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/ sábado, novembro 23, 2024
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Retrospectiva 2021: CPI da Pandemia, terceira onda, corrida eleitoral e Jogos Olímpicos

Mural em São Paulo (SP) critica condução de Jair Bolsonaro na gestão da pandemia da covid-19; - Nelson Almeida / AFP
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Ano foi marcado por início da vacinação e escândalos revelados pela CPI da Covid

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O ano de 2021 foi marcado pelo início da vacinação no Brasil e os escândalos revelados pela CPI da Covid sobre os esquemas de corrupção envolvendo a compra de imunizantes contra a covid-19.

Mas não foi só isso. Os brasileiros e brasileiras também viram o poder de compra diminuir diante do aumento da inflação e dos preços dos combustíveis. Viram também o desemprego aumentar, a fome bater à porta e políticas de emergência, como o auxílio emergencial, reduzirem.

Na política brasileira, os parlamentares aprovaram pautas importantes para o governo federal, como a PEC dos Precatórios. No STF, ganhou destaque o Marco Temporal e as decisões sobre o “Orçamento Secreto”.

Confira esse e outros destaques selecionados pelo Brasil de Fato para a retrospectiva de 2021:

CPI da Pandemia, vacinação e terceira onda 

Dois eventos deram a tônica do ano de 2021: a vacinação contra a covid-19 e a terceira onda da doença. Em 17 de janeiro, a enfermeira do hospital Emílio Ribas, Mônica Calazans foi a primeira brasileira a ser imunizada com a vacina CoronaVac.

Monica Calazans, enfermeira do hospital Emílio Ribas, em São Paulo foi a primeira cidadã brasileira vacinada contra a covid-19 / Nelson Almeida (AFP)

De lá para cá, a imunização, entretanto, caminhou a passos lentos até chegar a 1º de dezembro com 63% da população com o primeiro ciclo vacinal completo. Foram recorrentes as notícias de suspensão da vacinação em municípios do país devido à falta de doses. Contribuíram para esse cenário as seguidas decisões do governo federal em adiar a aquisição de vacinas ao longo de 2020.

À CPI da Covid, o ex-diretor da Pfizer no Brasil, Carlos Murillo, reiterou o desinteresse do governo de Jair Bolsonaro (PL) em adquirir a vacina da empresa estadunidense, produzida em parceria com o laboratório alemão BioNtech.

Murillo informou que a primeira reunião realizada com o governo brasileiro sobre aquisição de vacinas ocorreu ainda em maio de 2020. Três meses depois, somente em agosto, o Brasil ignorou três ofertas de imunizantes, o que levou o país a deixar de aplicar 4,5 milhões de doses de dezembro de 2020 até o fim de março de 2021.

Na mesma linha, o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, informou à comissão que, da mesma maneira que o governo federal recusou sete ofertas de imunizantes da Pfizer, o Executivo paralisou as negociações estabelecidas pelo Ministério da Saúde com o Butantan, a partir da terceira oferta da vacina CoronaVac, fabricada junto com o laboratório chinês Sinovac.

No dia 7 de outubro, o Butantan ofertou 100 milhões de doses, sendo 45 produzidas até dezembro de 2020, 15 milhões até fevereiro de 2021 e 40 milhões até maio.

O comportamento do governo federal nas negociações “causou uma frustração da nossa parte”, afirmou Dimas Covas à CPI / Edilson Rodrigues/Agência Senado

O negacionismo da gestão federal já era de conhecimento público desde o início da pandemia no país, quando o capitão reformado classificou a doença como uma “gripezinha”. Ao longo da CPI, ganhou os contornos de um projeto de imunidade de rebanho, baseado em tratamento precoce e posturas contrárias ao distanciamento social e uso de máscara de proteção facial.

Além da ineficiência comprovada pelas frágeis negociações de imunizantes, o projeto ficou cada vez mais notório com o escândalo da Prevent Senior desvendado pela CPI. A empresa é responsável por produzir um estudo observacional da aplicação de remédios do tratamento precoce em 636 pacientes. A pesquisa foi utilizada pelo Ministério da Saúde, que incorporou os relatórios da empresa em seus próprios protocolos.

Os primeiros resultados da pesquisa foram divulgados pela Prevent Senior em 15 de abril de 2020. Três dias depois, em sua conta pessoal no Twitter, Bolsonaro divulgou o estudo feito pelo plano de saúde.

“De um grupo de 636 pacientes acompanhados pelos médicos, 224 não fizeram uso da hidroxicloroquina. Destes, 12 foram hospitalizados e 5 faleceram. Já dos 412 que optaram pelo medicamento, somente 8 foram internados e, além de não serem intubados, o número de óbitos foi zero. O estudo completo será publicado em breve”, disse o presidente.

Parte deste comportamento também ficou marcado após o sistema de saúde de Manaus, capital do Amazonas, colapsar três dias antes do início da vacinação no país. O colapso levou pelo menos 30 pessoas a óbito por asfixia, devido à escassez de cilindros de oxigênio nos hospitais, em meio ao aumento expressivo de casos e óbitos por covid-19. Dados da Prefeitura de Manaus indicam que em 24 horas foi usada a quantidade de gás normalmente consumida em 10 dias.

Em Manaus, famílias saíram em busca de cilindros de oxigênio pelo município para parentes internados com covid-19 / Michel Dantas/ AFP

Cerca de duas semanas antes, bolsonaristas comemoraram nas redes sociais o fim do lockdown no município entre o Natal e o Ano Novo de 2020. A deputada federal Bia Kicis (PSL-DF) publicou, no dia 27 de dezembro daquele ano, que “a pressão do povo funcionou também em Manaus. O governador do Amazonas voltou atrás em seu decreto de lockdown. Parabéns, povo amazonense, vocês fizeram valer seu poder!”.

Em meio aos atrasos na vacinação e à promoção da imunidade de rebanho, o Brasil atingiu picos até então desconhecidos de óbitos e infecções. No dia 8 de abril, o país bateu recorde de mortes diárias após registrar 4.249 óbitos, em meio a uma média móvel de 3.829 mortes, segundo o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass). Foram os maiores picos da pandemia no Brasil até o momento.

Auxílio Emergencial, fim do Bolsa Família e inflação 

Em março, o governo diminuiu de R$ 600 para uma média de R$ 250, a depender da composição, o valor do auxílio emergencial, em meio ao recrudescimento da pandemia, da inflação e do desemprego. Entre janeiro e junho, o desemprego bateu recorde, com 14,7% da população economicamente ativa sem ocupação. Foi o maior índice registrado desde 2012 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A inflação também bateu recorde. Em novembro, o Índice de Preços ao Consumidor (IPCA) acumulou uma alta de 10,74% contando os 12 meses anteriores. É o maior registro desde novembro de 2003, quando a inflação bateu 11,02%. A alta foi puxada, principalmente, pelo aumento nos preços dos combustíveis. Nos últimos meses, a gasolina acumulou uma alta de 50,78%; o etanol, de 69,40%; e o diesel, de 49,56%.

Em um ano, o “prato feito” subiu praticamente o triplo da inflação, segundo um levantamento feito por Matheus Peçanha, pesquisador e economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV IBRE): 22,57% no acumulado de 12 meses diante de 8,75% do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) no mesmo período.

Nesta conta, entre os que tiveram uma alta no preço, estão arroz (37,5%), tomate (37,24%), carne bovina (32,69%), frango inteiro (22,73%), feijão preto (18,46%), ovos (13,5%) e alface (9,74%).

Nas ruas, a imagem da crise econômica foram pessoas em situação de vulnerabilidade social em torno de um caminhão com restos de carne e ossos, na zona sul do Rio de Janeiro. Outra imagem que viralizou foram a de moradores de Fortaleza procurando comida em um caminhão de lixo.

Maria de Lourdes, moradora do bairro Vicente Pizon, uma das mulheres que aparecem no vídeo catando alimentos no carro do lixo diz que “essa é uma situação corriqueira aqui”. / Foto: Reprodução

Foi em meio a esse cenário que o governo federal acabou com o Bolsa Família e instituiu o Auxílio Brasil, juntando o benefício de 18 anos ao auxílio emergencial.

Para os beneficiários do primeiro programa, foi feito um reajuste de 20% sobre o valor médio pago às famílias. Já para os trabalhadores inscritos no CadÚnico e que estão inseridos nas faixas de pobreza e pobreza extrema, passou a ser pago um benefício mínimo de R$ 400. A mudança, entretanto, reduziu o valor do benefício para 5,4 milhões de brasileiros.

Corrupção no governo 

Em 2021, o Brasil foi o país da América Latina que mais caiu de posição em um ranking que mede a capacidade de combater a corrupção, feito pela entidade empresarial americana Americas Society/Council of the Americas (AS/COA) e pela consultoria britânica Control Risks.

O relatório citou o “desmantelamento da operação Lava Jato em fevereiro deste ano” e a nomeação de “pessoas percebidas como menos independentes para o comando da Polícia Federal e do Ministério Público Federal” como fatores para a posição do país.

Sergio Moro durante coletiva de imprensa em que anunciou a sua saída do governo Bolsonaro / Evaristo Sá/AFP

Em abril, o ex-juiz Sergio Moro deixou o Ministério da Justiça acusando o presidente Bolsonaro de interferência na Polícia Federal. “O presidente me falou que tinha preocupações com inquéritos no Supremo, e que a troca seria oportuna por esse motivo, o que gera uma grande preocupação.” Moro se referia à exoneração do diretor da Polícia Federal, Maurício Valeixo. Bolsonaro queria algum “contato pessoal dele [na PF] para poder ligar e colher relatórios de inteligência“.

Cúpula do Clima e Assembleia Geral da ONU  

Em abril, o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro (sem partido), discursou para a Cúpula de Líderes sobre o Clima, convocada por Joe Biden, presidente dos Estados Unidos, tentando afastar do país o título de pária ambiental, por meio de mentiras sobre a sua gestão acerca do meio ambiente. O capitão reformado afirmou que o Brasil é “voz ativa” na construção da agenda ambiental e elogiou a “revolução verde”, que, através de ciência e inovação, teria tornado nossa agricultura sustentável.

Bolsonaro também se manteve distante da realidade do próprio país ao afirmar que tem implementado renovados investimentos em energias sustentáveis e duplicado os recursos destinados às ações de fiscalizações. O presidente também disse que o Brasil está na vanguarda do combate ao aquecimento global.

Dentro das salas da Cúpula, Bolsonaro apareceu isolado por diversas vezes, conforme o relato de jornalistas que acompanharam a viagem do presidente / Evaristo Sá/AFP

Cinco meses depois, na 76ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas, em setembro, Bolsonaro voltou a mentir diante de líderes mundiais afirmando que “os recursos para fiscalização, nos órgãos ambientais, foram dobrados” e que “os resultados já começam a aparecer”.

O corte no orçamento total do Ministério do Meio Ambiente para 2021 foi de 35,4%. No Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que cuida de 9,3% do território nacional e 20% das águas brasileiras, teve um corte de R$ 7 milhões.

Meio Ambiente, Amazônia e Garimpo 

Nesse cenário, o desmatamento na Amazônia bateu recorde neste ano. Abril de 2021 foi o pior mês registrado desde 2015, quando iniciou a série histórica do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe). Somente neste mês, foi desmatada uma área de 580,55 km², o equivalente a 58 mil campos de futebol. Em relação ao mesmo mês no anterior, os números representaram um aumento de 42%.

Em junho, outro recorde para o mês. O desmatamento atingiu uma área de 1.061,9 km², o pior desde o início da série. Em outubro, mais um recorde:  877 km², o maior nível de desmatamento registrado para o mês desde 2016.

A área destruída equivale a mais da metade da superfície do município de São Paulo. Os primeiros seis meses de 2021 registraram, ao todo, uma área desmatada de 3.609,6 km². O número representou um aumento de 17% em relação ao primeiro semestre do ano passado.

Em meio a recordes sucessivos e denúncias de favorecimento a madeireiros, o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles foi exonerado em junho. Salles foi um dos alvos da operação da Polícia Federal Akuanduba, que apura a suspeita de facilitação à exportação ilegal de madeira do Brasil para os Estados Unidos e Europa.

Também foi destaque o avanço de garimpeiros sobre a região amazônica do país. A mineração desmatou 102,42 km² na Amazônia entre 1º de janeiro e 13 de agosto, o que equivale a 10,2 mil campos de futebol, segundo o Inpe. A área foi a maior devastada para o período já registrada pelo órgão.

Centenas de balsas e dragas bloqueiam trecho do Rio Madeira (AM) para garimpo ilegal / Bruno Kelly / Greenpeace

Recentemente ganhou as páginas dos jornais a corrida pelo ouro no Rio Madeira, depois que a ONG Greenpeace publicou fotos de balsas de garimpo de ouro no interior do Amazonas. A “invasão” no rio ocorre devido a uma conjunção de fatores, como a valorização do preço do ouro e a queda da fiscalização ambiental.

Principais pautas no Congresso Nacional e no STF 

Um dos assuntos em tramitação no Supremo Tribunal Federal (STF) que ganhou destaque expressivo nos noticiários neste ano foi a votação acerca do Marco Temporal. O assunto entrou em pauta na Corte no começo do segundo semestre do ano, mas segue sem desfecho. Em agosto, no início da votação, cerca de 5 mil indígenas de 117 povos acamparam em Brasília contra o Marco Temporal.

Outra pauta importante foi a votação do “Orçamento Secreto”, em novembro. O plenário manteve a decisão da ministra Rosa Weber de suspender as emendas do relator. A ferramenta, criada em 2019, questionada em ações não só no STF como no Tribunal de Contas da União, devido à falta de transparência para quem e onde são destinadas as emendas.

No início de maio, o jornal Estado de S. Paulo revelou que o governo disponibilizou, mesmo sem discriminação na Lei Orçamentária, R$ 3 bilhões para deputados e senadores destinarem a ações em suas bases, por meio das emendas do relator.

PT, PSB, MDB, PDT, Podemos, Novo, PCdoB, Psol, Cidadania e Minoria votaram contra PEC dos Precatórios / Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados

No Congresso Nacional, foi aprovada a Proposta de Emenda Constitucional 23/21, conhecida como PEC dos Precatórios. O texto, que foi promulgado em dezembro, deu ao governo federal um passe fiscal de R$ 106 bilhões para bancar os R$ 400 mensais aos beneficiários do Auxílio Brasil.

Também no Congresso foi aprovada a lei que viabiliza a privatização da Eletrobras. O texto que passou no Senado em julho deste ano aprova um modelo de desestatização a partir da emissão de novas ações da Eletrobras no mercado financeiro. Com isso, a União irá perder o controle acionário de voto que tem atualmente.

Manifestações Anti-Bolsonaro e a corrida eleitoral 

O ano também foi marcado por diversas manifestações contra o presidente Jair Bolsonaro, principalmente no segundo semestre deste ano, quando os números de óbitos e casos de covid-19 começaram a diminuir. Além de setores da esquerda, figuras e movimentos que apoiaram o capitão reformado nas eleições de 2018 também se manifestaram contra o presidente, como Movimento Brasil Livre (MBL) e o Vem Pra Rua.

#ForaBolsonaroRacista: atos levaram milhares de pessoas às ruas do Brasil / ©Elineudo Meira @fotografia.75

As manifestações ganharam força com as denúncias de suspeita de corrupção envolvendo integrantes do Ministério da Saúde e próximas à cúpula do governo federal, como o deputado Ricardo Barros (PP-PR), reveladas no âmbito da CPI da Covid.

Na sequência das manifestações começou a corrida eleitoral. Nas pesquisas de intenção de voto, o ex-presidente Lula (PT) apareceu como vitorioso em relação aos outros candidatos, na maioria dos cenários. Atrás, seguem o presidente Jair Bolsonaro, Sergio Moro e outros nomes, como João Doria, Simone Tebet, Ciro Gomes, Felipe D’Ávila, Rodrigo Pacheco e Alessandro Vieira.

Jogos Olímpicos 

Outro evento que ocupou as redes sociais e os noticiários foram as Olimpíadas de Tóquio, no Japão. Depois de ser adiado devido à pandemia de covid-19 e em meio a protestos contra da população japonesa, os jogos foram realizados entre julho e agosto.

O Brasil, no quadro geral de resultados, bateu algumas marcas: recordes de medalhas conquistadas (21), maior número de ouros em uma edição (7), pódios em 13 modalidades e o 12° lugar no ranking de medalhas (7 ouros, 6 pratas e 8 bronzes).

Rebeca faz histórica ao conquistar o primeiro ouro olímpico da ginástica brasileira feminina / Loic VENANCE / AFP

A ginasta brasileira Rebeca Andrade, de 22 anos, consagrou o seu nome na história ao conquistar a medalha de ouro na disputa de salto nos jogos. É a primeira de ouro que a ginástica feminina do Brasil recebe em Jogos Olímpicos, e a segunda medalha que a ginasta recebeu na edição.

www.brasildefato.com.br / Caroline Oliveira

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