, estudiosos do tema defendem que o racismo é um elemento estrutural da sociedade contemporânea. Formalmente, a escravidão acabou. Mas suas chagas continuam abertas.

Essa história brutal de violação dos direitos humanos, comprovada por pesquisadores com o rigor do método científico, está ausente do artigo do antropólogo baiano Antônio Risério veiculado na Folha de S.Paulo no sábado (17).

Ao tentar fundamentar sua ideia, o intelectual elencou exemplos pontuais de episódios supostamente autoritários protagonizados por negras e negros, concentrando a análise na história estadunidense.

Personalidades ligadas à causa da diversidade inundaram as redes sociais de críticas à tese de que existe “racismo reverso”.

Militantes, jornalistas, blogueiros e acadêmicos denunciaram a tentativa do antropólogo de esconder o passado colonial brasileiro embaixo do tapete – e a cumplicidade do jornal que o publicou.

Mas a retórica do negacionismo – seja do clima, da vacina, do holocausto, do racismo ou qualquer outra – não se sustenta à luz dos fatos.

É preciso ser antirracista

A luta de negras e negros começou a tomar forma nos quilombos, locais de refúgio, que surgiram a partir de 1575 e continuaram existindo mesmo após a abolição da escravatura.

Mas o protagonismo em episódios marcantes da história do Brasil, como revoltas e levantes populares, contrasta com um cenário de segregação que perdura.

Pretos e pardos ainda têm salários mais baixos, são maioria entre as vítimas de ações fatais da polícia e minoria em cargos de liderança.

Entre os 10% brasileiros mais pobres, 75% são negros. 47% dos pretos e pardos exercem trabalho informal, contra 34% dos brancos.

Já entre os encarcerados, o percentual de negros saltou de 58% e, 2005 para 66% em 2019. Todos os dados são do IBGE.

No Brasil, homens brancos do 1% mais rico têm mais renda que todas as mulheres negras do país, segundo pesquisadores da USP.

A criminalização do racismo só ocorreu em 1988, após o Plenário da Constituinte aprovar a emenda do deputado federal Carlos Alberto Caó de Oliveira, um homem negro, que definiu o racismo como crime inafiançável e imprescritível.

As cotas raciais promoveram a inclusão da população negra no ensino superior. Em 1999, a cada 100 estudantes das universidades brasileiras, 15 eram negros. Em 2019, eram 46 negros a cada 100, de acordo com dados do Ministério da Educação.

Sob governo de Jair Bolsonaro (PL), que já foi condenado por declarações racistas e acusado de genocídio da população preta, o movimento negro brasileiro se organizou ainda mais e ampliou sua influência política e social, enfrentando o racismo estrutural, ocupando as ruas e levantando suas bandeiras.

À imprensa e aos intelectuais caberia seguir ao menos a mais importante delas, o antirracismo: ações conscientes e um posicionamento explícito pela garantia de igualdade de oportunidades para todas as pessoas.

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